Desde o Século XIX há a discussão sobre a transferência da capital para o Planalto Central. Entre os principais motivos estão a defesa da capital de um possível ataque marítimo, ou a necessidade de desenvolvimento do interior do país. Há ainda quem diga que Brasília foi construída para retirar a capital de perto dos principais centros urbanos para que os governantes sofrerem menos pressões populares contra suas medidas.

Mas apenas em 21 de abril de 1960 é inaugurada a nova capital. A construção de Brasília atraiu boa parte do fluxo migratório das regiões mais pobres do país, e continua atraindo até os dias de hoje. Em seu projeto original previa que a capital teria cerca de 500 mil habitantes nos anos 2000. Hoje, porém, a população é quatro vezes maior, e fora do Distrito Federal vivem outras milhares de pessoas em condições pra lá de precárias, no chamado Entorno.

O projeto de Lúcio Costa, em forma de Libélula (e não de avião, como sempre é dito), pretendia unir a densidade populacional das cidades modernas, construção de grandes edifícios, com grandes áreas verdes. As superquadras seriam pessoas de distintas classes sociais vivendo próximas das outras. No entanto, a realidade foi bem diferente. O urbanismo de Lúcio Costa e a arquitetura de Oscar Niemeyer foram incapazes de eliminar as desigualdades sociais.

Brasília ostenta hoje alguns dos melhores índices sociais do país, como renda per capita, número de municípios atendidos com água e esgoto, escolaridade etc. Porém, estes números escondem a verdadeira situação de vida da população do DF e Entorno. A cidade esconde o abismo social, e as contradições de se ter, separados por poucos quilômetros de distância, índices sociais da Noruega e da África.

Os serviços públicos estão aos pedaços, há poucos hospitais, sempre lotados e com falta de materiais; o sistema de transporte é um dos piores do país, onde o milionário metrô atende apenas pequena parte da população; a violência fica concentrada nas cidades satélites e no entorno, como vimos o caso do sumiço dos seis garotos de Luziânia.

Brasília não trouxe a igualdade entre as classes. E, ao contrário do que dizia de Lúcio Costa, a Praça dos Três Poderes não se tornou a Versalhes do povo.