Bob Marley
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“Enquanto imperar a filosofia de que há uma
raça inferior e outra superior o mundo estará
permanentemente em guerra. É uma profecia, mas
todo mundo sabe que isso é verdade“.

Bob Marley

Se não tivesse morrido precocemente, vítima de um câncer, em 1981, Bob Marley teria completado 60 anos, em 6 de fevereiro. Ídolo maior do reggae, Marley fez de sua música um poético e poderoso instrumento de denúncia do racismo e da exploração genocida da África e dos povos pobres do mundo. Mas também de exaltação ao amor, à festa e à vida.

Para celebrar o aniversário de Bob Marley, no domingo, 6 de fevereiro, em vários cantos do mundo pessoas se juntaram para entoar músicas como Redemption Song, a “canção da redenção”, que se tornou um hino mundial à liberdade, através de versos como os seguintes: “Emancipem a si mesmos da escravidão mental, / Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossas mentes (…) Você não vai ajudar a cantar estes cantos de liberdade? (…) Tudo que eu já possuí [são] cantos de redenção / Estes cantos de liberdade”.

No dia 6, os versos de Marley ecoaram particularmente na Jamaica, sua terra natal, e na Etiópia — berço do movimento Rastafari (veja artigo) —, onde um show com centenas de milhares de pessoas encerrou um mês de festividades que incluíram debates e exposições sobre a vida e obra do cantor, além de um simpósio sobre a história da África.

Mas as homenagens não se limitaram a estes dois países. Elas, literalmente, cruzaram o globo, principalmente nas vozes de negros e dos milhões que habitam as periferias e margens do mundo, a quem o poeta e cantor dedicou grande parte de sua obra. Das ruas de São Luis do Maranhão, a capital do reggae no Brasil, aos guetos negros no Bronx norte-americano, passando pelos bairros de imigrantes em toda Europa ou qualquer outro lugar onde exista gente sedenta por “cantos de liberdade”.

Das ruas da Jamaica para o mundo
Como milhões de outros negros nos países colonizados, Marley nasceu da relação entre uma jovem negra, Cedella Booker, de 18 anos, e um militar branco, de 50 anos, a serviço do governo britânico.

Tendo sido criado pela mãe, Marley mudou-se para a capital da Jamaica, Kingston, ainda na adolescência, indo viver em uma das maiores e mais agitadas “favelas” da cidade, Trenchtown, cuja população e musicalidade foram determinantes para sua formação.

Foi lá que ele entrou em contato com a música negra norte-americana (Ray Charles, o rhythm & blues de New Orleans etc.), com o melhor dos ritmos populares e negros jamaicanos e também foi em Trenchtown que Bob conheceu Peter Tosh e Bunny Livingston com quem formaria a banda The Wailers, em 1963.

Os anos seguintes foram de crescente sucesso, aproximação com o movimento Rastafari (particularmente depois do casamento com Rita Anderson, 1966) e experiências musicais a partir de várias viagens à Europa e Estados Unidos e principalmente através do envolvimento com dos ritmos tipicamente jamaicanos, como o ska beat e o rock steady.

Os componentes do The Wailers partiram para carreiras solo em 1975. Ficando à frente da banda Bob Marley & The Wailers, o cantor teve de abandonar o país em 1976, depois de um atentado à bala, vivendo em Londres por quase um ano, o que o ajudou a se transformar, definitivamente, em um dos músicos mais famosos do mundo.

Sua fama como porta voz do Terceiro Mundo se intensificou ainda mais depois de sua primeira visita à África, em 1978, e particularmente após ter sido convidado para cantar na festa de independência do Zimbabwe, em 1980. Pouco depois disto, Marley iniciou sua última turnê, na Europa, quando a música Redemption Song foi lançada em platéias que chegaram a reunir 100 mil pessoas.

No início de 1981, depois de fazer dois shows no Madison Square Garden de Nova York, Marley detectou um câncer que acabou provocando sua morte em 11 de maio.

Cantando a luta e a vida
Fazer um inventário das músicas de Bob Marley é uma tarefa das mais difíceis. São centenas de canções que, além de sua vibrante musicalidade, têm letras que abordam temas dos diversos.

São de Marley alguns dos mais tocantes hinos à liberdade e contra a opressão. Músicas como No woman no cry e I shot the sherif (“eu atirei no xerife”, que segundo o próprio Marley deveria se chamar “eu atirei na polícia”, título que seria vetado).

Há chamados à luta, como Get up, stand up (“levante-se, resista) que, além disso, é exemplar da religiosidade em Marley, com versos que provocaram a ira dos conservadores ao defender que ao invés de ficarmos esperando que o “o grande deus surja dos céus” é preciso “procurar por aquilo que é seu aqui na terra”, “lutando por seus direitos”. Tema que também aparece em Revolution, onde ele canta que “é necessário uma revolução para se chegar a uma solução”.

Outras canções são carregadas de suingue e sensualidade como Stir it up (uma quase descrição de uma relação sexual, brincando com uma expressão que quer dizer “mexa-se”) ou Is this love, que faz um delicioso convite a diversão no aconchego em uma cama de solteiro. Há, ainda, o singelo otimismo, de músicas como Three little birds (em que “três passarinhos” cantam “não se preocupe sobre nada, tudo vai dar certo”) e Don’t worry, be happy (não se preocupe, seja feliz).

Como também existem inúmeras referências à África e à luta dos negros, como Buffalo Soldier, que fala sobre um guerreiro roubado da África, obrigado a lutar, nas Américas, pela sua sobrevivência. Tema também recorrente em Exodus, Soul Rebel, Zimbabwe e a espetacular Africa Unite, também relacionada com outro tema recorrente de suas música, o movimento Rastafari, que está no centro de músicas como Jah live e Kaya, saudações ao deus Rasta e à cannabis, considerada sagrada na religião.

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