O presidente eleito, Jair Bolsonaro, acompanha o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia até o carro no CCBB.
Redação

Após a promessa de liberação de emendas parlamentares e um acordo com o centrão e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os deputados mantiveram, na noite desta quinta-feira, 20, o veto de Bolsonaro a reajustes de servidores públicos até 2021. Foram 316 votos pelo congelamento dos salários do funcionalismo contra 165.

Em maio foi aprovado o congelamento aos servidores como contrapartida à ajuda financeira do Governo Federal a estados e municípios durante a pandemia. O congelamento dos servidores públicos foi aprovado, mas a ajuda de R$ 125 bilhões teve, até agora, apenas metade desse valor repassada. Na ocasião, algumas categorias à frente da pandemia ficaram de fora desse ataque, como os profissionais de saúde, assistência social, segurança pública, limpeza e educação. Bolsonaro vetou essa exceção e incluiu todos esses segmentos no arrocho.

Nesta semana, veto presidencial havia sido derrubado no Senado, mas o governo agiu para reverter a situação na Câmara. Com a medida, os salários dos servidores das três esferas, federal, estadual e municipal ficam sem reajuste por dois anos, incluindo os profissionais na linha de frente da pandemia. São no total 11 milhões de servidores públicos, 2,6 milhões só na saúde e educação. Metade desse contingente recebe menos que três salários mínimos.

Não conceder aumento ao funcionalismo até o fim do ano é o mínimo que todos nós que estamos no serviço público podemos oferecer aos brasileiros“, afirmou Rodrigo Maia, cujo salário é de R$ 33,7 mil, fora os privilégios. Já Bolsonaro, é bom lembrar, acumula o salário de presidente, de deputado aposentado e de capitão reformado, num montante que supera os R$ 70 mil.

Este foi o primeiro resultado da articulação entre Bolsonaro e o centrão. No dia anterior, o presidente desfrutou de um banquete com os líderes dos partidos que compõem esse bloco fisiológico e corrupto, com a presença de deputados do PP investigados no mensalão. Foi ainda a estreia do novo líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), que assim que assumiu o posto defendeu o loteamento de cargos aos partidos de seu bloco e disse que iria “enfrentar a corporação dos servidores públicos”.

Ricardo Barros: enfrentar os servidores públicos
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fake news e cinismo

No dia seguinte à queda do veto de Bolsonaro no Senado, o governo, com a ajuda de boa parte da imprensa, fez uma verdadeira campanha terrorista, utilizando fake news como de costume. Paulo Guedes, que naquela fatídica reunião ministerial prometeu colocar uma “granada” no bolso dos servidores, chegou a dizer que a votação teria sido um “crime” contra o país, enquanto o próprio presidente afirmou que a medida tornaria o país “ingovernável”.

Espalharam a mentira de que a derrubada do veto custaria R$ 120 bilhões aos cofres públicos, o que é enganoso já que parte do princípio de que todos os servidores públicos teriam reajuste nesse período. Vale lembrar ainda que, no início da pandemia, a primeira medida do governo foi liberar R$ 1,2 trilhão aos bancos, sem que ninguém dissesse que isso tornaria o país “ingovernável”. A verdade é que o governo joga a crise nas costas dos trabalhadores, tanto públicos quanto privados, enquanto privilegia banqueiros e grandes empresários.

A fake news do governo tenta jogar o conjunto da população e dos trabalhadores contra os servidores e, mais que isso, legitimar o desmantelamento dos serviços públicos. A medida do governo aprovada pelo Congresso Nacional não só impõe o congelamento aos servidores como proíbe a abertura de concursos públicos, incluindo médicos e demais profissionais de saúde em plena pandemia.

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