Manaus 15 04 2020 O Amazonas contabiliza mais de 1,4 mil casos confirmados de Covid-19 e 90 mortes no período de 1 mês. A pandemia foi registrada pela primeira vez no estado, em 13 de março Enterro de dona Esther Melo da Silva no cemitério Parque Tarumã, em Manaus( Foto: Amazônia Real)
Redação

Em apenas cinco meses o Brasil perdeu mais de 100 mil vidas para a COVID-19. Na véspera de atingir essa marca macabra, o genocida Bolsonaro continua debochando daqueles que perderam seus familiares e dos que se arriscam diariamente no transporte público, nas fábricas e nos locais de trabalho. “Vamos chegar aos 100 mil mortos, mas vamos tocar a vida”, disse.

Bolsonaro é obviamente o maior responsável por essa terrível situação. Há semanas que o país registra mais de mil mortes diárias. Para fazer uma comparação, é como se todos os estudantes, professores e funcionários de duas escolas de tamanho médio no Brasil desaparecessem todos os dias.

Nesses quase cinco turbulentos meses, Bolsonaro minimizou a pandemia (disse que era uma gripezinha), chamou o isolamento social e a quarentena de histeria, menosprezou o número crescente de mortes dizendo que “todos nós iremos morrer um dia”. Foi o maior propagandista de fake news, mandando produzir toneladas de cloroquina que não servem absolutamente para nada. Mandou o Ministério da Saúde parar de divulgar os números diários de casos e mortes pelo coronavírus.

Pobres, negros e índios

O resultado não poderia ser outro. A pandemia se alastrou país afora, penalizando sobretudo os mais pobres e vulneráveis. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que os distritos com maior número de mortes na capital paulista estão relacionados a regiões que têm mais viagens de transporte público. Segundo os pesquisadores, a quantidade de viagens com transporte coletivo explica 80% a quantidade de óbitos.

As pessoas não se amontoam nos ônibus e trens porque querem. Fazem isso para não morrerem de fome, pois esse governo assassino nunca garantiu uma política séria para termos uma quarentena total, com renda digna e garantia de emprego. Sequer garantiu os pequenos negócios, que fecham um atrás do outro em razão da crise e da falta de ajuda por parte do governo. “Vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, disse Paulo Guedes com cinismo na famosa reunião ministerial gravada em vídeo. “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes empresas”, completou.

No começo da pandemia, o governo queria dar apenas R$ 200 de auxílio emergencial, enquanto liberou mais de R$ 1,2 trilhão para bancos. Foi obrigado a pagar R$ 600, um dinheiro que é insuficiente para manter uma vida digna na pandemia, mas que agora tem sido usado pelo governo como um instrumento para que Bolsonaro tenha algum apoio nos setores populares.

Morrem 40% mais negros que brancos por coronavírus no Brasil, escancarando o racismo dessa sociedade. A pandemia avançou para as áreas indígenas, invadidas por garimpeiros, madeireiros ilegais e fazendeiros. A fiscalização ambiental foi destruída, levando a um aumento de 72% no desmatamento na Amazônia de julho de 2018 a junho de 2020.

Apesar de tudo isso, no Congresso nem impeachment avançou. O que avançou mesmo foi a boiada que passou destruindo direitos da classe trabalhadora em prol dos mais ricos, que ficaram ainda mais ricos na pandemia. Basta lembrar que 42 bilionários faturaram US$ 34 bilhões na pandemia. Toda essa turma é cúmplice do genocídio de Bolsonaro. Enquanto isso, metade da classe trabalhadora no país está desempregada. Agora eles querem fazer uma reforma tributária para beneficiar ainda mais os capitalistas (leia nas páginas 5 e 6)

Bolsonaro é podre, um genocida autoritário. Não por acaso já se fala em seu julgamento no Tribunal de Haia por crimes contra a humanidade. Mas certamente não podemos esperar por isso. É preciso enfrentar agora esse governo e derrubá-lo, botar para fora Bolsonaro e Mourão, outro genocida que tem o mesmo projeto de ditadorzinho. Esse é o único caminho para que não tenhamos que chorar por 200 mil mortes em outubro ou novembro ou 500 mil até o começo do ano que vem.

Bolsonaro e Mourão não vão cair para ficarem impunes. A classe trabalhadora, os mais pobres, humilhados e oprimidos vão ter que acertar as contas com eles e sua cambada de assassinos. Até lá, vamos continuar lutando pelo isolamento social para valer, com garantia de emprego e renda.

 

SUBNOTIFICAÇÃO

Número de vítimas pode ser bem maior

O Brasil chegou a mais de 100 mil mortes por COVID-19, mas todos sabem que o número de vítimas e infectados é muito maior. Há vários especialistas que asseguram essa realidade. O renomado médico e neurocientista Miguel Nicolelis estima que o número de casos possa ser entre sete e doze vezes maior que o notificado. “Quando você tem uma perda de vidas da magnitude de 100 mil, você fala, na realidade, em 500 mil, 600 mil”, declarou numa reportagem do portal UOL.

O Brasil não faz testes o suficiente para sabermos os números exatos do avanço do vírus. Isso é proposital, pois faz parte do esforço do governo Bolsonaro para esconder os números reais de vítimas, varrendo para debaixo do tapete toda a real dimensão da tragédia que aflige o país.

 

BOLSONARO NÃO É O ÚNICO RESPONSÁVEL

A conta também é dos governadores e prefeitos

E não é só Bolsonaro que pretende “tocar a vida” e deixar a população morrer. Os governos estaduais e as prefeituras também têm sua parcela de responsabilidade no genocídio. No começo, tentaram se diferenciar de Bolsonaro e decretaram uma quarentena fake. Pressionados pelos capitalistas, não demoraram para reabrirem o comércio e falam até mesmo em reabertura das escolas, o que terá consequências funestas para toda a população. Isso inclui tanto os governos da direita tradicional quanto os governos do PT e do PCdoB (leia na página 10).

São Paulo é um grande exemplo. O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB, reabriram o comércio, foram responsáveis pela superlotação do transporte público, flexibilizaram o isolamento e sequer organizaram uma forte campanha de prevenção. O estado soma 25 mil óbitos, dos quais 10 mil são na capital.

Se incluir os casos suspeitos, o número vai para 16 mil. Só para comparar, a Argentina, registrou 4,1 mil mortes desde o início da pandemia. Enquanto a média nacional é de 46 óbitos por 100 mil habitantes, o estado de São Paulo tem 60, e a capital alcança 87, considerando apenas os óbitos confirmados. Se incluídos os suspeitos, o município de São Paulo chega a 135 óbitos por 100 mil, três vezes maior que a média nacional.

O Rio de Janeiro segue o mesmo ritmo: acumula mais de 14 mil mortos e mais de 182 mil casos confirmados de COVID-19.

Enquanto isso, a corrupção correu solta na pandemia. Um exemplo foi a prisão do ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Edmar Santos. Ele fraudou contratos de compra de respiradores pulmonares em caráter emergencial para atendimento de pacientes com COVID-19 segundo investigações da polícia. Quando foi preso, os agentes encontraram ao menos R$ 6 milhões em espécie numa casa que pertence a Edmar.

A corrupção explodiu na pandemia. Há inúmeros casos como o de Santa Catarina, que comprou respirador de uma empresa que não faz respirador; variações de preço de até 185% no Ministério da Saúde; compra de respirador em lojas de vinhos no Amazonas; entre outros casos. Hoje todos os estados do país, à exceção do Espírito Santo, têm alguma investigação em curso por corrupção devido a superfaturamento na compra de equipamentos na pandemia.

Bolsonaro se aproveita da situação e diz que as mortes causadas pelo vírus são culpa dos governadores. Na prática, não há uma oposição dos governos a Bolsonaro. Uma prova disso é que até o governador do PCdoB no Maranhão, Flavio Dino, falou em fazer um pacto com Bolsonaro. Esse pacto já existe. É o pacto da morte que se revela quando o Governo Federal e os governos estaduais se unem para mandar o povo trabalhador para o abate, pois eles só estão preocupados mesmo em garantir os lucros dos capitalistas.

 

FAKE NEWS

Rússia registra vacina sem fazer testes

No último dia 11, o governo russo de Vladimir Putin anunciou o registro de uma vacina contra a COVID-19, chamada por ele de Sputinik 5. A tal descoberta cheira e tem jeito e cara de fake news. Isso porque a Rússia sequer publicou os resultados dos testes da primeira fase do desenvolvimento da vacina.

Explicando: o desenvolvimento de uma vacina segue rígidos protocolos internacionais científicos que são divididos em três fases. Isso é necessário para garantir a segurança da população, uma vez que uma vacina errada pode piorar ainda mais a pandemia, fortalecendo o vírus e causando mais mortes.

Pelo que se sabe, a Rússia apenas terminou os testes de fase 1 em junho/julho. Precisariam fazer os testes das fases 2 e 3 de segurança e imunização depois. Pelo tempo que nossa resposta imune leva para aparecer, não é possível fazer todos os outros testes até agora.

Toda vacina que é desenvolvida precisa ter uma boa resposta imune. Quanto mais gente vacinada, melhor para combater o vírus. Por exemplo, a vacina da gripe imuniza por volta de 60%. Isso quer dizer que 40% dos vacinados e os que não pode tomar a vacina continuam correndo risco de contrair o vírus. Por isso, dependemos de muitos se vacinarem para se gerar imunidade coletiva e o mundo ficar protegido. Uma vacina ineficaz, que não gera essa imunidade coletiva, só pode agravar a contaminação.

A Rússia tem interesses políticos e econômicos com esse anúncio, uma vez que a corrida por uma vacina contra a COVID-19 poderá gerar grandes lucros a grandes laboratórios. É preciso dizer que já poderia existir uma vacina pronta, porque houve um surto de coronavírus da Sars em 2002. Ela não foi feita porque, naquele momento, a doença afetou apenas uma parte da população da Ásia e não daria lucro suficiente para os grandes laboratórios. Agora, estão correndo atrás de uma situação muito grave e, além disso, buscam faturar muita grana.

  • 20 de março – 904 casos e 11 mortes – “Gripezinha não vai me derrubar.”
  • 29 de março – 4.256 casos e 136 mortes – “Todos nós iremos morrer um dia.”
  • 20 de abril – 40.581 casos e 2.575 mortes – “Eu não sou coveiro, tá?”
  • 28 de abril – 71.886 casos e 5.017 mortes – “E daí? Quer que eu faça o quê?”
  • 19 de maio – 270.000 mil casos e 18.000 mil mortes – “Toma quem quiser, quem não quiser, não toma. Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína.”
  • 2 de junho – 555.383 casos e 31.199 mortes – “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo.”
  • 25 de junho – 1.233.147 casos e 55.054 mortes – “Não podemos ter aquele pavor lá de trás, que chegou junto à população e houve, no meu entender, um excesso de preocupação apenas com uma questão [saúde] e não podia despreocupar com a outra [economia].”
  • 7 de julho – 1.674.655 milhão de casos e 66.868 mortes – “Levaram um certo pânico à sociedade no tocante ao vírus.”
  • 23 de julho – 2.289.951 infectados e 84.207 mortes – “Não precisa ter pavor no tocante ao vírus.”
  • 8 de agosto – 3.013.369 casos e 100.543 mortes – “Vamos tocar a vida.”