Petrobrás vende gasolina por um preço 44% mais alto que a média nos outros paísesNa contramão das principais empresas petrolíferas do mundo, a Petrobrás deve divulgar em breve o aumento em seus lucros no ano de 2009. Enquanto as outras empresas viram seus lucros se reduzirem a mais da metade no ano, especula-se que os lucros da estatal brasileira tenham ficado entre R$ 7,4 e R$ 7,5 bilhões só no último trimestre do ano passado, segundo o Centro Brasileira de Infraestrutura (CBIE). Com isso, a empresa se torna a quarta maior no ramo de energia.

Tal resultado, porém, não é fruto do aumento da demanda, nem tampouco da administração da Petrobrás. O motivo de a estatal lucrar tanto enquanto as outras grandes empresas do setor minguam são os altos preços cobrados pela Petrobrás sobre a gasolina no mercado brasileiro. Em 2009, a gasolina vendida no Brasil estava 44% mais cara que o preço médio internacional. Uma das mais caras do mundo. Já o diesel foi vendido 33% mais caro que o seu preço lá fora.

Segundo matéria publicada pela Folha de S. Paulo em janeiro, o preço do litro da gasolina no Brasil está muito distante dos outros países. Enquanto aqui se paga, em média, R$ 2,59, na Argentina, por exemplo, gasta-se R$ 1,53. No México, esse preço é o equivalente a R$ 1,10. Tirando a Europa, onde alguns países contam com a gasolina mais cara, só o preço no Japão se aproxima ao brasileiro. Lá, o litro da gasolina custa R$ 2,57.

De acordo com o CBIE, a diferença do preço cobrado pelo combustível no Brasil teria garantido à Petrobrás algo como R$ 12 bilhões. A empresa alega que a diferença de preço seria uma forma de compensar o “prejuízo” tido pela estatal durante 2005 e 2008, anos em que os preços no Brasil teriam sido menores que no mercado internacional. Em 2009, porém, enquanto o valor do barril de petróleo baixava nos outros países, a empresa manteve os mesmos preços. Isso não só compensou as “perdas” dos anos anteriores, como gerou um caixa de R$ 2 bilhões, que foram para o caixa da estatal.

O povo paga o lucro dos acionistas
Na prática, o povo brasileiro subsidia o lucro da Petrobrás e de seus acionistas. Apesar de ainda ser, formalmente, uma estatal, a petroleira passa por um acelerado processo de privatização. Hoje, 38,7% do capital social da empresa estão nas mãos de acionistas da bolsa de Nova Iorque ou de pessoas físicas estrangeiras. Ao todo, 58,2% do capital da Petrobrás pertencem a acionistas privados, nacionais e estrangeiros.

O alto preço da gasolina no Brasil interessa aos grandes investidores, que detém a maior parte da estatal. Os altos lucros da Petrobrás, assim, não se revertem em benefícios para a população. Os que aplicam o FGTS na empresa detêm apenas 2% de seu capital total. Ou seja, apesar de ainda ser uma empresa estatal, a Petrobrás opera sob uma lógica de empresa privada, que é a de ter o maior lucro possível e, assim, oferecer retorno aos grandes acionistas.

Por uma Petrobrás 100% estatal
Esse fato coloca a importância da campanha por uma Petrobrás 100% estatal, levada a cabo por setores do movimento sindical e popular, entre eles a Conlutas. Uma empresa realmente pública poderia voltar suas atividades inteiramente a serviço da população. No caso da Petrobrás isso significaria combustível mais barato, o que baratearia toda a cadeia de produção, diminuindo os custos com transportes, insumos e matérias-primas. Para os trabalhadores, representaria uma significativa redução do custo de vida.

Isso só seria possível, porém, atacando-se a lógica privatista da empresa, que sob o governo Lula só se aprofundou.

  • Veja a composição acionária e do capital da Petrobrás