Foto Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Redação

O dinheiro que Bolsonaro diz faltar para o combate à pandemia, como o investimento em vacina ou no auxílio-emergencial, não faltou para a eleição de seu candidato à Presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Líder do “centrão”, a camarilha corrupta que se vende a qualquer um que queira pagar, Lira obteve 302 votos contra 145 de Baleia Rossi (MDB-SP), o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A vitória de Arthur Lira consolida o casamento de Bolsonaro com o centrão, garantindo, pelo menos no curto prazo, um certo respiro. Mas não custou barato. Foram ao menos R$ 3 bilhões de emendas parlamentares extras prometidos aos deputados. Para se ter uma ideia, daria para comprar 107 milhões da vacina da Oxford, imunizando e salvando a vida de mais de 53 milhões de pessoas. Só em janeiro, o Governo Federal liberou uma quantia recorde em emendas, R$ 504 milhões, enquanto pacientes morriam por falta de oxigênio em Manaus.

A negociata inclui ainda ministérios como o da Educação, o Ministério da Cidadania que cuida do Bolsa Família e o próprio Ministério da Saúde, hoje a cargo do general “especialista em logística”, Eduardo Pazuello.

Já Arthur Lira é macaco velho da escola Eduardo Cunha da política, de quem é amigo aliás. Acumula denúncias de lavagem de dinheiro e corrupção, incluindo aí um esquema de “rachadinha” que a família Bolsonaro conhece muito bem. No comando da Câmara, Lira promete barrar CPI’s como a da Fake News, e avançar na chamada “pauta de costumes” e demais políticas do governo genocida de Bolsonaro, como a reforma administrativa e as privatizações.

Se no primeiro momento a eleição do representante-mor do centrão garante um alívio momentâneo a Bolsonaro, a experiência recente mostra que isso não segura governos. Primeiro, que o governo vai ter que pagar e dar o que prometeu. Segundo, com o recrudescimento da crise e uma eventual queda na popularidade e corrosão da base social do governo, que já começa a se observar, esses políticos são os primeiros ratos a abandonar o barco.

A eleição da Câmara mostra ainda a covardia explícita e vergonhosa de Rodrigo Maia, traído pelo próprio partido e que, mesmo assim, segurou até o último minuto de mandato os 56 pedidos de impeachment que dormiram por meses em sua gaveta. Maia representa a burguesia liberal-democrática que, embora concorde em 100% com a pauta de Paulo Guedes, não apoia o projeto de ditadura de Bolsonaro.

Pois bem, se ele estivesse realmente preocupado com a democracia, já que o próprio presidente defendeu o fechamento do Congresso, aceitaria ao menos um dos pedidos de impeachment, que ele mesmo confessou já haver “parecer jurídico favorável”.

Mas nem pela lealdade ao próprio jogo da democracia burguesia, nem pela própria honra, ele aceitou. Não menos vergonhoso foi o apoio de setores da esquerda do PT e do PSOL a esse político que sai de cena com a pecha de covarde.

No Senado, PT junto com Bolsonaro

Já a eleição do novo líder do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), contou com o apoio do então presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Primeiro, Alcolumbre pediu e recebeu as bençãos de Bolsonaro. Depois, fechou com o PSD e o PT, mostrando que o discurso da “luta contra o fascismo” dura até o início da distribuição de cargos.

Só a luta pode botar abaixo Bolsonaro e seu projeto genocida

As eleições desta segunda-feira mostraram que não vai ser através do parlamento que se poderá derrotar Bolsonaro e seu projeto de genocídio. Só a luta e a mobilização poderão botar abaixo esse governo miliciano cuja estratégia, já comprovada, é a de espalhar o vírus para manter a “economia”, leia-se os lucros das grandes empresas, banqueiros e multinacionais. Tirá-lo de lá é condição fundamental para se enfrentar a pandemia. E as condições para isso avançam, como mostraram a queda nas pesquisas e os recentes panelaços.

As carreatas dos últimos finais de semana foram importantes para dar um pontapé nesta luta. Neste sentido, é fundamental fortalecer e avançar nessa mobilização, unificar as lutas dos trabalhadores, do povo pobre e setores oprimidos, pelo Fora Bolsonaro e Mourão, por vacina já para todos, e pela volta do auxílio-emergencial e a defesa dos empregos.

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