Redação

Nazareno Godeiro, de Belo Horizonte (MG)

Em 1909, os ingleses compraram todas as reservas de minério de ferro de Minas Gerais e formaram uma empresa de capital inglês que se tornaria, depois de ser encampada pelo governo de Getúlio Vargas em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).

A empresa surgiu de um acordo assinado entre Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, em plena Segunda Guerra. EUA e Inglaterra, dedicados ao esforço de guerra contra Hitler, necessitavam que o Brasil fornecesse minério de ferro para sua indústria. Daí nasceu a CVRDm que passa a fornecer minérios para a reconstrução do Japão, depois da guerra. Enquanto o Japão se convertia em uma potência econômica mundial, a Vale se tornava uma grande mineradora.

Entre 1969 e 1979, a empresa se consolidou como a maior exportadora de minério de ferro do mundo, posição que ocupa até hoje. Em 1993, a Fundação Getúlio Vargas classificou a Vale como a primeira empresa no ranking nacional. Dois anos depois, em 1995, FHC incluiu a CVRD no Programa Nacional de Desestatização. Finalmente, em 7 de maio de 1997, a empresa foi privatizada e comprada por um consórcio liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), que adquiriu 41,73% das ações ordinárias do governo federal por US$ 3,338 bilhões.

Em 2003, a Vale apresentou o maior lucro líquido de sua história: R$ 4,5 bilhões, recuperando em um ano o valor pago no leilão de privatização. No mesmo ano, também houve um salto na desnacionalização da empresa, já que 67% dos negócios com as ações da Vale foram realizados na Bolsa de Nova York, contra 33% realizados no Brasil.

Em janeiro de 2003, o valor da empresa superava a barreira dos US$ 100 bilhões. Em dez anos ele se multiplicou por dez, demonstrando que o preço do leilão foi inferior e o mercado fez o ajuste ao valor real.

As maracutaias da privatização
O preço de venda da CVRD, US$ 3,338 bilhões, foi subestimado de propósito para garantir lucro aos empresários privados.

Ficou de fora do preço mínimo da empresa um conglomerado com cerca de 60 empresas, incluindo a infra-estrutura ferroviária, com nove mil quilômetros de malha ferroviária e vários terminais portuários. Também ficaram de fora do valor da Vale suas participações em empresas como Usiminas, Açominas, CSN e outras.

Também não entrou na avaliação o grosso das reservas minerais da empresa. A CVRD informou à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, em 1995, números rebaixados das suas reservas totais de minério, com a intenção de diminuir o valor da empresa. As reservas totais de minério de ferro, ao invés de três bilhões de toneladas, alcançavam 19 bilhões de toneladas. As reservas de potássio, ao invés das quatro, eram de fato 19 milhões de toneladas. As reservas de manganês, ao invés das 30, eram na verdade 63 milhões de toneladas. As reservas de bauxita, ao invés das 197, eram de fato 303 milhões de toneladas.

Sem considerar a produção de ouro, platina, cobalto, níquel, nióbio, quartzo, titânio, calcário, fosfato, zinco, cassiterita, entre outros, as reservas provadas da Vale teriam, nos preços de hoje, um valor aproximado de US$ 215 bilhões. Mas elas não foram computadas no valor da empresa quando privatizada.

Por que os dois bancos responsáveis pela avaliação da CVRD, o Bradesco e o Merril Lynch, não incorporaram o valor total da CVRD? Muito simples: o Bradesco se tornou co-proprietário da Vale privatizada. É como colocar o lobo cuidando do galinheiro. Esta irregularidade já seria suficiente para anular o leilão de privatização da Vale. A lei de licitação para a venda da empresa define que não pode haver nenhum vínculo entre o avaliador e o comprador. O Bradesco era dono de 17,9% do capital votante da CSN, empresa que liderou a compra da Vale. O banco participou, a partir do ano 2000, do bloco controlador da Vale, através do Bradespar.
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