Haitiana percorre ruas de Porto Príncipe, em foto tirada nesse dia 17 de agosto

Andar por aqui é duro e estranho. Morreram nessas ruas 250 mil pessoas. A cidade segue destruída. Todas as praças se transformaram em acampamentos.A ajuda internacional foi um fracasso, só chegou 2% do dinheiro prometido. Quase não existem sinais de reconstrução no Haiti. Nem hospitais, nem escolas. Nem mesmo a retirada dos destroços, que transformam Porto Príncipe em uma cidade fantasma.

O “quase” tem a ver com a única reação rápida que houve. Em pouco mais de uma semana já estavam funcionando de novo as fábricas, mesmo com as paredes ameaçadas. Afinal de contas, as multinacionais têm de faturar.

Depois de sete meses, os haitianos aprenderam a conviver com a tragédia. Mais uma. É como um mutilado que se acostuma a viver sem as pernas.
As pessoas, ao passar, já não olham mais para as casas destruídas. Os acampamentos viraram favelas.

Inclusive em Champ de Mars, a grande praça onde ficava o palácio presidencial. Hoje, junto aos destroços do prédio, vivem ali trinta mil pessoas.

Os haitianos se dedicam à difícil tarefa de sobreviver, com 80% de desempregados. Com o fracasso da “ajuda”, a ocupação estrangeira mostrou que de humanitária não tem nada. Uma nova catástrofe se aproxima. Em outubro, começa a época de furacões no Caribe. Já existe previsão de três atingindo o Haiti. Os acampamentos vão literalmente voar pelos ares. A tragédia haitiana segue gritando ao mundo a céu aberto, agora sem os microfones da mídia. Saíram os jornalistas. Acabaram as manchetes sobre o terremoto. Ficaram os soldados. A Minustah, a tropa de ocupação estrangeira dirigida pelos soldados brasileiros, é odiada. Nos muros da cidade leio “Aba Ministah”, ou “Abaixo a Minustah”.