Todos os fatos mostram que, apesar das bravatas, o poder de Bush está cada vez mais fraco. Ele usou a desculpa dos atentados de 11 de setembro para lançar uma ofensiva política e militar para ter um maior controle do mundo, expresso na invasão ao Afeganistão e ao Iraque. Ao mesmo tempo, nos EUA, tentou restringir as liberdades democráticas e intensificou os ataques à Previdência Social, saúde e educação públicas. Mas essa ofensiva vem fracassando.

No Iraque, a vitória militar inicial se transformou em um verdadeiro pântano, onde o imperialismo se afunda cada vez mais. A heróica resistência militar iraquiana é uma verdadeira guerra de liberação nacional contra os ocupantes. Apesar das tentativas de dividí-los, a luta expressa a unidade de fato entre sunitas e a maioria do povo xiita.

Essa luta questiona a ocupação imperialista e está levando ao fracasso os diversos planos de Bush para dominar o país. Primeiro, foi a tentativa de colocar governos encabeçados diretamente por agentes ou colaboradores da CIA, como Chalabi e Alawi. Depois, as fraudulentas eleições, que tentaram legalizar um governo apoiado na hierarquia religiosa xiita e na burguesia curda. Finalmente, o plano de dividir o país em regiões por influência étnica e religiosa (xiitas, sunitas e curdos), com a “nova constituição”, que, inclusive antes de ser votada, Condolezza Rice anunciava a sua aprovação.

Diante dessa situação, as tropas imperialistas utilizam métodos cada vez mais cruéis para manter a ocupação: ataques genocidas contra a população; detenções massivas, torturas e assassinatos nas prisões e atentados camuflados contra populações civis, buscando acentuar os enfrentamentos inter-religiosos. Mas, até agora, os ocupantes não conseguiram reverter a situação. Pelo contrário, enquanto a resistência cresce e recebe cada vez mais apoio, aumenta a crise das tropas ocupantes.

Por isso, Bush e o imperialismo americano estão em um verdadeiro pântano. Retirar-se agora significaria reconhecer uma grave derrota e ameaçaria seus planos de dominação na região, abrindo um gravíssimo precedente de impotência que estimularia a luta de todos os povos do mundo. Por outro lado, para avançar no controle do país, precisaria aumentar o atual contingente de 150 mil soldados para 500 mil, o que é totalmente impossível nas atuais condições políticas dentro dos EUA (ver artigo). Inclusive no Afeganistão, onde a situação parecia controlada, houve um recrudescimento das ações de uma resistência encabeçada pelos talebans.

O “fantasma do Vietn㔠sobrevoa o Iraque e a cabeça de Bush. A resistência iraquiana se tornou uma referência para todos os lutadores do mundo ao mostrar que se pode enfrentar e golpear o “todo-poderoso” imperialismo americano. Sua possível vitória será também a nossa. Por isso, para todos os trabalhadores e povos do mundo é, ao mesmo tempo, uma necessidade e um dever apoiar a resistência iraquiana para que nesse país ocorra uma nova derrota do imperialismo.

Problemas “em casa”

A difícil situação no Iraque incide cada vez mais nos EUA. O mais importante é o surgimento de um crescente movimento antiguerra que exige o retorno imediato das tropas. Com essa bandeira, mais de 150 mil pessoas se concentraram em Washington no dia 24 de setembro. Foi a maior mobilização dos últimos anos no país, muito maior que as da época do Vietnã, depois de transcorrido o mesmo tempo de guerra. Cindy Sheehan, mãe de um soldado morto no Iraque que acampou diante da fazenda de Bush, liderou a marcha e se transformou em uma figura de peso nacional.

O movimento cresce entre a juventude secundarista e universitária, com grupos que organizam piquetes contra os recrutadores militares que vão aos colégios e campus para contratar novos soldados. Em alguns casos, ocorrem choques com a segurança privada das escolas, como aconteceu recentemente em Holyoke Community College, no estado de Massachussets.

Por outro lado, a dura greve de 18 mil trabalhadores da fábrica de aviões Boeing (exigindo aumento salarial, melhorias na aposentadoria e no seguro médico) terminou em vitória, o que pode ser o anúncio de um retorno da classe operária americana depois de vários anos sem lutas importantes.

Também começou uma crise “nas alturas”. O Senado, mesmo com maioria republicana e contra as ordens de Bush, votou por ampla maioria “restrições ao tratamento dado aos prisioneiros de guerra” (leia-se torturas). Essa votação pode não ter qualquer efeito concreto, mas significa um forte revés para Bush. Além do mais, o ex-líder republicano da Câmara dos Deputados, Tom Delay, fiel aliado de Bush, é acusado de corrupção e fraude nos fundos eleitorais; enquanto o lAíder republicano do Senado, Bill First, está sendo investigado por manobras ilícitas com ações da Bolsa.

Finalmente, o próprio Bush poderia ser atingido pela investigação sobre quem divulgou aos jornais o nome de uma agente da CIA (um grave delito nos EUA) para vingar-se de seu marido (um embaixador que revelou as mentiras de Bush em relação às armas nucleares supostamente fabricadas por Saddam e que justificaram a invasão ao Iraque). Essa investigação já atinge Karl Rove, principal assessor de Bush.

O furacão Katrina

Para aumentar os problemas de Bush, o furacão Katrina (que infelizmente custou muitas vidas e o sofrimento da população negra e pobre de Nova Orleans) mostrou que “o rei estava nú”. Com toda sua tecnologia, o país mais poderoso do mundo não pôde prevenir nem atenuar suas conseqüências. Pior. Sabia-se que o dique protetor da cidade não suportaria um furacão. Por que não fez os investimentos necessários para reforçá-lo? Depois da catástrofe, a ajuda tardou dias para chegar e muitos reclamaram que os aviões e helicópteros militares necessários “estavam no Iraque”.

Quando a “ajuda militar” chegou, foi para reprimir os sofridos e famintos sobreviventes e não para aliviar suas penúrias. O racismo foi tão claro por parte do governo e dos soldados, majoritariamente brancos, que até a famosa apresentadora de TV Oprah Winphrey o denunciou indignada.

A atuação em relação ao Katrina só acentuou a queda no apoio a Bush (que já está abaixo de 40% da população e, entre os negros, chega a apenas 2%!) e do respaldo à guerra no Iraque (que chega apenas a 35%). Podemos concluir que Bush está se enfraquecendo e é um bom momento para lutar contra ele. A segunda conclusão é que o melhor caminho para derrotá-lo é unir a luta dos povos latino-americanos e iraquianos com a dos trabalhadores e do povo americano, especialmente os setores mais explorados e oprimidos, os negros e os latinos.
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