Existem momentos no movimento operário que devem ficar marcados, porque sinalizam possibilidades e mesmo tendências. O momento que estamos vivendo é de um ascenso sindical, com várias greves de peso acontecendo e outras se preparando.

No meio dessas lutas, a notícia da semana é que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tendo à frente a direção da CUT, para evitar problemas com as montadoras de automóveis e o governo, fez um acordo rebaixado na campanha salarial.

Não seria uma novidade, na medida em que essa direção já vem tendo um comportamento pelego há muitos anos, tendo imposto a parceria com as empresas, o banco de horas…

No entanto, a diferença é que essa atitude pelega não parou o restante do movimento, como já ocorreu inúmeras vezes. Ao contrário. Os metalúrgicos da GM de São José dos Campos (SP), dirigidos pela Conlutas, seguiram a mobilização, conseguiram pressionar pela base a unidade de São Caetano do Sul (dirigida pela Força Sindical, que estava a favor do acordo, mas teve que recuar na assembleia) e fizeram uma greve unitária que obteve uma vitória clara, um acordo superior ao dos pelegos da CUT.

Na Honda e na Toyota de Campinas (onde atua a Intersindical), também foram obtidos acordos melhores, assim como na Volvo e na Renault do Paraná (Força Sindical).

Tiraram a máscara dos pelegos
Até agora, nunca tinha ocorrido uma experiência tão concreta nos acordos salariais, que permitem sentir diretamente no bolso as consequências das políticas de cada uma dessas direções. Voltamos a dizer que já ocorreram muitas vezes atitudes semelhantes e mesmo mais graves por parte da direção da CUT. Mas nunca haviam sido tão claras como agora para os setores de ponta do movimento operário do país, os metalúrgicos. A direção da CUT impôs o pior acordo de todos, como consequência de sua política de atrelamento do sindicato ao governo Lula e aos interesses dos patrões.

Trata-se da CUT, que já foi a referência para o sindicalismo combativo de todo o país. Trata-se de São Bernardo do Campo, das históricas assembleias no estádio de Vila Euclides na década de 80. Trata-se, enfim, do berço do PT e do movimento que acabou levando Lula ao governo.

Os ativistas sindicais deveriam discutir este episódio. Por que aconteceu? O que sinaliza como tendência?

Lula xinga os grevistas dos Correios
Se quisermos avançar nesta discussão, podemos acrescentar mais um fato. O presidente, ao fazer uma inauguração no Rio Grande do Sul, se enfrentou com um piquete de trabalhadores dos Correios em greve, ligados à Conlutas. Reagiu, chamando as lideranças sindicais de covardes. Lula xingou grevistas que lutam contra um piso salarial de pouco mais de 600 reais.

O mesmo presidente que não teve coragem de quebrar a patente do Tamiflu, para evitar se enfrentar com uma multinacional como a Roche, xinga os que se arriscam nos piquetes como “covardes”. O mesmo presidente que acoberta José Sarney perde o controle e sai xingando trabalhadores.

É muito importante que os trabalhadores tirem lições desses episódios. A primeira é que, nas greves que estão por vir, devem ficar de olho nas direções da CUT. Bancários, petroleiros e outros devem se preparar para enfrentar as direções da CUT nas assembleias.

A segunda é que Lula realmente não faz um governo para os trabalhadores. Se não fosse assim, não se apoiaria na CUT e na Força Sindical para evitar as greves, não xingaria os grevistas.

Post author Editorial do Opinião Socialista 389
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