Beijaço realizado no dia 11 de janeiro

No dia 11 de janeiro, a comunidade LGBT de Maringá promoveu um beijaço em uma das principais praças do centro da cidadeA manifestação, que contou com a presença de mais de 200 pessoas, incluindo setores do movimento de mulheres e com ampla cobertura da imprensa, foi uma resposta à marcha realizada na semana anterior pelo movimento de ultradireita ligado à Igreja Católica, autodenominado “Cruzada pela Família” e que, em consonância com as opiniões do Papa Bento XVI, que no ano passado chegou a declarar que “o casamento homossexual é uma das várias ameaças atuais à família tradicional, pondo em xeque o próprio futuro da humanidade”, protestam pelo que chamam de “ditadura da homossexualidade” e contra o aborto.

A organização de setores conservadores e a falta de políticas concretas de combate à homofobia por parte de diferentes governos tem levado a que a intolerância e o preconceito sejam pregados de forma aberta em episódios lamentáveis como esse que ocorreu em Maringá e que vem se reproduzindo em várias cidades do Brasil.

O que estes setores se esquecem de dizer, no entanto, é que as verdadeiras vítimas do atual sistema são as dezenas de homossexuais que são agredidos todos os dias pelo simples fato de terem uma orientação sexual diferente e pelas milhares de mulheres que morrem todos os anos por abortos mal feitos no país.

Só em 2012 foram documentados 338 homicídios de LGBT’s no Brasil. Isso equivale a um homicídio a cada 26 horas -um aumento de 27% em relação ao ano anterior e de 177% nos últimos 7 anos- o que faz do país o primeiro colocado no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de execuções em todo mundo. Para se ter uma ideia do que isso representa, o risco de um homossexual ser morto no Brasil é 800% maior que nos Estados Unidos.

Mas não é à toa que a marcha da Cruzada pela Família colocou no mesmo saco a condenação ao casamento gay e o aborto. Homofobia e machismo partem da mesma lógica, de que certos grupos da sociedade são inferiores e por isso devem ter seus direitos negados, nesse caso, LGBT’s e mulheres.

Por outro lado o mesmo governo que capitula aos setores conservadores com relação a uma política de combate a homofobia -não é demais lembrar que em maio do ano passado, a presidente Dilma suspendeu a distribuição o “Kit Escola Sem Homofobia”, após numa negociata com estes setores para preservar o então ministro Palocci, envolvido em escândalos de corrupção- é o que nega às mulheres o direito ao aborto legal e seguro e o que se recusa a empregar mais verbas para ampliar a Lei Maria da Penha.

O tema das opressões tem ganhado muito espaço na cidade nos últimos tempos. Em 2012 várias ações realizadas, como a Caminhada da Diversidade, a Parada Gay e a Marcha das Vadias tiveram enorme repercussão e fomentaram uma intensa discussão na sociedade maringaense. As próprias eleições burguesas se constituíram num espaço de debate, com a frente de esquerda se destacando pela forma abordou o tema em seus programas de TV. O beijaço, portanto, é outro exemplo da candência dessa questão na cidade.

Mas infelizmente, muita embora a importância dessas ações, na maior parte das vezes sua marca principal é o espontaneísmo a despolitização. Com exceção, talvez, da Marcha das Vadias, onde a intervenção de alguns setores conseguiu imprimir um caráter mais politizado, o que prima é aversão a participação de organizações e partidos políticos.

Uma verdadeira lástima, pois se promover beijaços, caminhadas, paradas e marchas é importante, só isso não basta. É necessário construir um grande movimento organizado de luta contra as opressões na cidade, que congregue todos aqueles que estejam dispostos a discutir políticas concretas de combate à violência contra os setores oprimidos da sociedade, que se posicionem claramente em defesa de seus direitos e que estejam dispostos a lutar.

O 8 de março está aí, essa é uma enorme oportunidade para colocarmos o bloco na rua e mostrarmos nossa organização e disposição de luta, construindo juntos um grande ato unificado pelo dia internacional de luta das mulheres.