Bush

“A marcha da estupidez continua”. Foi assim que o jornalista britânico Robert Fisk definiu a “Nova estratégia para o Iraque”, anunciada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, na noite desta quarta-feira, dia 10. O plano consiste no envio de cerca de 21 mil soldados dos EUA ao país árabe e de cercca de US$ 1 bilhão para o estabelecimento de metas de segurança a serem cumpridas pelo governo de Bagdá. Outra meta seria a de que o governo iraquiano assuma o controle da segurança das 18 províncias do país até novembro. Após o anúncio, o Pentágono anunciou também que pretende recomendar um aumento de 92 mil soldados e marines [fuzileiros navais] nas Forças Armados do país em um prazo de cinco anos.

Protestos
Uma forte reação contra as novas pretensões de Bush percorreu os EUA. Duas pesquisas confirmaram a impopularidade do plano entre os norte-americanos. Na sondagem da TV ABC e do jornal ‘Washington Post´, 61% dos entrevistados disseram ser contra o envio de mais tropas. A oposição atingiu 71% na pesquisa Associated Press-Ipsos.

Além do repúdio da maioria da opinião pública, dezenas de críticas partiram também da oposição burguesa democrata, hoje a maioria no Congresso do país. No dia 11, a secretária de Estado Condoleeza Rice teve uma amostra da hostilidade democrata. Enquanto defendia o plano, a secretária enfrentou protestos, criticas e até piadas por parte dos senadores. Os ataques partiram até mesmo de republicanos, como o senador Chuck Hagel, que afirmou diante de Rice que a política apresentado por Bush no Iraque é “o erro mais perigoso de política externa neste país desde o Vietnã”.

`ProtestoEnquanto Rice se esforçava em convencer os senadores a não isolarem a Casa
Branca, um ativista contra a guerra protestava com cartazes levantados atrás da secretária com os dizeres: “Chega de guerra. Chega de mentiras”. No mesmo dia, atos nas principais capitais do mundo exigiram o fechamento da base de Guantánamo, criada há cinco anos e que mantém até hoje centenas de presos incomunicáveis.

Prévia
Pouco antes da publicação do novo plano, o Pentágono anunciou que cerca de 400 soldados dos EUA e 500 iraquianos participaram de combates em Bagdá. Os enfrentamentos duraram cerca de 11 horas e foram os mais violentos desde o início da ocupação, com uso de aviões e helicópteros. A área do conflito fica próxima à avenida Haifa, e situa poucos quilômetros da denominada Zona Verde, de máxima segurança. O ataque foi precedido pela ação dos esquadrões da morte – que operam com a total conivência do governo iraquiano – e resultou no massacre de centenas de civis.

O assalto contra o bairro de Haifa tinha por objeto desalojar combatentes da resistência que realizam ataques contra a Zona Verde. Um comandante militar norte-americano justificava a intensidade dos ataques: “esta área está submetida a uma continua atividade insurgente”.

A tentativa de ocupação da zona da avenida Haifa foi o primeiro passo para colocar em marcha o novo plano de Bush. No entanto, a região não foi ocupada pelas tropas de ocupação, mas permanece cercada por elas.

Crise
A decisão de enviar mais soldados ao Iraque, desafiando o repúdio da opinião pública, da oposição democrata, de aliados no Partido Republicano e de até integrantes da cúpula militar, levando ao isolamento político da Casa Branca, não deve ser tratada como fruto da “teimosia” ou da “irracionalidade” de Bush. Trata-se de uma solução política perfeitamente calculada, cujo objetivo é esmagar a crescente resistência iraquiana. No entanto, o plano também expõe toda a crise da ocupação colonial anglo-americana. Esse é o quarto plano para “estabilizar” o Iraque levado a cabo pela administração Bush. Todos os outros fracassaram.

A ocupação já causou a morte de mais de 3 mil soldados ianques. Já foram gastos mais de US$ 400 bilhões com o conflito. Atualmente mais de 132 mil soldados estão hoje no país, número que flutuou nos últimos quatro anos. O efetivo já chegou a 159 mil em janeiro de 2005, durante as eleições iraquianas.

Mesmo diante de todo esse esforço, as forças coloniais de ocupação não conseguem “estabilizar” o país nem tampouco garantir que o fantoche premiê iraquiano, Nuri al Maliki, consiga governar. Além disso, O governo Bush assistiu sua base de apoio interno entrar em erosão. O resultado mais expressivo disso foi a derrota republicana nas eleições legislativas de novembro.

Tal fragilidade foi vista até mesmo na execução de Saddam Hussein. O que era para ser uma vitória política da ocupação transformou-se em um espetáculo grotesco que geraram fortes repercussões negativas em todo o mundo.

Um incremento de tropas de ocupação de 21 mil efetivos adicionais destinados a combater a resistência seriam empregadas essencialmente em Bagdá (com o envio de 17.500 soldados) e na província de al-Anbar (4 mil) controlada pela resistência.

“O fracasso no Iraque não afetará apenas nosso país, como também toda a região e o mundo, incluindo os Estados Unidos”, afirmou Sadiq al Rikabi, assessor do premiê Maliki. Em outras palavras, uma derrota militar do imperialismo significará sua perda de controle sobre a região que mais produz petróleo no planeta. Algo que já foi alertado por agências de inteligência norte-americanas em um relatório confidencial mostrando que os EUA estão mais vulneráveis que nunca a novos ataques terroristas. Intitulado “Tendências no Terrorismo Global: Implicações para os Estados Unidos” e divulgado pela imprensa no dia 25 de outubro, o relatório concluiu que a guerra no Iraque fomentou o radicalismo e que a resistência iraquiana contra a ocupação cresceu e se expandiu por todo o Oriente Médio.

Derrota à vista
O atoleiro em que se meteu Bush no Iraque coloca concretamente a possibilidade de uma derrota militar do imperialismo. É pouco provável que qualquer plano inverta essa situação. Uma derrota dos EUA seria algo extraordinário, pois acalentaria a luta dos povos de todo mundo contra a dominação imperialista. Por isso o atoleiro divide cada vez mais a burguesia dos EUA. Por isso setores ligados aos democratas (outrora defensores da ocupação) passaram a criticar a condução da guerra feita pelos republicanos. É importante ressaltar que não se trata de oposição à guerra, mas sim sobre qual seria a “melhor” forma de conduzi-la e evitar um desastre político militar ainda maior para o imperialismo.