No último dia 25, sábado, a Frente de Resistência Contra o Golpe em Honduras realizou uma reunião nacional para redefinir os rumos do movimento. Participaram 50 delegados, vindos de todas as províncias do país. Um fato importante ocorreu no evento: a ala Quais foram os principais temas discutidos na reunião? E como ocorreu o debate entre as diferentes alas da resistência?

Tomás Andino – A reunião era uma Plenária Nacional de consulta à base para definir a estratégia da Frente de Resistência. Não era uma assembleia propriamente dita, mas sim uma reunião de consulta.

Foi importante porque permitiu discutir vários temas chaves neste momento. Um deles é o tema das negociações, outros são as eleições do dia 23 de novembro, a estratégia mais geral da Frente e a organização.

Na Frente existem duas tendências políticas, não estruturadas em correntes ou movimentos internos, mas como blocos de posição que se expressam nas diferentes reuniões ou assembleias. Podemos chamar um desses blocos de “a esquerda da Frente”, integrado por dirigentes de base, militantes de esquerda, feministas, indígenas e professores que promovem uma política de independência diante do “bloco pró-liberal”, constituído pelas cúpulas das centrais sindicais e dirigentes do Partido Liberal que estão na resistência.

A proposta do bloco de esquerda enfatizou que a Frente não deve apoiar o Acordo de San Jose nem as negociações dos diálogos convocados pela ditadura ou pela OEA [Organização dos Estados Americanos], por seu conteúdo reacionário.
Sobre as negociações, houve um consenso de todos os setores, incluindo os altos dirigentes da Frente, de que o processo de negociação não trouxe e não traz nada de positivo à resistência. Por tanto, não devemos depositar nenhuma expectativa nas negociações. Somos conscientes de que a OEA e os EUA querem que o processo de negociação continue e pressionam Zelaya e os golpistas para que voltem a sentar-se à mesa de negociação. Mas a resistência já tem como lição de que nada se pode esperar dessa política.

Houve um consenso da base em que nada positivo cabe esperar desse acordo e que a restituição não deveria ser condicionada. Mas foi lembrado também que a Frente não deve subordinar sua estratégia de luta a esses acordos.

Mas não teve consenso no caso das eleições. A proposta do bloco de esquerda foi de que a Frente deve chamar o boicote às eleições porque representaria uma legitimação da ditadura que está preparando uma fraude eleitoral. Essa posição foi apoiada por 75% dos participantes da reunião.

A ala pró-liberal se opôs a essa política. Defenderam que deve participar das eleições, mas sob uma condição: que a restituição de Zelaya não seja realizada à véspera das eleições. Ao final, a burocracia manobrou para que não se tomasse um acordo, alegando que essa não era uma assembleia, mas uma reunião de consulta e que a decisão final seria tomada pela Coordenação Nacional [atual direção da Frente].

Quais ações concretas que a reunião aprovou sobre a luta contra os golpistas?

Tomás – Sobre a estratégia de luta houve importantes avanços políticos nos objetivos da resistência. Eliminou-se um dos três objetivos iniciais da resistência e foram acrescentados outros dois.

Entre as nossas exigências retiramos o chamado de “restituir a ordem constitucional”. Analisamos que isso era voltar ao passado institucional e que entrava em contradição com a demanda da Constituinte.
Por outro lado, os objetivos acrescentados foram: derrotar o regime golpista, ou seja, lutar pela derrubada dos golpistas, e construir as bases para uma força política baseada no movimento popular.

Quanto às estratégias de luta, foi reconhecida que a resistência tem sofrido um importante desgaste que impede adotar formas de luta de confronto, como greves e paralisações. Na opinião da resistência, é necessário acumular forças para criar condições de fazer isso a médio prazo. O boicote às eleições é a oportunidade para reanimar o espírito combativo das massas, já que o processo é repudiado pela maioria. No entanto, a debilidade desse ponto foi que não se aprovou um plano de luta, que foi delegado à Coordenação Nacional.

Por fim, houve muitas criticas pelo não cumprimento das resoluções da primeira Assembléia Nacional, realizada no dia 6 de setembro. Entre elas, a constituição de uma Coordenação Nacional democrática, com representação das bases, que deve ser formada na primeira semana de novembro. Com essa medida, se impediria que a burocracia continuasse tomando decisões sem o controle das bases.

Em geral o balanço da reunião é positivo, mas agora devemos garantir que os acordos sejam respeitados pela direção pró-liberal. Isso vai implicar num esforço do bloco de esquerda da Frente.

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