Marcelo Casal Agência Brasil

No momento em que o Brasil ultrapassava a marca das 40 mil mortes notificadas pelo novo coronavírus, na noite desta quinta-feira, 11, Jair Bolsonaro reafirmava, em sua live semanal, a intenção do governo de diminuir pela metade o auxílio emergencial, ou vetar tudo caso o Congresso aprove um valor maior que R$ 300.

Na Câmara por exemplo, vamos supor que chegue uma proposta de duas de R$ 300, se a Câmara quiser passar para R$ 400, R$ 500, ou voltar para R$ 600, qual vai ser a decisão minha? Para que o Brasil não quebre? Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dívida cada vez mais impagável. É o veto“, disse. A intenção do governo em pagar só mais duas parcelas do auxílio, reduzindo seu valor à metade, já havia sido informada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Agora, Bolsonaro crava: é isso ou nada.

Lembrando que a proposta inicial do governo, no começo da crise, era de um auxílio de R$ 200, bem abaixo dos R$ 600 aprovado no Congresso Nacional e que, ainda assim, é absolutamente insuficiente para garantir renda para que as pessoas fiquem em casa. Como se isso não bastasse, algo como 10 milhões de pessoas aguardam ainda a liberação do auxílio, presas na eterna “em análise” da Caixa.

Hoje, o auxílio atinge cerca de 50 milhões, sendo que mais de 100 milhões de trabalhadores desempregados e informais estão sem qualquer tipo de renda. Bolsonaro vetou ainda um projeto aprovado no Congresso Nacional que ampliava o auxílio a categorias como motoristas, taxistas, entregadores de aplicativo, agricultores e catadores.

Os três meses de pagamento do auxílio, nos critérios atuais, custariam, segundo cálculos do próprio governo, R$ 123 bilhões, bem abaixo do R$ 1,2 trilhão liberado aos bancos no início da pandemia.

Mortes acima de tudo

Com a ameaça de diminuir o auxílio pela metade, ou de simplesmente acabar com tudo, Bolsonaro reafirma a sua política genocida que já levou o Brasil ao topo do ranking de contágios e mortes diárias. É uma sabotagem consciente para forçar a volta ao trabalho da população mais pobre e vulnerável, sob o risco de morrer de fome, a fim de continuar fazendo rodar a “economia”. Leia-se: garantir os lucros dos bancos e das grandes empresas.

Numa reunião com empresários em maio, Paulo Guedes disse que, se estender o auxílio, “ninguém trabalha”, pois a vida estaria “boa”. “Se falarmos que vai ter mais três meses, mais três meses, mais três meses, aí ninguém trabalha. Ninguém sai de casa e o isolamento vai ser de oito anos porque a vida está boa, está tudo tranquilo“, disse, zombando da vida de milhões de trabalhadores que estão tendo seus salários e direitos reduzidos, ou estão no desemprego e na informalidade, quando não morrendo pela COVID-19 cujos números de vítimas o governo tenta esconder.

(Brasília – DF, 10/06/2020 O presidente Jair Bolsonaro , Paulo Guedes durante videoconferência.
Foto: Isac Nóbrega/PR

Guedes quer ainda aproveitar a pandemia para passar sua obsessão da tal “carteira verde-e-amarela” que elimina direitos básicos da CLT e precariza ainda mais o trabalho no país. Isso quando se aponta um cenário de depressão que afetaria justamente os mais pobres.

Estudo recém-lançado pela Universidade King’s College London e a Universidade Nacional da Austrália, aponta vários cenários para o aumento drástico da pobreza no Brasil. Numa hipótese de queda de 20% na renda e consumo, o número de pessoas vivendo na pobreza aumentaria em 14,4 milhões (considerando o critério de pobreza renda de até 5,5 dólares – ou R$ 27,40 – ao dia). Em qualquer cenário, o Brasil “contribuiria” sozinho para o aumento de 25% a 30% de pobres em toda a América Latina.

Fora Bolsonaro e Mourão

Caminhamos rapidamente para o macabro ranking de mortos pela pandemia, resultado direto dessa política de genocídio de Bolsonaro, seguido agora de forma mais direta pelos governadores nos estados, que reabrem a economia justo no momento mais dramático. A cada dia, Bolsonaro prova que o tempo em que passa no poder é sinônimo de mais mortes, mais pobreza e miséria. A tarefa primeira e fundamental hoje para enfrentar a pandemia é derrubar esse governo assassino.

É preciso lutar por uma verdadeira quarentena, a fim de preservar vidas, com a garantia de emprego e renda. Bolsonaro, que trazia a falsa dicotomia entre a morte e a miséria, escolheu para o povo essas duas alternativas.