Com as derrotas militares e políticas que sofreu e com seu crescente isolamento internacional, a besta nazi-sionista ameaçada se torna mais violenta. É momento de redobrar a campanha de boicote, especialmente por parte das organizações sindicais, exigindo a ruptura de relações de todos os governos com Israel!

O estado sionista se mostrou nos últimos tempos, se é que cabe o termo, cada vez mais genocida e racista. Bastam como exemplos a asfixia à torturada população de Gaza com o bloqueio; o ataque à frota de solidariedade à população de Gaza, que deixou 9 mortos e dezenas de feridos; a construção de um muro na Cisjordânia para separar os palestinos dos assentamentos israelenses; a decisão de expulsar de Jerusalém ex-legisladores palestinos com o incrível argumento de que “não são leais à ocupação”; o projeto do ministro de relações exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, de expulsar toda a população árabe de Israel; a tentativa de proibir os palestinos residentes em Israel de comemorar o aniversário da expulsão de seu povo de suas terras que coincide com a fundação do estado sionista – o que todos os povos árabes chamam de “catástrofe” (Nakba) – por considerar que atenta contra a “segurança” (muitos sustentam que esta é a primeira vez na história que um estado tenta proibir um povo de expressar sua dor por ser subjugado).

Deve-se ter em conta que a amplíssima maioria dos judeus israelenses apóia e justifica estas bestialidades, refletindo a histeria massiva e persistente da população, obcecada com sua “segurança”. Isso faz dessa população judia de Israel manipulável como instrumento de atrocidades tais como a perpetrada em 2008/9 em Gaza, coisa comparável ao que acontecia com grandes setores do povo alemão que apoiava a “solução final” da “questão judia” – quer dizer, seu extermínio – nos tempos do nazismo.

Isolamento histórico de Israel
No fundo de tudo isto está o fato de que Israel vem de um longo período marcado por derrotas políticas e de suas ofensivas militares no Líbano (1982-1985 e 2006) e em Gaza (dezembro 2008 – janeiro 2009), onde fracassou notoriamente em sua tentativa de liquidar o governo da corrente islâmica Hamas, ligada à Irmandade Muçulmana do Egito e hoje também com importantes vínculos com o Irã.

A isto se somou agora uma derrota política de dimensões históricas: suas atrocidades na invasão a Gaza e o posterior bloqueio produziram um repúdio bastante extenso; seu ataque à frota solidária em águas internacionais – um ato qualificado como de “pirataria” por muitos de seus aliados – lhe valeu condenações generalizadas e a ameaça de ruptura de relações do governo da Turquia, país que havia sido seu principal parceiro político e comercial nos últimos tempos.
Isto se deu no momento em que uma campanha de boicote a Israel lançada em julho de 2005 e conhecida pela sigla BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções – a favor do povo palestino se intensifica e se fortalece mundialmente. Hoje Israel enfrenta o maior isolamento político internacional de toda sua história, situação que, sem dúvidas, deu um salto qualitativo com o repúdio mundial que provocaram as atrocidades perpetradas em Gaza em dezembro de 2008 e janeiro de 2009 e o ataque assassino à frota solidária neste ano.

Obama trata de reduzir tensões com Netanyahu
Enquanto isso, o lobby sionista nos Estados Unidos vinha desenvolvendo uma campanha frenética para reverter à política de Obama, acusando o seu governo de abandonar Israel. Isto também foi aproveitado pelos republicanos para atacar os democratas, como parte se sua campanha para as eleições parlamentares de metade de período [1] em novembro próximo.

É a necessidade de dar suporte aIsrael diante de sua crescente debilidade política e militar e o desejo de retirar argumentosdacampanha do lobby sionista e dos republicanos que levou Obama a tratar de reduzir as tensões com Tel Aviv, ainda que à custa de contradições escandalosas e de debilitar sua própria política.

A administração Obama vinha de um ano e meio de fortes atritos e distanciamento do governo de “Bibi” Netanyahu por sua política agressiva de expandir os assentamentos judeus em Jerusalém oriental, na Cisjordânia e em Gaza.

Obama nos discursos se opunha a essas ações do sionismo, insistindo em uma saída negociada com os palestinos.

Na reunião realizada na Casa Branca entre ambos os mandatários, em 6 de julho passado, o presidente norte-americano fez os maiores esforços para assegurar que “agora sim”, existem claras mostras por parte do governo israelense de que está disposto a abrir negociações diretas com seus pares da Autoridade Nacional Palestina (ANP), com vistas a concretizar a solução dos “dois estados”.

Ainda que Mahmud Abbas, o presidente da ANP, sempre servil aos desejos dos Estados Unidos, se encontrou em junho passado com Netanyahu, o fato é que não há passo algum no sentido que supostamente pretende Obama de avançar para a construção do estado palestino.

Para amostra, um botão nuclear
Entre os temas tocados no encontro de 6 de julho esteve o arsenal nuclear israelense. Os EUA vinham de somar sua assinatura a um documento da ONU que condena Israel por não assinar o tratado de não proliferação nuclear (TNP), com o qual as potências buscam evitar que mais países tenham bombas atômicas. O fez pressionado pela crescente indignação internacional ante o ataque à frota solidária a Gaza.

Isto preocupou muito o lobby pró-israelense norte-americano e ao governo de Tel Aviv e cresceu a campanha de denúncia contra a Casa Branca por “abandonar Israel”. Fazendo uma incrível cambalhota no ar, Obama justificou no dia 6 de julho diante da imprensa o arsenal nuclear clandestino israelense dizendo: “Acreditamos fortemente que, dado o tamanho, a história, a região em que se encontra e as ameaças contra [Israel], tem necessidades de segurança únicas. Tem que responder a ameaças ou qualquer combinação de ameaças na região” (New York Times, 7 de julho de 2010).

Isto no momento em que os EUA acusam o Irã, que assinou o Tratado de não-Proliferação Nuclear, de violar os pactos internacionais, e quer sancionar o país islâmico, por possuir um pouco de urânio enriquecido em um grau que é permitido pelo acordo internacional!

O presidente norte-americano se vê obrigado a incorrer em contradições flagrantes na sua política para não agravar a crescente debilidade e isolamento internacional do estado sionista. Necessitava manter distância do bloqueio a Gaza, do ataque à frota e da expansão dos assentamentos israelenses, para não destruir sua própria política de manter os dirigentes da ANP atados a uma praticamente inexistente negociação de paz. Mas a crise provocada pelo ataque à frota o obrigou a revelar a verdadeira estratégia ianque no oriente – médio, não importando quem governe os EUA: sustentar a todo custo a seu cão raivoso, Israel, com bombas atômicas, pirataria em alto-mar e o que mais for preciso.

“Bomba relógio demográfica”
No marco atual de sua situação marcada pelas derrotas políticas e militares, a orientação histórica de Israel de conviver com um setor massivo de população árabe em seu interior e em suas fronteiras, aos quais se tolera manter suas tradições contanto que não se rebelem contra o estado sionista e suas atrocidades, já não é mais viável. Ao mesmo tempo em que mantém o bloqueio criminoso a Gaza, a atual debilidade obriga Israel a avançar com medidas ainda mais totalitárias no interior de seu próprio território.

Um artigo de 8 de junho de 2009 da agência de notícias IPS, assinado pelo periodista Mel Frykberg, informava de três projetos de lei apresentados no Knesset, o parlamento unicameral israelense. “Um dos projetos busca proibir que se considere dia de luto o aniversário nacional israelense, o dia 15 de maio, e outro que é impedir que se negue a existência de Israel como estado judeu e democrático.

Um terceiro projeto requeria a todos os cidadãos israelenses, incluindo os árabes ou de descendência palestina, que assinassem juramentos de lealdade ao Estado, sua bandeira e seu hino nacional, assim como realizassem serviço militar ou civil.

O primeiro projeto passou sua primeira prova ao ser aprovado pelo comitê ministerial da Knesset, mas foi logo suavizado. O texto proibia aos israelenses árabes comemorar a Nakba, ou “catástrofe”, dia de luto pela criação do Estado israelense. O castigo podia ser de até três anos de prisão. Depois que se levaram em conta as considerações legais, o projeto foi suavizado para proibir que se destinem fundos estatais para organizar celebrações da Nakba. (…) O pleno do Knesset também deu sua aprovação inicial a um projeto que converteria em delito negar publicamente o direito de Israel a existir como Estado, e que poderia ser castigado com até um ano de prisão. (…) Outro projeto, que havia requerido a todos os cidadãos israelenses a jurar lealdade aos valores sionistas do Estado, foi rejeitado pelo comitê ministerial da Knesset. O Comitê Superior Árabe qualificou estas iniciativas de ‘propostas racistas e fascistas contra a população árabe em Israel’”.

O artigo da IPS conclui com uma explicação muito esclarecedora: “Os esforços para aprovar estas leis discriminatórias chegaram no marco de uma campanha ultra-direitista para apresentar a comunidade árabe como uma “bomba relógio demográfica”.

“Yuval Diskin, diretos do Serviço de Segurança Geral de Israel, sustentou que as demandas de igualdade das minorias constituíam um ‘perigo estratégico para o Estado’ que devia ser frustrado ‘inclusive se sua atividade é realizada através de meios democráticos”.

Por razões de espaço não vamos abundar aqui com mais referências às iniqüidades do estado sionista contra a população árabe e inclusive contra os judeus que se atrevem a denunciar as atrocidades genocidas e o racismo israelense. Simplesmente queremos insistir que essas medidas cada vez mais totalitárias são reações histéricas do sionismo diante de sua crescente debilidade.

Redobrar a campanha BDS de boicote a Israel
Como dissemos mais acima, em importante medida o crescente isolamento de Israel é resultado da campanha de boicote BDS que vem crescendo desde julho de 2005.

Uma das principais figuras que impulsiona esta campanha, Stéphane Frédéric Hessel, ex-diplomata francês que em 1948 participou da redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, escrevia em 15 de junho em um conhecido site da internet, o Huffington Post, refletindo o caráter democrático e amplo da campanha BDS:
“A Frota da Liberdade [atacada por Israel] traz à mente o tipo de iniciativas solidárias da sociedade civil que levou ao fim as leis de segregação nos Estados Unidos e o apartheid na África do Sul, uma analogia impossível de ignorar. Do mesmo modo que o regime do apartheid da África do Sul, a reação de Israel foi de qualificar este ato não violento como uma ‘provocação intencional’. Como no caso da África do Sul, a chamada solidariedade internacional, na forma de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) veio de uma maioria esmagadora de sindicatos e organizações da sociedade civil palestina em 2005, e está sendo abraçada por cidadãos de consciência e movimentos sociais em todo o mundo. A iniciativa BDS chama a isolar efetivamente Israel e seus cúmplices no âmbito empresarial, acadêmico e das instituições culturais, assim como as companhias que obtenham lucros com as violações dos direitos humanos e com políticas ilegais, enquanto continuem estas políticas.

“Creio que a iniciativa BDS é uma estratégia moral que demonstrou seu potencial. Mais recentemente o Deustche Bank alemão se converteu na última de várias instituições financeiras europeias e fundos de pensão importantes a desinvestir no fabricante de armas israelense Elibit Systems. Na semana passada duas importantes cadeias de supermercados italianas anunciaram o boicote de produtos de assentamentos israelenses ilegais. No mês passado, os músicos Elvis Costello e Gil Scott-Heron cancelaram apresentações em Israel…

“Faço minhas as palavras sentidas do escritor escocês Iain Banks, que em reação ao atroz ataque de Israel contra a Frota da Liberdade, sugeriu que a melhor maneira para que artistas, escritores e acadêmicos internacionais ‘convençam Israel de sua degradação moral e isolamento ético é simplesmente não ter mais nada a ver com este governo criminoso’”.

Após o repúdio provocado pelo ataque israelense à frota da liberdade, está em marcha o envio de novas embarcações de solidariedade com Gaza. Uma embarcação enviada a partir da Líbia foi desviada por navios israelenses até o Egito. Está programado para setembro o envio de outra frota com ajuda humanitária.

A campanha de boicote a Israel por artistas e acadêmicos norte-americanos teve uma expressão importante na decisão dos atores Meg Ryan e Dustin Hoffman de não participar no recente festival de cinema deste país. E vários músicos como Elvis Costello e The Pixies suspenderam apresentações em Israel.

O peso qualitativo do boicote sindical
Nos últimos tempos se fortaleceram medidas de boicote sindical importantes no País Basco, Irlanda, Grã-Bretanha, Bélgica, Índia, África do Sul, Suécia e Estados Unidos. Pela primeira vez na história um navio israelense não pôde descarregar em um porto dos EUA, o de Oakland, na Califórnia, pela ação conjunta de organizações anti-sionistas e ativistas de um sindicato dos trabalhadores portuários. Acreditamos que isto aponta para um salto qualitativo na campanha mundial. Existem muitas mostras claras disto.

O principal sindicato britânico de funcionários públicos, UNISON, com 1,4 milhões de filiados, votou em seu congresso, em 29 de junho, somar-se à campanha BDS, com medidas de boicote econômicas, culturais e inclusive desportivas, rompeu relações com a central patronal-sindical israelense, Histadrut e exigiu ao governo a expulsão do embaixador israelense.

Outra mostra clara desta perspectiva nos dá uma declaração de apoio dos sindicatos bascos, da qual extraímos alguns parágrafos: “Em consonância com a tradição dos sindicatos bascos de luta pela justiça, pela igualdade e pelos direitos humanos, por meio deste documento os Sindicatos Bascos ELA, CCOO, LAB, UGT, ESK, STEE, HIRU, EHNE, CGT, USO LSB-USBO, fazem público seu compromisso com a campanha BDS contra o Estado de Israel e têm acordo em não colaborar com a política de apartheid na Palestina e a ocupação ilegal em seus territórios.

“Além disso, os sindicatos bascos têm acordo em denunciar publicamente a todas as instituições bascas e companhias que dão prioridade a seus interesses econômicos e políticos às custas dos direitos do povo palestino ou que trabalhem ou legitimem a ocupação colonial da Palestina”.

E os sindicatos bascos colocam como objetivo da campanha obrigar Israel a “acabar com a ocupação militar da Palestina, a paralisação e destruição do muro na Cisjordânia; acabar com o sistema de discriminação racial, suspensão total e definitiva do bloqueio a Gaza, reconhecimento do direito de regresso dos refugiados”

Ganhar as ruas com o boicote exigindo a ruptura de relações
A LIT-QI impulsiona com todas as suas forças a campanha BDS contra Israel e em defesa do povo palestino, pondo como principal objetivo imediato a suspensão incondicional do bloqueio a Gaza. E chama a somar-se todas as forças humanitárias, democráticas, operárias e populares, que não queiram ser cúmplices por indiferença dos novos e terríveis sofrimentos que a besta sionista ameaçada impõe aos palestinos.

É necessário ganhar as ruas, fazendo marchas, atos e todo tipo de mobilizações, exigindo aos governos de todo o mundo a ruptura de relações com o governo israelense e a anulação de todos os tratados comerciais como o que foi assinado recentemente entre o MERCOSUL e o estado sionista.

Ainda que tenhamos diferenças importantes com distintas correntes e organizações participantes da campanha BDS, que defendem a chamada solução de “dois estados” (ver nota), acreditamos que as medidas que já estão sendo implementadas nesta campanha, em especial as ações das organizações sindicais, ajudam a avançar até o que consideramos a única saída de fundo, a destruição de Israel e a construção de um estado palestino laico, democrático e não racista em todo o território da Palestina.

Nota:
[1] Eleições parlamentares na metade do período: sistema eleitoral em que as eleições parlamentares acontecem separadas das eleições presidenciais, e no meio do mandato do presidente eleito.

Fonte: Revista Correio Internacional n.02 – Terceira Época – 08/2010

Tradução: Arthur Gibson