No dia 7 de novembro ocorreram as eleições legislativas e regionais nos EUA. O Partido Republicano, do presidente George W. Bush, sofreu uma dura derrota. O resultado, que debilita ainda mais o governo de Bush, só pode ser visto como um reflexo do curso desfavorável da guerra no Iraque para os EUA. Esse tema foi o centro do debate eleitoral e a principal preocupação dos eleitores.

O Partido Republicano, depois de 12 anos, perdeu a maioria na Câmara de Representantes (Deputados) e também no Senado. Ao mesmo tempo, os candidatos do partido democrata ganharam o governo de mais quatro estados, entre eles Nova York. Trata-se, evidentemente, de uma dura derrota para o governo de Bush, que sai claramente debilitado da disputa.

O boomerang do Iraque
A derrota tem uma explicação muito clara: o curso desfavorável da guerra no Iraque e da política de Bush no Oriente Médio voltou como um boomerang e atingiu as eleições como uma maré de oposição popular.

Durante seu governo, Bush apostou na “guerra contra o terror” e na “nova estratégia” para o Oriente Médio. Mas, depois de alguns rápidos triunfos iniciais, sua política começou a fracassar cada vez mais no Iraque, Afeganistão e Líbano. Em vez de fortalecer o controle americano na região, o resultado foi seu enfraquecimento e o fortalecimento da resistência iraquiana, do Hezbollah, da Síria e do regime iraniano.

O pântano no Iraque começou a transformar-se em uma guerra que parece impossível de vencer. Por isso, ao setor minoritário da sociedade americana que esteve desde o início contra a guerra, se foi somando outro, cada vez maior, que se opõe a ela pelos riscos que implica.

A opinião pública dos EUA sente que piorou a segurança do país: pesquisas prévias às eleições indicaram que 60% dos americanos acham que a guerra do Iraque tornou mais provável um novo “ataque terrorista” contra seu território e mais de 50% está a favor da retirada das tropas do Iraque.

É certo que esta oposição contra a política de Bush não gerou, até agora, as massivas manifestações anti-guerra que ocorreram na época do Vietnã. Mas sim se expressou com muita força na eleição. O tema da guerra foi o eixo do debate eleitoral, ao contrário das tradicionais eleições legislativas, onde predominam os temas locais e específicos. O resultado foi um massivo “voto castigo” contra o governo de Bush.

Um exemplo do sentimento predominante, e da mudança que ocorreu em muitos eleitores, foi a vitória de Tammy Duckworth, uma ex-piloto de helicópteros militares que perdeu as duas pernas na guerra do Iraque: ela fez campanha contra a guerra em sua cadeira de rodas e foi eleita deputada no sexto distrito de Illinois (nos subúrbios de Chicago), um lugar onde, nos últimos 32 anos, os republicanos ganharam todas as eleições. Outro fato significativo: Keith Ellison também fez sua campanha pedindo a retirada das tropas, no quinto distrito de Minnesota, e é o primeiro muçulmano negro que se elege deputado nos EUA.

Bush quer continuar a guerra…
Depois das eleições, o governo de Bush sai claramente debilitado. O próprio presidente admitiu a “surra” e reconheceu que “muita gente votou para protestar contra a situação no Iraque”. Não é por acaso que a primeira conseqüência do resultado eleitoral foi a demissão-renúncia do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, uma das figuras mais identificadas com a guerra.

No entanto, apesar da opinião massiva do povo americano, Bush declarou que manterá as tropas no Iraque “até a vitória” e que em hipótese alguma “sairão derrotadas”, porque isso teria “conseqüências desastrosas”. Em outras palavras, fica claro que seu objetivo é continuar a guerra.

Os democratas estão de acordo
Mas ele não pode levar adiante essa política sem um acordo com os democratas que agora dominam o Congresso. Além disso, apesar de que vários candidatos democratas ganharam as eleições com discursos contra a guerra, os principais líderes do partido, como a senadora Hillary Clinton, não só votaram a favor dela, em 2003, como vêm respaldando, no Congresso, as decisões mais importantes.

Depois das eleições, Nancy Pelosi, deputada democrata indicada como futura presidente do Congresso, declarou em uma entrevista à CNN: “Apesar de que haverá audiências para discutir a estratégia no Iraque, Bush continuará sendo o comandante em chefe das Forças Armadas nos próximos dois anos”. Em seguida, descartou totalmente a possibilidade de reduzir o orçamento das FF.AA. e disse que: “Jamais deixaremos nossas tropas sem aquilo que necessitam”.

Enfim, tudo indica que a perspectiva mais provável é um acordo entre o governo republicano e os legisladores democratas para continuar a guerra e, com isso, definir de conjunto a política a seguir. Lembremos que outras leis importantes, como as referentes à imigração, também estão sendo acordadas de modo similar.

Razões muito profundas
As razões para que esse acordo seja possível são muito profundas. Tanto o republicano como o democrata são os dois partidos que, apesar de suas diferenças ideológicas, representam os interesses da burguesia imperialista dos EUA. Para essa burguesia, o controle do Oriente Médio tem uma importância geopolítica estratégica e, ao mesmo tempo, é a região que possui as maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo, num momento em que estas começam a declinar. Por isso, para o imperialismo americano, sair totalmente derrotados do Iraque teria, como disse o próprio Bush, “conseqüências desastrosas”, não só na região como em todo o mundo. Por isso, ambos os partidos vão fazer o possível e o impossível para ganhar a guerra ou, pelo menos, conseguir um “empate”.

As perspectivas
Se nossa análise está correta, o futuro imediato será de contradição entre as aspirações da maioria do povo americano, de que as tropas saiam do Iraque, e a política a ser aplicada por seus líderes. As expectativas de que a massiva votação nos democratas mude o rumo das coisas serão frustradas, abrindo a possibilidade de que o povo americano compreenda que, para alcançar suas aspirações anti-guerra, será necessário mobilizar-se massivamente contra a política conjunta do governo e do Congresso. Temos certeza de que, cedo ou tarde, isso vai acontecer e a luta da resistência iraquiana e as grandes mobilizações nos Estados Unidos se combinem para provocar uma clara derrota ao imperialismo.

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