A reunião da direção da Campanha Nacional Contra a Alca, realizada em Brasília no último dia 2, foi atravessada pela polêmica ao redor da assinatura da “Carta aos Brasileiros”, que defende o governo Lula. Um setor da direção, sem passar por nenhuma reunião, assinou a Carta em nome do conjunto do movimento, em uma manobra burocrática, que compromete as relações entre as organizações que compõem a campanha.

Antes da reunião, diversos setores se rebelaram contra a manobra. A coordenação estadual do Rio de Janeiro votou uma resolução criticando a manobra e exigindo a retirada da assinatura, reivindicação também assumida pelos companheiros do Fórum Social Mineiro.

Durante a reunião, ao contrário do que se entende pela assinatura da Carta, a maioria dos presentes criticou o governo e a tese do “golpe de direita” assumida pelo documento. Somente os representantes da CUT, do MST e de um setor ligado à Igreja defenderam a Carta.

Diante da reivindicação dos companheiros do Rio de Janeiro e Minas Gerais e do PSTU para a retirada da assinatura, os seus defensores fizeram outra manobra: argumentaram que na campanha não se vota nada e que, portanto, não se poderia votar ali pela retirada da assinatura. E assim foi feito.

O episódio colocou um problema real da campanha. O auge da campanha contra a Alca deu-se em 2002, ainda contra o governo FHC. Depois da posse de Lula, entretanto, a direção do MST e de um setor da Igreja frearam as mobilizações na expectativa de que Lula barrasse a Alca. Hoje, mesmo com a retomada das negociações pelo governo, esse setor passou para a defesa aberta do governo, assinando a “Carta aos Brasileiros”, e assim comprometendo a própria campanha. Esta discussão deverá ser feita no conjunto da base da campanha, nessas assembléias populares. Manobras burocráticas que servem para comprometer a campanha devem ser repudiadas com toda a veemência.

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