No início de fevereiro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou a Campanha da Fraternidade 2008. O tema é “Fraternidade e defesa da vida”.

Por trás de palavras aparentemente vazias, está escondida a campanha contra a legalização do aborto, a eutanásia, a reprodução assistida e as pesquisas com células-tronco. A Igreja resolveu fazer, em pleno século 21, uma campanha obscurantista contra o avanço da ciência e os direitos das mulheres. Na prática, contra a vida.

O centro da campanha, porém, é a questão do aborto. Sua apresentação composta por 54 slides dedica um capítulo inteiro ao tema.

A Igreja não poupa recursos. Numa inserção de TV, aparecem famílias alegres. Numa cena, dois jovens com síndrome de down sugerem que, mesmo com deficiências, as pessoas podem ser felizes e, por isso, o aborto não pode ser realizado em nenhuma circunstância. Essa cena, em particular, visa combater a lei existente de aborto legal em casos de ausência do cérebro no feto, que nada tem a ver com isso!
A Igreja tem razão em se preocupar. Em 2007, a luta pela legalização começou a ganhar fôlego. Apesar de não ter tirado do papel a lei que legaliza o aborto, o governo foi obrigado a debatê-lo.

A visita do papa Bento 16 ao Brasil também não foi o sucesso esperado. Em suas declarações reacionárias, ele defendeu a abstinência sexual e a excomunhão de políticos a favor de leis pró-aborto.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, chegou a assumir algumas posições em defesa de projetos de legalização sem nunca ter investido um centavo nisso. Com o lançamento da campanha, o governo deixou explícito que não entrará em choque com a Igreja. Um representante de Lula no lançamento disse que o aborto não era assunto do governo. O teólogo petista Gilberto Carvalho disse que “quanto mais informação, mais educação, melhor. É por isso que o governo apóia abertamente essa campanha”.

O absurdo no governo não tem limites. Para evitar que mulheres estupradas façam aborto – o que é legal e uma das poucas conquistas das brasileiras –, o governo debate a criação de uma “bolsa-estupro”. Caso o projeto seja aprovado, cada mulher violentada que tiver o filho receberá, durante 18 anos, um salário mínimo mensal. Além de ser vítima de um crime hediondo, a mulher é condenada a criar um filho indesejado.

E saúde pública, moradia, saneamento? E salários decentes? É impossível legalizar o aborto se não houver investimento e políticas de orientação sexual e distribuição gratuita de contraceptivos.

Para as mulheres trabalhadoras e pobres, essa campanha é uma ofensa. Falar em defender a vida é hipocrisia quando milhões não têm acesso ao mínimo para viver decentemente e criar seus filhos.

A campanha é um exemplo de que Estado e Igreja andam de mãos dadas no capitalismo. O que importa são os projetos da burguesia, da exploração e da opressão.
Mais do que nunca, é necessária a união das mulheres e da classe trabalhadora para ir contra essa campanha. Defender a legalização do aborto é defender a vida e o direito das mulheres de decidirem sobre o próprio corpo.

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