A Copa do Mundo vai ampliar a desigualdade social, com remoções e despejos, apesar do discurso de que a vida de todos irá melhorar com os megaeventos.

Aos poucos, o clima de Copa do Mundo vai contagiando o país. A paixão pelo futebol é algo tão forte na cultura popular que mesmo as recentes atuações duvidosas da seleção, às vésperas do início da Copa das Confederações, não deve esfriar a torcida pelo Brasil. No entanto, ao contrário dos versos da canção da Copa de 1970 que diz: “parece que todo o Brasil deu a mão/ todos ligados na mesma emoção/ tudo é um só coração”, os “90 milhões em ação” (que hoje são 190), não estão unidos em uma única corrente. No Brasil do governo do PT, alguns poucos continuam se enriquecendo às custas dos milhões que, estes sim, carregam o Brasil “pra frente” como diz a música.
Em um país marcado pela desigualdade social, nunca foi tão grande a diferença entre ricos e pobres. Desigualdade essa que se torna ainda mais visível com as grandes obras, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as da Copa do Mundo.
Na usina de Belo Monte, por exemplo, uma das maiores obras em execução, hoje, e símbolo máximo do “desenvolvimentismo” petista, operários sobrevivem em condições precárias e são reprimidos pela Força Nacional do governo Dilma quando se revoltam e fazem greve. Repressão que recai também sobre os indígenas, que vêem ameaçadas suas terras, e que ocupam o canteiro de obras reiteradas vezes em busca de uma negociação sempre negada pelo governo.

Uma Copa desigual em um país desigual
A Copa do Mundo, por sua vez, torna essa diferença ainda mais explícita. Apesar do discurso de que a vida de todos irá melhorar com os megaeventos, a verdade é bem outra. Grandes empresas e empreiteiras enriquecem através das obras dos estádios e do marketing que gira em torno do torneio, enquanto o povo pobre sofre com as remoções forçadas, despejos e a limpeza étnico-social das capitais que receberão os jogos.
Apesar de a paixão pelo futebol unir os brasileiros, o governo e as grandes empresas não têm dúvida: a Copa não é para todos, mas só para alguns. Os ingressos, por exemplo, dão uma medida disso. Recentemente, o cartão de crédito Visa abriu uma pré-venda dos ingressos, exclusivos para seus clientes. O ingresso mais barato saía por volta de 590 dólares, ou R$ 1.200, duas vezes o salário mínimo. O mais caro estava na faixa dos 4,5 mil dólares, ou R$ 9 mil. Quando um operário da construção civil, que trabalhou e construiu esses estádios, vai poder entrar para assistir uma partida de futebol?
Mesmo a Copa das Confederações, com ingressos mais baratos, é inviável para os trabalhadores. O ingresso mais barato para a final do campeonato custa R$ 1.222.

Abismo social
Uma Copa para poucos não é novidade em um país acostumado a canalizar suas riquezas para o benefício de uma pequena minoria. Apesar de o Brasil ocupar o sétimo lugar entre as maiores economias do mundo, figura apenas no 85º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os 187 países avaliados. Apesar de discutível em seus critérios para avaliar a qualidade de vida, o IDH mede o nível de escolaridade, renda per capta e expectativa de vida de uma população, servindo para dar uma pequena mostra de suas condições de vida.
Se levarmos em conta as desigualdades raciais, o abismo social fica ainda mais estarrecedor. O rendimento médio de um branco, em 2012, era de R$ 2.237, segundo levantamento da UFRJ. Já entre os negros era de R$ 1.255. Ou seja, um trabalhador branco recebe, em média, 78% a mais que um negro.
Já a taxa de desemprego, nos critérios definidos pelo IBGE, foi de 4,7% entre os brancos e 6,4% entre os negros. Se fôssemos considerar as diferenças de gênero, essa desigualdade seria ainda maior.
Ou seja, existem hoje dois Brasis: o dos ricos e o dos pobres, e um terceiro ainda, dos trabalhadores pobres e negros. No país da Copa, os trabalhadores, negros e pobres, são sempre jogados para escanteio.
 

Post author Cleber Rabelo, de Belém (PA)
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