Foto Marcello Casal Agência Brasil

“O Trump serve de exemplo pra mim”, afirmou Jair Bolsonaro em outubro passado. Essa não é mais uma das bravatas do político.

Na seção Painel desse dia 13 de julho na Folha de São Paulo, foi noticiado que o pré-candidato se reuniu há poucos dias com Peter Michael McKinley, embaixador dos EUA, em novo esforço de se aproximar do governo daquele país. Ainda segundo a nota, o pré-candidato busca conseguir um encontro com o próprio Donald Trump.

Há um número considerável de trabalhadores que pretendem votar em Bolsonaro não necessariamente por suas propostas, mas por ter um discurso aparentemente contra o sistema político e econômico. Esse elemento é comum à realidade de outras partes do mundo.

Expressão disso é o próprio Trump, cujo discurso eleitoral foi marcado por mostrá-lo como uma figura fora do esquema partidário tradicional, habilitada por isso a enfrentar os interesses que prejudicam o povo dos EUA. Um ano e meio depois de eleito, não há dúvidas sobre de que lado ele realmente está.

A propaganda racista e xenófoba tornou-se prática, com a violenta política anti-imigração. As imagens das crianças separadas de suas famílias deixaram o mundo estarrecido.

Na guerra comercial que vem alimentando, o magnata brande o argumento de que a economia estadunidense e, em particular, o nível de emprego na indústria, é prejudicado antes de tudo pelas jogadas comerciais de outros países. Mas de acordo com o economista Michael Roberts, a perda de empregos industriais deve-se à inevitável tendência do capital norte-americano para baixar os custos da força-de-trabalho, substituindo trabalhadores por máquinas. Além desse fato, existe também a busca no exterior por áreas com mão-de-obra mais barata.

Atacar de fato o problema passaria por medidas desagradáveis para a burguesia do império, como dividir o trabalho existente pelos empregados, em vez de demitir, ou abandonar a exploração selvagem nas periferias do capitalismo.

E Bolsonaro?  Sobre o tema dos venezuelanos que chegam ao Brasil, já afirmou em 2017 que: “A elite foi a primeira a sair da Venezuela. Essa foi para Miami. A parte mais intermediária, grande parte foi para o Chile. E agora os mais pobres estão vindo para o Brasil”. A solução seria revogar a lei de imigração e construir campos de refugiados.

Ou seja: os trabalhadores que se explodam. No que depender dele, veremos por aqui as mesmas cenas cruéis da fronteira dos EUA.

O militar reformado gosta de se apresentar também como um nacionalista. Mas busca o apoio de um dos Estados capitalistas responsáveis pela recolonização de nosso país.

Como escreveu Vera, pré-candidata do PSTU à presidência, a “burguesia nacional é cúmplice da espoliação de nossas riquezas, vive das migalhas do imperialismo e não é capaz de enfrentá-lo”. E não só na economia. Embora o Brasil tenha governo e forças armadas próprias, a regra é vê-los obedecendo às grandes potências.

Bolsonaro bate continência à bandeira norte-americana durante visita a Miami

Como esquecer que Lula enviou tropas ao Haiti, a pedido do então presidente Bush, para atuar contra os trabalhadores do país caribenho? Sem falar do patrocínio do governo Temer à entrega de uma das divisões mais rentáveis da Embraer à norte-americana Boeing.  Vale lembrar também que na recente visita do vice-presidente norte-americano ao nosso país, um dos debates principais foi o acordo para utilizar por 20 anos a base de Alcântara (MA), garantindo a outro país o controle direto de uma parcela do território nacional – um flagrante risco à soberania.

O nacionalismo de Bolsonaro é daquele tipo típico da burguesia brasileira e seus governos: jura defender os interesses do país, enquanto baixa a cabeça aos EUA.