Jeferson Choma

Bolsonaro não cansa de dar prova de que é um capacho de Donald Trump. Pela primeira, vez o governo brasileiro se alinhou aos Estados Unidos e rejeitou resolução da Assembleia-Geral da ONU que pede o fim do bloqueio econômico norte-americano contra Cuba.

A posição do Brasil, porém, não mudou a posição histórica da ONU que, pelo 28º ano consecutivo, aprovou a resolução contra o embargo.

O bloqueio à Cuba é uma ação criminosa do imperialismo americano em retaliação à revolução realizada pelo povo daquele país. Em dezembro de 1960, os Estados Unidos suspenderam a compra do açúcar cubano. Em janeiro de 1961, romperam relações. Em abril desse mesmo ano, cerca de 1.400 exilados cubanos, treinados e armados pela CIA, desembarcaram em Playa Girón (Baía dos Porcos) com o objetivo de derrubar o governo. Foram derrotados pela heroica resistência cubana. Em janeiro de 1962, Cuba foi excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em fevereiro, o presidente John Kennedy – o “queridinho da América” –  ordenou o bloqueio econômico total a Cuba. Além disso, em todos esses anos a CIA preparou atentados para matar não só Fidel Castro, como educadores, dirigentes populares e trabalhadores comuns.  Para isso derrubou aviões e organizou explosões de bombas no país.

Em 2006 foram revelados ao público documentos que mostram a participação do serviço secreto dos EUA nos atentados. Toda essa história é ignorada pelos que apoiam e sustentam a política criminosa de Bolsonaro aplicada no país.

A grande comédia nessa história toda é que o amor de Bolsonaro por Trump não é correspondido. O maior símbolo disso foi o fato de os EUA terem recusado endossar a tentativa do Brasil de ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

É preciso repudiar a política de Bolsonaro contra a Cuba. Também é preciso se colocar radicalmente contra o bloqueio econômico à Ilha que provoca privações de medicamentos, alimentos e só castiga o povo cubano.

O que é Cuba hoje?
É necessário fazer, porém, um outro importante debate. Afinal, o que é Cuba hoje? Será que é só o bloqueio vem causado mazelas ao povo cubano.

Graças à revolução de 1959, Cuba conquistou avanços imensos em áreas como educação e saúde pública, com níveis comparáveis aos países imperialistas, e superou, nessas áreas, nações mais desenvolvidas como Brasil, México ou Argentina. Também avançou muitíssimo o nível de vida geral da população, e a pobreza foi eliminada. Não fosse a revolução Cuba seria mais um país miserável latino-americano.

No entanto, é preciso dizer que as conquistas da revolução retrocederam muito. Só um fanático estúpido nega esse fato. E não é só por conta do embargo criminoso imposto pelo imperialismo. Outro problema sumamente importante é que o capitalismo já foi restaurado na ilha, na segunda metade da década de 1990, associado ao imperialismo europeu e ao Canadá. Como exemplo, citamos o fim do monopólio do comércio exterior por parte do Estado, exercido pelo Ministério de Comércio Exterior. Hoje, tanto as empresas estatais como as mistas podem negociar livremente suas exportações e importações.

Há outros exemplos, como no turismo, em que a empresa espanhola Meliá possui uma rede de hotéis no país. Ou, ainda, o caso da companhia telefônica de Cuba (Etecsa) que foi privatizada pelo governo, vendida ao Grupo Domos, do México, em parceria com a italiana Stet.

Mas, talvez, uma das provas mais sensíveis da restauração seja o retorno de mazelas típicas do capitalismo. A prostituição, velha chaga capitalista, retornou com força à Ilha e é visível pelas cercanias da avenida Malecon, em Havana.

A desigualdade social e a miséria também se expressam nos bairros, ruas e acessos a serviços. Quem tem dinheiro vive em bairros ricos (isso mesmo, existem residências de gente rica em Cuba); já os mais pobres têm que se virar em apartamentos caído aos pedaços no centro de Havana.

Por isso, associar Cuba ao socialismo é um equívoco cometido por vários setores de esquerda brasileira. Além de ter restaurado o capitalismo, o regime cubano é uma ditadura que proíbe liberdades democráticas elementares como sindicatos independentes, greves, jornais autônomos, livros e até viagens de seus cidadãos a outros países são bem restritas. É esse projeto que a esquerda castrista tem quando fala em defender o socialismo? A questão é que socialismo não nada a ver com isso. Socialismo é a economia e o poder político nas mãos dos trabalhadores organizados num novo tipo de Estado, sustentando por conselhos, assembleias etc., de operários e camponeses. Isso não existe nem em Cuba, na Venezuela, China ou Coreia do Norte.

É claro que é inaceitável o bloqueio imperialista sobre Cuba, ou qualquer tipo de ataque ao seu povo. Por isso, o primeiro dever de qualquer um que luta pela transformação social, contra a opressão e exploração, é estar junto ao povo cubano. Mas estar com o povo cubano é também lutar contra as mazelas provocadas pelo capitalismo que retornaram à Ilha.