Desde o dia 10 de janeiro a Bolívia vive revoltas populares. O decreto do presidente Carlos Mesa em 30 de dezembro, aumentando os preços do diesel e da gasolina em até 23%, desencadeou os protestos. A alta nos combustíveis não só aumenta o custo de vida nas cidades, como também atinge os camponeses, que dependem do diesel para trabalhar no campo.

Desde a queda do ex-presidente Sánchez de Lozada, o governo Mesa não atendeu às reivindicações populares e seguiu aplicando a política do FMI. A onda de protestos que se iniciou resgata a pauta de reivindicações do movimento contra a desnacionalização dos recursos naturais.

Além das grandes marchas a La Paz, os protestos incluem greves, ocupações, bloqueios de estradas, greves de fome, sendo que as cidades de El Alto e Santa Cruz são os focos de maior mobilização.

Com a pressão do movimento popular, Mesa fez alguns recuos. Foi obrigado a anular o contrato com a companhia francesa Suez para a exploração da água após a empresa ter suas instalações ocupadas e reduziu o preço do diesel. Porém, essas ações foram insuficientes para desmobilizar os bolivianos. É preciso expulsar outras transnacionais e derrotar totalmente o aumento dos combustíveis.

Repressão autorizada

Além das tentativas de barrar os conflitos através de pequenas concessões, Mesa autorizou um recrudescimento nas repressões contra as manifestações. A polícia já vinha reprimindo os atos desde o início. Porém, em 14 de janeiro, o presidente anunciou um decreto que autoriza o Exército a usar armas de fogo contra as mobilizações.

Evo Morales ajuda a sustentar o governo

O acordo do dirigente do Movimiento al Socialismo (MAS) Evo Morales com o governo Mesa ultrapassou todos os limites. Visto como a principal figura pública dos movimentos populares, Evo fez um acordo de trégua com o governo empossado após a queda de Lozada. A estratégia de Morales é preservar as instituições e o calendário eleitoral, no qual o MAS aposta todas as fichas. Por isso, neste momento, em que há protestos radicalizados e muitos defendem o fim do governo, Morales se limita a exigir “mudanças estruturais” e se choca com as exigências dos manifestantes.
Outros dirigentes têm uma posição diferente. O líder camponês Felipe Quispe, que durante a posse de Mesa também defendeu a trégua ao governo, hoje defende a sua derrubada. “Nós, camponeses, não temos medo. Derrubamos Banzer, derrubamos Sánchez de Lozada e parece que agora é preciso derrubar Mesa”, afirmou Quispe.

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