País se encontra entre o avanço da mobilização das massas e a ofensiva reacionária e divisionista da burguesiaEsta era a frase de um cartaz da COB (Central Operária Boliviana), entidade que realizou uma grande marcha pelas ruas de La Paz, no dia 23 de janeiro. Importantes setores dos trabalhadores bolivianos estiveram presentes, como professores (exceto os de La Paz, devido ao boicote do POR, que dirige o sindicato), operários e os mineiros estatais de Huanuni.

A mobilização aconteceu no mesmo dia em que o governo de Evo Morales completou dois anos e armou uma grande comemoração na praça Murilo (onde estão os poderes executivo e legislativo) para festejar sua pseudo-revolução democrática e cultural. A festa governista contou com sua principal base de sustentação, os camponeses, a COR de El Alto e representantes dos povos indígenas.

A marcha da COB aconteceu em um momento crucial da situação política do país, marcada por uma crescente polarização social. Nos últimos meses houve fortes enfrentamentos entre setores populares e grupos ultra-reacionários patrocinados pela burguesia. Dirigentes e organizações sociais vêm sofrendo constantes ataques de grupos fascistas. A sede nacional da COB foi alvo de um atentado à bomba em dezembro.

Cabe recordar que esta direita reacionária havia sido derrotada com os processos revolucionários de 2003 e 2005. Sem uma política de enfrentamento com a burguesia, o governo de Evo contribuiu para que esses setores se fortalecessem. Diante da ofensiva da oposição de direita nos últimos meses do ano passado, os setores populares, dirigidos pela COB, realizaram uma grande mobilização em La Paz, em 7 de dezembro, cujo eixo central foi a luta contra a burguesia.

Acordos
Nos últimos dias, o governo propôs à oposição de direita um acordo buscando conformar um pacto nacional que seja capaz de resolver a crise política e evitar um ascenso político dos setores sociais. A proposta de Evo foi compatibilizar a nova constituição aprovada pela Assembléia Constituinte com o Estatuto Autonômico apresentado pela burguesia de Santa Cruz. Mas o pacto ainda não está fechado por resistência da oposição. Mais uma vez, o governo de Evo demonstra seu verdadeiro caráter conciliador ao chamar os setores mais reacionários do país a um grande acordo nacional. O governo se dispôs a ceder à burguesia e a seus representantes.

Nada mudou
Nos dois anos de governo, as tão esperadas transformações revolucionárias apresentadas por Evo durante a campanha eleitoral ficaram no papel. As multinacionais continuam roubando o gás boliviano. Não houve uma verdadeira distribuição de terras, os latifundiários continuam intocáveis e a nova constituição proposta pelo MAS (Movimento ao Socialismo) foi elogiada até pelos EUA e pela ONU. Isso demonstra que os interesses das multinacionais e da burguesia nacional não foram questionados. O que vimos foram políticas assistencialistas (bolsa escola e a renda dignidade aos maiores de 60 anos) com o fim de manter os índices de popularidade de Evo. Mesmo com o apoio de grande parte da população, o presidente não conseguiu acabar com a situação revolucionária. Alguns setores organizados dos trabalhadores começam a questionar a política de colaboração com a burguesia e a ausência de mudanças estruturais no país.

O desemprego e a forte inflação em 2007 – 14 % – provocaram um aumento significativo no custo do nível de vida. A maioria dos produtos da cesta básica está cada vez mais cara. Há dois anos a COB, sem muito sucesso, vem exigindo o cumprimento por parte do governo de um conjunto de reivindicações. Diante da postura de Evo de não dialogar com os trabalhadores, privilegiando negociações com a oposição de direita, a COB marchou pelas ruas de La Paz, com uma forte presença de mineiros estourando dinamites.

Essa marcha da COB, diferente da de dezembro, teve como eixo exigências ao governo. Os manifestantes exibiam um cartaz com as seguintes palavras de ordem: “real aumento no mísero salário mínimo” (hoje equivalente a R$ 150); “repúdio à constituição pactuada”; “rechaço aos estatutos autonômicos divisionistas”. Também pediam o fim dos acordos e pactos com a burguesia.

Post author Joallan Cardim, de La Paz
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