Numa sessão marcada por piadas e ironias dos deputados, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou seis propostas de emendas constitucionais que proíbem a prática do nepotismo. A sessão, nesta quarta-feira, 13, contou com a participação de 36 deputados, mas outros 30 passaram por lá. Os deputados fizeram questão de ir à reunião da CCJ para debochar da medida que serve apenas para tentar melhorar a imagem do Congresso, diante das inúmeras denúncias de nepotismo.

Para entrar em vigor, essas seis propostas deverão ser reunidas num único texto, por uma comissão especial instaurada pela mesa da Câmara. De acordo com a Agência Câmara, a comissão será instituída na próxima semana. Porém, para que isso ocorra, os líderes partidários teriam que indicar seus representantes para a comissão. Questionado sobre a possibilidade de compor a comissão mesmo sem a indicação dos líderes, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, conhecido por empregar familiares na Câmara e defender ardorosamente o nepotismo, afirmou: “Não posso fazer isso (instaurar a comissão), não sou ditador”. Estranho que ele não tenha dito isso quando decretou o aumento de verbas para os deputados, sem passar por nenhuma votação.

Depois de passar por essa comissão, a PEC deve ir ao plenário e, para ser aprovada, precisará de no mínimo 60% dos votos em duas sessões. Ou seja, a descontração dos parlamentares não é injustificada. Não há prazo e nenhuma garantia que esse processo seja levado adiante. Ao contrário, Severino já deu mostras de que irá emperrar qualquer medida que tente acabar com o nepotismo.

Prática generalizada
Além de generalizado entre os deputados e senadores, o nepotismo é também prática freqüente de vários ministros. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, empregou a mulher como assessora da presidência da Escola Nacional de Administração Pública. Antônio Palocci tem a mulher e o irmão ocupando cargos públicos. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar (PL), e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (PT), também possuem parentes nomeados em cargos públicos.

Além disso, existe o chamado “nepotismo cruzado”. Essa manobra serve para ocultar o nepotismo e escapar das críticas. Um deputado faz um acordo com outro parlamentar, emprega um parente do colega que retribui o favor e nomeia alguém indicado pelo seu par. Foi isso, por exemplo, que o senador Geraldo Mesquita (P-SOL-AC) fez. O novo senador do P-SOL, além de empregar de forma descarada vários parentes em seu gabinete, também recorre aos “acordos” entre amigos. O senador emprega em seu gabinete a esposa do deputado Zico Bronzeado (PT-AC). “A mulher é 50% da nossa vida política”, argumentou.

A sessão na Câmara foi marcada pelo tom de deboche de vários parlamentares. Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) disse que um amigo procurava uma namorada, mas exigia como pré-requisito que fosse petista: “já vem empregada”, afirmou. Já o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que os deputados precisavam acabar com o nepotismo e o “nepetismo”. O fascista Jair Bolsonaro (PFL-RJ) afirmou que não estava preocupado, pois o “o filho não era imbecil e a mulher não era jumenta”. Num arroubo, Bolsonaro prometeu revelar as “amantes do Executivo” que estariam empregadas na Casa.