Brasileiros e portugueses protestam em Londres contra morte de Jean
Indymedia

Parece cena de favela do Rio, mas aconteceu num país do chamado Primeiro Mundo. O brasileiro Jean Charles de Menezes, de Minas Gerais, morava há quatro anos em Londres. No dia 22, ele saiu de casa para fazer um serviço de eletricista e foi confundido com terrorista e assassinado “por engano” com oito balas na cabeça, por policiais britânicos, dentro do metrô.

Enquanto alguns brasileiros faziam um protesto em Londres contra o assassinato de Jean, as autoridades transmitiam mensagens pedindo desculpas, porém elogiando o trabalho da polícia britânica. Nos comunicados, afirmou-se com todas as letras que a política de “atirar para matar“ os que forem suspeitos de terror continuará de pé, e defenderam os policiais que, segundo eles, estão “trabalhando sob condições difíceis”.

As ridículas justificativas basearam-se na “aparência suspeita” de Jean. Os relatos que surgiram na imprensa falavam de “um homem de aparência asiática, vestindo um pesado casaco e um boné”. Qualquer semelhança com as ações da polícia nas favelas brasileiras não é coincidência. Lá, como aqui, o tom da pele é algo muito “suspeito”. Os amigos do eletricista mineiro disseram inclusive que Jean já havia sido parado antes pela polícia, quando carregava uma maleta de ferramentas para ir trabalhar.

Está acontecendo em Londres mais ou menos o que ocorreu nos EUA após o 11 de setembro. Os atentados ocorridos no dia 7 de julho justificam uma ação policial repressiva do Estado britânico sobre a sociedade. Policiais fortemente armados revistam casas, lojas e pessoas a todo momento e atiram para matar, se acharem que devem. O imperialismo usa esses ataques para espalhar mais violência pelo mundo.

Ian Blair, comissário da polícia londrina, disse, de maneira hipócrita, que lamenta o ocorrido, mas diz que outras pessoas poderão ser mortas à queima-roupa por agentes. O ministro do Interior, Charles Clarke, declarou que só tem “elogio e admiração pelo modo como a polícia fez seu trabalho“.

O brasileiro é mais uma vítima na conta de Tony Blair e da guerra imperialista. Bush e Blair são responsáveis tanto pelos atentados terroristas ocorridos em Londres como resposta à sua guerra, como também pela morte de Jean.

Jean era um trabalhador, como tantas vítimas da violência policial nas favelas brasileiras. Era trabalhador, como os mais de 50 mortos e centenas de feridos dos atentados de 7 de julho em Londres. Era um trabalhador, como tantos no Iraque e Afeganistão, vítimas das guerras imperialistas.

O governo brasileiro, por sua vez, colabora com as desculpas esfarrapadas da polícia britânica ao não ter uma postura dura diante do fato. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, limitou-se a dar declarações neutras de que concorda com a “luta contra o terrorismo”, mas que ela “tem que respeitar os direitos humanos”. Tal postura é um absurdo e representa submissão do governo brasileiro perante as declarações das autoridades britânicas. Ao contrário do botar panos quentes na situação, o governo brasileiro deveria romper imediatamente as relações diplomáticas com a Grã-Bretanha e denunciar Tony Blair pela execução.