O presidente dos EUA, George W. Bush, sancionou a lei que autoriza a prisão de supostos “terroristas”, que ficarão detidos pelo tempo que o governo ianque julgar necessário, e libera o poder Executivo – quer dizer, o próprio Bush – para a tarefa de escolher quais métodos serão usados nos interrogatórios. A chamada Lei da Tortura também permite tribunais militares de exceção para julgarem prisioneiros, acima das leis da Constituição norte-americana.

Na prática, Bush sancionou uma lei que oferece proteção completa a ações que já são praticadas por agentes da CIA (inteligência norte-americana) em bases militares secretas dos EUA espalhados mundo afora. Há seis semanas, Bush reconheceu que a CIA interrogou suspeitos em outros países secretamente. Agora os interrogatórios secretos passam a ser legais.

Alvo de constantes denúncias de tortura contra suspeitos de terrorismo, os serviços militares e de inteligência do país acabaram muitas vezes contando com a colaboração de agentes de outros países para fazer o trabalho sujo, como no Paquistão. Era a “terceirização” da tortura. Com a aprovação da lei, entretanto, os agentes norte-americanos poderão voltar tranqüilamente a arregaçar as mangas, desafrouxar suas gravatas e executar eletrochoques, afogamentos e outros procedimentos macabros que foram ensinados por sucessivos governos dos EUA a ditaduras da America Latina.

A lei, porém, não vem numa hora qualquer. Ás vésperas das eleições legislativas do país, Bush tenta ainda convencer a população da necessidade da manutenção de sua guerra no Iraque e no Afeganistão. Analistas prevêem a possibilidade dos republicanos, do partido de Bush, ficarem em minoria no Congresso.

Muro da vergonha
No início de outubro, Bush assinou a lei que autoriza a construção de um muro de 1.200 km na fronteira com o México. O muro serviria para impedir entrada de imigrantes ilegais vindos do país vizinho.

Bush também aprovou fundos de US$ 1,2 bilhão para a construção que ajudará, segundo ele, a “prevenir cruzamentos ilegais“ na fronteira sul. “É isso que as pessoas neste país querem. Elas desejam saber que estamos modernizando a fronteira para poder protegê-las melhor“, acrescentou o presidente.

A medida se dá no mesmo mês em que os EUA atingem a marca dos 300 milhões de habitantes, anunciado no dia 17 pelo censo do país. Dos 100 milhões de habitantes mais recentes, 53% são imigrantes ou seus descendentes, a maioria de origem latina. Hoje 14% da população é hispânica. Especialistas dizem que o 300.000.000º provavelmente é um menino de origem latina.

Os latino-americanos compõem uma força de trabalho essencial para o país. Por um lado, a burguesia norte-americana utiliza os imigrantes ilegais para superexplorá-los em funções com menor remuneração e os serviços mais precários. Por outro, a questão da imigração é utilizada por governantes e políticos de direita que colocam toda culpa do desemprego e da oportunidades sobre as costas dos imigrantes. Tentam assim mascarar os efeitos naturais gerados pelo capitalismo e dividir os trabalhadores. Além disso, ocultam que a questão da imigração é produzida pelas próprias políticas implementadas pelo imperialismo na América Latina. As privatizações, os pagamentos da dívida e o livre comércio criaram um exército de desesperados que buscam uma “vida melhor” nos EUA.