A Conlutas enviou novamente uma delegação ao Haiti. O objetivo é retomar a campanha pela retirada das tropas brasileiras do país. Três ativistas da entidade estiveram lá e participaram da programação do 1º de Maio, levando o apoio dos trabalhadores brasileiros. A delegação foi composta por José Geraldo Corrêa Junior, o Gegê, representando a Conlutas; Julio César Condaque, representando o Sepe-RJ; e Antonio Lisboa Leitão de Souza, representando o Andes-SN. Abaixo, reproduzimos alguns trechos de seus relatos.

Primeiro dia: preparando o 1° de Maio
Fomos recebidos pelo nosso velho conhecido, o companheiro de luta Didier Dominique, dirigente do Batay Ouvriye (Batalha Operária). Fomos direto à sede da Batay, localizada no bairro Bel Air, um dos grandes e mais populosos e com maior tradição de luta no Haiti. Bel Air já foi palco de diversas manifestações populares na defesa dos direitos dos trabalhadores haitianos.

Na sede da Batay, encontramos diversas lideranças sindicais e do movimento popular, com quem tivemos uma primeira conversa de apresentação. Além da solidariedade, manifestamos nosso apoio à luta do povo haitiano, nossa disposição em participar da construção do 1º de Maio, entendido como marco da resistência à opressão imperialista, pela liberdade e autodeterminação dos povos e pela retirada das tropas brasileiras no Haiti.

Este 1º de Maio terá uma importância singular na luta do povo trabalhador haitiano. Neste ano, ele será realizado em conjunto com diversas organizações sindicais e populares.

Junto com a Batay estarão organizações camponesas, do movimento popular, entidades de pequenos comerciantes, de desempregados e estudantes, todas dizendo: “Fora as Tropas Brasileiras do Haiti!”.

Segundo dia: polícia tenta impedir protestos
À tarde, fomos à sede da Batay, onde participamos de uma reunião com suas lideranças. Os companheiros foram surpreendidos por uma comunicação da polícia militar, direta e indiretamente controlada pela Minustah – as tropas de ocupação da ONU lideradas pelo Brasil. A polícia informava que não permitiriam realização de manifestações no dia 1º de Maio.

Disseram que o final da marcha não poderia ser em frente ao palácio presidencial, local que estava interditado para esse tipo de manifestação, nem poderia passar em frente ao hospital. O cômico da atitude ficou pior quando os companheiros lembraram que, neste ano, já haviam ocorrido duas marchas que passaram em frente ao hospital e pelo palácio presidencial.

Esta é uma verdadeira afronta ao movimento popular, à luta dos trabalhadores e à liberdade de manifestação aqui no Haiti.

Terceiro dia: polícia recua após pressão
Realizamos uma panfletagem nas portas das fábricas, ainda pela manhã, chamando os trabalhadores à manifestação do 1º de maio.

A dura realidade e a exploração do trabalho sentida pelos trabalhadores haitianos saltavam aos olhos. Na primeira etapa da panfletagem, num setor industrial predominantemente têxtil, muitos jovens saíam das fábricas visivelmente famintos, ávidos por um prato de comida que era comprado nas ruas próximas. Ao receberem o panfleto, nos perguntavam se havia dinheiro ou alimento para eles, mas sempre com o sorriso nos olhos, demonstrando uma alegria natural característica do povo haitiano.

O setor têxtil é um dos que mais explora a mão-de-obra local, limitando o salário dos trabalhadores a 70 gourdes por dia, o equivalente no final do mês a aproximadamente US$ 42 (R$ 100). Esse é o salário mínimo do Haiti, o mais baixo de todo o continente.

Tivemos a informação, através do companheiro Didier, de que a polícia havia “autorizado” as manifestações depois da pressão de lideranças sindicais. Até ontem, apenas dois ou três companheiros iam conversar com os militares, sempre apresentando o documento formal com a programação das atividades do 1º de Maio. Ao perceberem a resistência policial, resolveram ir com grupo maior, com mais de trinta companheiros, cuja pressão provocou uma mudança de postura das autoridades, que passaram a “concordar” com a programação.

Seguimos para outro setor do parque industrial, onde permanecemos com a panfletagem. Antes, porém, conseguimos entrar no referido setor e pudemos observar a estrutura de segurança e de controle do empresariado sobre os trabalhadores.
São várias indústrias instaladas dentro de uma mesma área, nos moldes de um grande condomínio fechado, com rígido controle de seguranças privados, da polícia e, inclusive, da própria Minustah, cujos veículos circulavam com frequência entre as ruas dentro e fora do condomínio, realizando uma pressão psicológica sobre os trabalhadores que ali se encontravam.

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