Raimundo Pereira de Castro, o Raimundão, 53 anos, nasceu em Aracati no Ceará. Filho de camponeses, trabalhou na roça e na pesca em alto mar até seus 18 anos. No ano de 1967 chega a Fortaleza, aonde ingressa na categoria da Construção Civil como servente de pedreiro, sendo um dos trabalhadores que ajudou a erguer um dos mais populares Conjuntos Habitacionais da cidade, o Conjunto Prefeito José Walter. Em agosto de 1971 embarca para o Alto Xingu para trabalhar nas obras da Transamazônica aonde, nos acampamentos dos trabalhadores coordenado pelo Exército em regime semi-militar tem seus primeiros momentos de rebeldia, constantemente entrando em conflito com o Mestre da Obra, um tenente coronel da reserva. É em Santarém aonde casa com Dona Penha, sua esposa até os dias de hoje, e aonde nasce Gilvan, seu primeiro filho. De volta ao Ceará, retoma o trabalho na Construção Civil e participa de um grupo político que mantinha relações com o clandestino PCB por volta de 1976. Em 1985 se envolveu na campanha para eleger Maria Luiza, prefeita de Fortaleza, mas é no trabalho na categoria aonde o Raimundo de Castro, vai se forjando o Raimundão de hoje. Trabalhando como pedreiro, de canteiro em canteiro, de obra em obra, Raimundão vai ficando conhecido por seus companheiros de categoria como uma figura de destaque nas reclamações por melhores condições de trabalho. Em 1987 ingressa no movimento de oposição à diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, aonde conhece os militantes do Coletivo Gregório Bezerra (CGB), organização originada de uma dissidência do PCB de 1985. No início de 88 entra para o CGB aonde participa da fundação do Partido da Libertação Proletária (PLP). Em novembro de 88 a oposição ganha as eleições do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil com mais de 3000 votos contra somente 666 da chapa da situação, o pelego Mariano. Raimundão se destaca enormemente na campanha para as eleições da diretoria e em 89 junto com a diretoria da Construção Civil dirige a maior greve da história da categoria até então. Foram 9 dias de grandes passeatas, mobilizações, enfrentamentos com a polícia e de uma disposição de luta jamais vista em Fortaleza. O acordo fechado ao final da campanha salarial muda completamente a situação da categoria conquistando um piso salarial dos mais altos entre a classe operária da cidade, alimentação decente, utilização de equipamentos de segurança, entre outras conquistas.

Em 92, Raimundão e seus companheiros de organização participam ativamente do “Fora Collor” e ingressam na Convergência Socialista (CS), corrente que foi expulsa do Partido dos Trabalhadores por fazer o chamado público ao Fora Collor, contra a vontade do restante do PT que era contra a derrubada do governo de Fernando Collor de Melo. Na CS participa das discussões para a construção de um novo partido no Brasil, um partido revolucionário, discussões essas que dariam origem em 94 ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). Em 95 dirige a famosa greve da rapadura que durou 28 dias, teve uma adesão massiva dos trabalhadores e findou por arrancar mais uma vitória contra a ganância dos empresários da Construção Civil de Fortaleza.

É no PSTU, aonde milita até hoje, que o nome de Raimundão passa a ser reconhecido como sinônimo de luta não somente pelos trabalhadores da Construção Civil, mas por todos os trabalhadores do Estado do Ceará e por muitas categorias em todo o Brasil. Em 96 foi candidato a vereador. Em 98 foi candidato ao Senado, obtendo 6300 votos, sendo a única candidatura de esquerda já que o PT resolveu apoiar Paes de Andrade do PMDB. Em 2000, o PSTU pretendia apoiar Inácio Arruda do PCdoB para prefeito de Fortaleza, mas como o Partido foi expulso da Frente Popular por conta das suas críticas ao programa e ao arco de aliança da mesma, que ia do PSB e do PDT até à Roberto Pessoa do PFL, Raimundão assumiu a responsabilidade de ser candidato a prefeito defendendo uma “Fortaleza para os Trabalhadores”. A candidatura de Raimundão a prefeito atraiu grande simpatia dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre, tanto pela radicalidade de suas propostas, como pela figura do operário-candidato e da postura anti-burguês expressa no horário eleitoral gratuito, nos debates, nos atos e até no jingle da campanha que dizia: “Vote Contra FHC e o FMI, Não Vote em Patrícia, Moroni e Juraci”.

A cada novo ano, a figura de Raimundão cresce e se identifica mais e mais com as lutas do povo pobre e trabalhador. Raimundão há muito deixou de ser somente mais um peão da Construção Civil para tornar-se uma verdadeira e marcante personagem da história do movimento operário e popular do Ceará.