Parada do Orgulho Gay e Lésbico em São Paulo
CMI

Uma gigantesca Parada em São Paulo deu a largada para as atividades de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros (GLBT) em comemoração ao Dia do Orgulho GLBT, em 28 de junho. Maior evento GLBT do país e, agora, do mundo, a Parada de São Paulo éÉ difícil precisar o número exato de pessoas que tomaram as ruas de São Paulo, no domingo 29 maio, na 9a Parada do Orgulho GLBT. Os organizadores do movimento e parte da imprensa divulgaram 2,5 milhões; outros jornais e a TV falaram em 1,8 milhão e a polícia calculou 1,5 milhão.

O certo é que foi o maior evento de rua da história de São Paulo. A passeata, que partiu da Avenida Paulista, demorou cerca de oito horas para atingir o centro da cidade, cobrindo todo o percurso, de cerca de 13 quilômetros.

Apesar de ter como mote a exigência da aprovação da parceria civil – projeto há dez anos engavetado no Congresso –, a Parada, lamentavelmente, foi marcada mais uma vez pela despolitização. Os cerca de 30 trios elétricos tocaram música sem parar e foram raríssimos os pronunciamentos políticos feitos no percurso.

Aliás, os únicos partidos políticos que compareceram como tal na Parada foram o PSTU – com uma coluna de militantes carregando nossas bandeiras enfeitadas com as cores do arco-íris e uma faixa onde se lia “Diga não à homofobia e às reformas de Lula/FMI” – e o P-SOL, que aderiu à onda dos trios elétricos. No mais, o que se via eram carros comandados por ONG’s do movimento GLBT e, principalmente, por casas noturnas e empresas voltadas para homossexuais.

Inegavelmente importante para dar visibilidade às reivindicações de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, a Parada, a começar por sua direção, é hoje o maior símbolo da equivocada postura que o movimento tem assumido: a limitação da luta GLBT à pressão institucional, a transformação dessa luta na defesa da “cidadania”, entendida basicamente como acesso ao mercado e direito ao consumo, e de sua data mais importante em enorme festa, um tipo de “carnaval techno”, fora de época.

Uma festa cada vez mais lucrativa
O setor de turismo de São Paulo, por exemplo, tem hoje, na Parada, sua principal atividade e os empresários dos vários setores vinculados ao evento não se cansam de falar nos milhões que lucram com o evento.

Uma situação que, infelizmente, se distancia muito da origem do Dia do Orgulho GLBT, em 28 de junho de 1969, quando, cansados da repressão policial, homossexuais que estavam num bar de Nova York, o Stonewall, partiram para o confronto com a polícia e tomaram, durante quatro dias, as ruas, armando barricadas e expulsando a polícia.

Como também, o caráter excessivamente festivo da Parada não corresponde à situação enfrentada por homossexuais do país ou à ausência de uma política nacional para garantir nossos direitos.

O Brasil de Lula ainda é homofóbico
Há exatamente um ano, bem ao seu estilo de criar “factóides”, o governo Lula lançou o projeto “Brasil sem homofobia”, um calhamaço com dezenas de propostas para combater o preconceito contra a população GLBT. Saudado com entusiasmo pela maioria do movimento GLBT, o projeto, contudo, teve o mesmo destino das demais promessas que Lula fez: caiu no vazio e virou letra morta. Até hoje, nenhuma medida foi tomada e nem sequer um centavo foi destinado para o projeto.

O projeto, diga-se de passagem, foi lançado menos que um mês depois de Lula ter dado uma declaração que evidencia sua real visão sobre a homossexualidade. Tentando rebater um artigo comentando seus hábitos etílicos, Lula afirmou que tinha que tomar uma atitude (expulsar o jornalista do Brasil), porque “se eu deixar que me chamem de bêbado sem fazer nada, daqui a pouco alguém vai dizer que eu sou gay e vocês não vão deixar eu fazer nada”.

Fruto dessa ausência de políticas, a violência, seja ela física ou verbal, continua sendo uma constante na vida de milhares de homossexuais. Mortes como a de Edson Neri, espancado por skinheads em São Paulo, em 2000, estão longe de ser exceção.
Se a fala homofóbica não nos causa surpresa, já que, desde o início, Lula se aliou a setores raivosamente homofóbicos – a começar pelo partido de seu vice, o PL, e a Igreja Universal, que não se cansam de pregar a “cura” para o nosso “mal” –, a ausência de políticas por parte de seu governo também não pode ser vista com espanto. Afinal, esse é o mesmo governo que, há tempos, definiu que sua prioridade não é garantir direitos à população, mas satisfazer a infinita ganância dos banqueiros, empresariado e dos “picaretas” do Congresso.

É o mesmo governo que quer confiscar direitos históricos dos trabalhadores e da juventude, com suas reformas neoliberais e, em função de sua covarde submissão ao imperialismo, desvia todo o dinheiro que poderia ser investido em projetos sociais para o pagamento da dívida externa.

Não “sobra”, portanto, nada para combater a homofobia – ou o machismo e o racismo, como o governo também prometeu. E mais: cada vez fica mais evidente que a desculpa de que não há dinheiro também é uma farsa. Aliás, há tanta grana que os membros do governo estão naufragando num verdadeiro mar de lama com as denúncias de corrupção.

Orgulho para lutar!
`FaixaCada vez fica mais claro que só conquistaremos um “Brasil sem homofobia” com muita luta. Uma luta que, hoje, também tem que se voltar contra este governo e seus aliados.

Por isso, também, acreditamos que as paradas deveriam ser muito mais do que uma festa dominada por empresas que sobrevivem às custas de nosso dinheiro. A luta que motivou o surgimento do Dia do Orgulho GLBT continua mais necessária que nunca: contra a repressão e a violência que ainda nos vitimam; contra a onda conservadora, que tem no novo Papa seu maior porta-voz; contra a discriminação que atinge todos os aspectos de nossa vida.

Por isso, a secretaria GLBT do PSTU defende que, nas Paradas, além da música, deveríamos fazer ecoar nossas reivindicações e indignação contra a homofobia. Que deveríamos tomar as ruas para dizer em alto e bom som que temos orgulho de sermos quem somos e queremos ter nossos direitos garantidos: do reconhecimento civil de nossos parceiros até empregos e salários dignos.

Direitos que, acreditamos, só poderão ser conquistados na luta contra este governo e o podre sistema que ele representa.

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