Delúbio sai da direção do PT. Próxima vítima poderá ser GenoinoNesta tarde de terça-feira, dia 5 de julho, caiu mais um dirigente de alto naipe do Partido dos Trabalhadores. Delúbio Soares, tesoureiro do partido, apresentou sua carta com o pedido de afastamento do cargo, que foi aceito pela executiva nacional, que esteve reunida por quase todo o dia na sede do partido, no Centro de São Paulo.
A enxurrada de denúncias publicadas pela imprensa no último fim de semana atingiu em cheio a alta cúpula do PT. O primeiro a cair foi o secretário-geral petista, Silvio Pereira. Agora foi a vez de Delúbio e espera-se para os próximos dias a degola de José Genoino, presidente nacional do PT.

Os documentos revelados mostram que Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do mensalão no Congresso Nacional, teria sido avalista de um empréstimo do PT com o BMG, de Minas Gerais, e também teria pago uma das parcelas, de R$ 350 mil. Se ainda pairavam dúvidas pelo fato de não existirem provas materiais que ligassem a cúpula petista com o empresário picareta, a apresentação dos documentos expõe essas relações de maneira irrefutável.

Tudo leva a crer que Valério mantém uma sociedade secreta com o PT, onde ele seria responsável pela arrecadação de dinheiro para o partido junto a empresários sendo que em troca levaria contratos de publicidade com estatais.

Naufrágio
Desde o sábado, as cabeças de Delúbio, Silvinho e Genoino eram pedida pelos mais altos dirigentes do PT, inclusive pelo próprio presidente Lula. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, chegou a responder aos petistas que defendiam a manutenção do tesoureiro dizendo o que poderia acontecer: “Morremos afogados”.

Por ora, a executiva do PT não afastou Genoino, mas não há muitas dúvidas de que o presidente petista será a bola da vez da crise. Ele mesmo já reconhece o fato quando diz “estar em um beco praticamente sem saída“. Nesta segunda-feira, Genoino foi ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Pouco antes de chorar lembrando os tempos da luta contra o regime militar, ele insistiu que assinou os documentos publicados pela Veja “sem ler”. Uma explicação no mínimo estapafúrdia que nos remete automaticamente a um outro episódio de santa “ingenuidade”, cometido no governo do ex-presidente FHC.

Língua nos dentes
O maior temor que paira sobre o que restou da cúpula petista se dá em torno do que Delúbio e Silvinho poderão dizer na CPI dos Correios, caso sejam convocados. Em declarações ao jornal Folha da S.Paulo, Silvinho disse que “quer ser responsabilizado apenas pelas minhas decisões. Não pelas dos outros”. O nítido tom de ameaça ganha mais ênfase quando Silvinho declara que seu “compromisso será com a verdade. Não é com partido”.

A cúpula do PT também teme que Silvinho, Delúbio, ou até mesmo Valério, tenham pago alguma conta de Lula depois que ele se tornou presidente. Seria a prova que detonaria um processo de impeachment que poderia derrubar o “às” do baralho petista. É bom lembrar que há anos atrás, Collor caiu por menos, quando foi comprovado que PC Farias tinha comprado um Fiat Elba para o ex-presidente.

O incrível exército de Brancaleone
Foi uma comédia italiana a tentativa de contra-ofensiva do PT frente aos escândalos de corrupção. Primeiro, na patética volta de José Dirceu ao Congresso, que, para aparentar força, levou consigo uma claque de petistas. Agora o ex-todo poderoso anda mudo, cabisbaixo, uma sombra de si mesmo atormentado pelo fantasma da cassação de seu mandato. Genoino explicou o sumiço dizendo que Dirceu estava ‘arrumando o gabinete’.

Depois vieram a “Carta ao Povo Brasileiro”, da UNE, CUT e MST, que procuravam mesmo “enganar o povo brasileiro” fazendo uma cortina de fumaça sobre o suposto “golpe das elites” contra o governo. Agora vemos o novo loteamento ministerial com o PMDB, no qual o governo pagou mais pelo mesmo, dando três ministérios ao partido, que segue dividido, sem que haja alguma alteração qualitativa do seu apoio ao governo. Na verdade, o que vai haver é a presença de mais corruptos, como Romero Jucá, na esplanada dos Ministérios.

Frente a enxurrada de lama e corrupção, os líderes governistas aparentam funcionar como no filme “O Exército de Brancaleone”, do diretor italiano Mario Monicelli, que conta a saga de um exército formado por quatro amigos tão ousados quanto desastrados.

Fim de um ciclo
A dura realidade é que o governo Lula é tão corrupto quanto o anterior. O mar de lama sobre o PT encerra o fim de um ciclo histórico de mais de 20 anos, onde predominou a hegemonia desse partido sobre a esquerda brasileira. É hora de a esquerda fazer uma profunda reflexão sobre a crise atual e tomar uma decisão estratégica. A atual crise do PT tem como raiz a sua integração às instituições ao Estado burguês. O apoio dado por esse partido à luta dos trabalhadores deu lugar a lógica do vale-tudo das eleições. A venda de estrelinhas para sustentar financeiramente o partido cedeu lugar às milionárias contribuições empresárias e o dinheiro da corrupção que sustenta as caríssimas campanhas petistas. Muitos ativistas estão perplexos ou confusos com toda sujeira. Mas não é hora de esmorecer e se deixar tomar pelo ceticismo. Isso só favorece a oposição de direita, que quer voltar ao poder para novamente roubar. O momento é o de construir novas ferramentas de lutas, novas alternativas. O primeiro passo é a construção de uma grande marcha unitária à Brasília, convocada pela Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), para o dia 17 de agosto, contra a corrupção e agenda neoliberal do governo.