Depois de derrubar mais um governo, os trabalhadores e camponeses bolivianos suspenderam suas medidas de força diante da subida de Rodríguez. No entanto, nada indica que essa “trégua” durará muito tempo. O povo boliviano foi às ruas para exigir a nacionalização dos hidrocarbonetos, e o que o governo está oferecendo são eleições para dezembro. Na Bolívia, troca-se de presidente como se troca de camisa. E o povo já percebeu que eleições não resolvem nada. Essa é uma forma de o governo enganar as massas e empurrar com a barriga o problema da nacionalização, que nada mais é do que a expropriação das empresas multinacionais, entre elas a Petrobras. Temeroso, o imperialismo já se preparava para militarizar o país mediante um golpe, caso a reunião em Sucre não chegasse a um acordo.

Assim, o impasse permanece: as massas querem a nacionalização e o governo Rodríguez finge que não é com ele. Tudo indica, portanto, que a luta na Bolívia entrou apenas em um tenso compasso de espera. Nesta entrevista ao Opinião, a companheira Gabriela Espinoza, militante do MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores) da Bolívia, que participou ativamente das lutas, fala-nos um pouco da situação atual

Opinião Socialista – Como está o ânimo das pessoas nas ruas depois da subida de Rodríguez?
Gabriela –
Na verdade, o ânimo não é o mesmo que em outubro de 2003, quando Mesa assumiu a presidência e as pessoas estavam felizes por terem derrubado Goni (Sanches de Lozada). Elas confiaram em Mesa. O conjunto das direções tinha uma saída constitucional democrático-burguesa e a população trabalhadora e a classe média também adotavam essas saídas. Em geral, todos estavam a fim de dar uma trégua ao governo. Agora a situação é diferente. Apesar de a subida de Rodríguez ter resolvido o problema político da burguesia, as massas trabalhadoras não depositaram sua confiança nele. Quando Mesa assumiu, em 18 de outubro de 2003, na cidade de El Alto se fez uma grande festa, milhares de pessoas foram aplaudir seu discurso, era óbvio que Mesa tinha respaldo da população. Agora, a subida de Rodríguez não gerou esperança na população, porque, desde seu primeiro discurso, ele disse que não poderia resolver o problema da nacionalização, e a nacionalização é a principal reivindicação da população trabalhadora do campo e da cidade.

E as direções, o que dizem de tudo isso?
Gabriela –
O MAS, de Evo Morales, deu seu apoio ao novo governo e desmobilizou rapidamente as organizações que ele controla. Era de se esperar, porque seu objetivo não era conseguir a nacionalização. A Fejuve (Federação de Juntas de Bairros), a COR (Central Operária Regional – El Alto), os sindicatos e outras organizações estipularam prazos. Alguns deram trégua de 72 horas, outras de 10 dias, ou de 30 dias. Esta semana haverá uma reunião ampliada da COB (Central Operária Boliviana) para definir sua posição, mas de fato suas bases já estão desmobilizadas. Principalmente em El Alto, onde a greve geral foi mais forte, mas também em La Paz, as pessoas estavam cansadas. Foram quase três semanas de greve e já havia um grande desabastecimento de gás e alimentos. Como as direções não levaram a sério o problema do auto-abastecimento, o novo governo pôde desmontar os bloqueios e levar o gás à população. Mas como nada foi resolvido, não há nacionalização, nem aumento salarial, nem nada, e tampouco o novo presidente poderá fazer tudo isso, cremos que as pessoas vão voltar para as ruas em breve.

Como foi a repressão em Sucre? Assassinaram um lutador mineiro. Como foi isso?
Gabriela –
Sim, Carlos Coro Mayta, de 52 anos, que era membro da cooperativa 10 de Fevereiro. Centenas de mineiros cooperativistas se dirigiam de Oruro para Sucre para fazer mobilizações contra a subida de Vaca Diez (presidente do Congresso). No caminho, perto de Sucre, eles foram interceptados pelos policiais, que queriam impedir que eles entrassem na cidade. Houve uma grande repressão, “gasificaram” e atiraram por todos os lados. Foi assim que o mineiro caiu baleado pela polícia. Isso incendiou ainda mais a mobilização. Mas não foi só isso. Os camponeses denunciam que em La Paz vários deles ficaram intoxicados pelos gases lançados pela polícia.

Post author Por Cecília Toledo, da redação
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