No dia 26 de fevereiro, os trabalhadores da Britânia receberam a notícia do fechamento da fábrica de Camaçari (BA). A unidade produzia ventiladores, ferros elétricos, batedeiras, liquidificadores e espremedores de fruta. Ficaram desempregados 370 operários.

O que mais espanta no fechamento da Britânia é que essa empresa terminou o ano a todo vapor e voltou em ritmo normal. No dia 10 de fevereiro, os trabalhadores entraram em férias coletivas, com o retorno previsto para a próxima segunda-feira, dia 2 de março.

A Britânia disse que o fechamento da empresa se deu porque não está fazendo tanto calor no sudeste e que no nordeste não se usa espremedor por causa do alto consumo de polpa de fruta. Uma piada. Em nota oficial a empresa anunciou a transferência para Santa Catarina.

O fechamento da Britânia é prova de que a crise econômica já se espalhou por todo país. Na Bahia, já são quase 2 mil trabalhadores do ramo metalúrgico demitidos nos últimos três meses. No setor de borracha, as demissões estão correndo soltas. A Pirelli, só nos dois primeiros meses do ano, demitiu mais de cem trabalhadores.

A empresa recebia uma série de isenções fiscais, como IPTU e ISS. Além disso, recebeu uma área de 50 mil metros quadrados para funcionamento da empresa.

Sindicato não aposta na mobilização para barrar demissões
Desde que a crise se intensificou, o Movimento Operário Metalúrgico (MOM), oposição ao sindicato e ligado à Conlutas, vem chamando a atenção da direção do sindicato para necessidade da mobilização para barrar as demissões. Entretanto, a direção, ligada ao PCdoB/CTB dizia para os trabalhadores que a crise não chegaria ao país.

O MOM-Conlutas a todo momento falava que a crise era grave e que as férias coletivas já eram um sinal de que as demissões viriam.

Prefeitura e governo do Estado devem assumir culpa pelas demissões
Passadas 48 horas do fechamento de uma fábrica na Bahia, o governador do Estado, Jaques Wagner (PT), ainda não se pronunciou. A prefeitura de Camaçari, por sua vez, só está preocupada em reaver o terreno doado para Britânia e fala em relocalizar os demitidos em fábricas que ainda não estão nem prontas. Um verdadeiro absurdo.

Ao contrário dessa postura, os governantes do PT deveriam estar discutindo a estatização da empresa sob o controle dos operários, que é a única medida para salvar os empregos dos trabalhadores.

Um chamado ao sindicato
Só as mobilizações dos trabalhadores podem barrar as demissões. Achamos que a direção do sindicato deve organizar os trabalhadores da Britânia e demais metalúrgicos para lutarem pelos empregos. Além disso, precisamos urgentemente construir um comitê em defesa da estabilidade do emprego e contra a redução de salários e direitos em Camaçari.

No dia 2 de março, a empresa vai entregar as cartas de demissões. Achamos que essa é uma boa oportunidade para o sindicato começar a apostar no poder de mobilização dos operários e exigir dos governantes a estatização da Britânia sob o controle dos trabalhadores.

Entrevistamos Tarturana, trabalhador da Britânia e membro da Cipa. Ele participou da Chapa 2 – Oposição Unificada nas eleições para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari. Confira abaixo.

Como a empresa comunicou as demissões?
Tarturana
– O fechamento foi uma grande cachorrada da empresa. Há mais de um ano, já se tinha rumores do fechamento da unidade em Camaçari. Com a crise econômica eles se aproveitaram para dar férias coletivas para os trabalhadores e fazer a transferência da produção na surdina para Joinville, em Santa Catarina. Lá eles vão terceirizar toda a produção, vão produzir os mesmos produtos. É preciso deixar claro que a Britânia não faliu, eles não pararam de produzir. E também que o fechamento não tem nada haver com a crise econômica. Eles simplesmente aproveitaram a crise para demitir 400 trabalhadores e causar um caos em Camaçari. Eles estavam aqui a pelo menos seis anos com isenções fiscais e agora foram para Joinville para terceirizar tudo e lucrar mais. A empresa inclusive está com policiamento para garantir tudo. Só falta mandar para Santa Catarina as máquinas, todo o resto já foi.

Como os trabalhadores reagiram?
Tarturana
– Com muita indignação. Está todo mundo em choque: uns riem sem saber o que fazer ou sem acreditar no que está acontecendo. Já havia rumores da transferência. Eu por exemplo vim de São Paulo, sou da Cipa e estou sem saber o que fazer. Há muita indignação entre os trabalhadores.

E o sindicato o que tem feito?
Tarturana
– Esse teria que estar ciente destes rumores e preparar os trabalhadores. Ou a empresa comprou o sindicato ou eles não sabiam de nada. Mas como falei, todo mundo sabia dos rumores. Hoje o sindicato chamou uma reunião com os demitidos, fez uma passeata em Camaçari para tentar reverter o que já é inevitável, o fechamento e transferência da Britânia. Na segunda, dia 2, a empresa vai entregar a carta de demissão para os trabalhadores e o sindicato está chamando uma mobilização na porta da empresa para reverter o fechamento da empresa a partir das 6h da manhã.