Outro fato fundamental ocorrido este ano demonstrou o nível da crise em que está metido o imperialismo. O Congresso americano modificou a lei sobre tribunais militares, dando, pela primeira vez, respaldo legislativo a regras de detenção, interrogatório, acusação e julgamento de suspeitos de terrorismo. Legalizou as mais ignóbeis violações dos direitos humanos, entre elas a tortura para arrancar confissões de prisioneiros. Os horrores que vimos acontecer em prisões americanas, como Abu Graib e Guantânamo, não só não desapareceram como agora viraram lei. Foi criada a figura do “combatente inimigo ilegal” e, com isso, o Poder Executivo pode manter preso por tempo indeterminado qualquer pessoa que se enquadre nessa categoria. A nova legislação deu a Bush o direito de definir, secretamente, os procedimentos a serem usados no interrogatório de presos acusados de terrorismo, e de mandar prender quem for considerado “combatente inimigo”, sem direito a apelação.

Desmoronava-se, assim, diante dos olhos do mundo, a imagem de “paladino da democracia” e “guardião da paz” sustentada pelos Estados Unidos até então.

Estudantes e imigrantes
Mas o ano de 2006 começou mal para o imperialismo também em outras frentes, não só no Oriente Médio. Na retaguarda, as lutas também explodiam. Se o Vietnã parecia voltar no Iraque, as grandes jornadas de maio de 68 voltavam a incendiar as ruas de Paris e das grandes cidades francesas. Depois de três meses de luta intensa, greves, passeatas e duros confrontos com a polícia, os estudantes franceses conseguiram derrotar o CPE (Contrato Primeiro Emprego), aprovado pelo presidente Jacques Chirac. Com um discurso em nome da “redução do desemprego entre os jovens”, o governo francês havia aprovado sem debates nem votação no Parlamento, o tal CPE, que permitia às empresas contratar menores de 26 anos e demiti-los quando bem entendesse, sem justa causa nem indenização. Era uma ponta de lança da burguesia imperialista francesa para precarizar as condições de trabalho e desmantelar as conquistas dos trabalhadores franceses, como as 35 horas e o seguro-desemprego.

Em março, terminam com vitória as mobilizações estudantis na França e, em abril, explodem as marchas de imigrantes nos Estados Unidos. Milhões de pessoas se manifestaram em atos por todo o país, encabeçados pelos imigrantes latino-americanos, contra a aprovação da lei HR 4437, que considera o imigrante ilegal um “criminoso perigoso”, passível de ser expulso do país a qualquer momento. No dia primeiro de maio foram realizados atos massivos exigindo a regularização das 12 milhões de pessoas sem documentos que vivem nos EUA.

A resposta do governo americano foi de endurecer ainda mais o tratamento dispensado aos quase 40 milhões de imigrantes que vivem em território americano (cerca de 13% da população dos EUA), das quais calcula-se que uns 12 milhões sejam “ilegais”. O Senado dos Estados Unidos aprovou a construção de um muro com quase 40 quilômetros de extensão na fronteira com o México. Nos 3.200 quilômetros da fronteira que separam os dois países, já existe um muro com 112 quilômetros, concentrado na Califórnia. O novo muro é para tentar controlar ainda mais a entrada de imigrantes, que representam o setor mais explorado da classe trabalhadora nos países imperialistas.

Mas a marcha dos milhões de trabalhadores imigrantes – dos quais a imensa maioria são mulheres -, que se manifestaram no primeiro de maio e estão se organizando para lutar por seus direitos, não apenas nos EUA mas também em toda a Europa, comoveu o mundo inteiro neste ano de 2006, aprofundando a crise do imperialismo.

Um brinde de final de ano
Pântano, síndrome do Vietnã, descontrole militar, gastos públicos. Estas foram algumas das expressões mais usadas durante este ano para tratar da política americana no Oriente Médio. O resultado disso tudo foi visto nas eleições legislativas e regionais nos EUA, ocorridas em novembro. O Partido Republicano, depois de 12 anos como majoritário, sofreu uma dura derrota para o Partido Democrata, debilitando o governo Bush e fazendo com que busque novas alternativas para a guerra.

O ano de 2006 mostrou que a resistência aos ataques imperialistas é cada vez maior, e que os EUA não só não são invencíveis como já estão sofrendo duras derrotas em todas as frentes. Nada indica melhor o fracasso das políticas imperialistas aplicadas durante os 365 dias de 2006 do que a resposta do próprio secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, que acaba de assumir o cargo no lugar de Donald Rumsfeld, à pergunta feita por um deputado no Congresso norte-americano: “O senhor acha que nós estamos ganhando ou perdendo a guerra no Iraque?”. A resposta foi direta: “Perdendo”.

Este é um motivo mais que suficiente para que as massas levantem a taça e façam um brinde a este ano que termina, porque têm muito a comemorar com a resistência heróica que vêm impondo às agressões, à rapina e às violações dos direitos humanos promovidas pelos países imperialistas contra todos os povos do mundo.

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