Há semanas o Brasil convive com a décima edição do “Big Brother Brasil”, o mais bem sucedido “reality show” da TV brasileira. Como sempre, o programa tem sido acompanhado com enorme atenção pela população e pautado muitas conversas nas ruas, escritórios, corredores e nos ônibus e trens de todo o país.

Para se ter ideia da audiência, basta dizer que apenas num dos últimos “paredões”, em 23 de fevereiro, a Rede Globo recebeu nada menos do que 77 milhões de ligações. O programa tem tido uma média de 25 a 30 pontos no Ibope, o que equivale a cerca de dois milhões de casas só na Grande São Paulo.

Assim, mesmo que você se poupe de assistir, não é difícil que chegue a seus ouvidos comentários sobre a cena “picante” ou o “barraco” mais animado. Como nas demais edições, o programa tem a inacreditável capacidade de transformar a mais rasteira mediocridade e completa falta de assunto em infindáveis debates. Nesta edição, um dos temas tem sido o número inédito de homossexuais (eram três os “assumidos”) e os muitos lances de homofobia nos bate-bocas na casa.

Os comentários homofóbicos ganharam destaque em fevereiro, na semana da votação recorde, quando a disputa envolveu um dos mais autênticos exemplares dos trogloditas que costumam passar pelo BBB, o “lutador” Marcelo Dourado, e uma candidata lésbica, Angélica.

Dono de uma suástica tatuada no corpo, autor de xingamentos e ameaças físicas contra GLBTs e de uma das frases mais criminosas já pronunciadas no programa – “Aids não é contraída por heterossexuais” –, Dourado conseguiu que sua estupidez merecesse comentários de publicações internacionais, como a revista gay norte-americana Advocate e o jornal The New York Times, além de celebridades como o cantor Boy George.

Em terras tupiniquins, além de virar inimigo público número um do movimento GLBT, o lutador chamou a atenção do Ministério Público, que o ameaça com um processo.
Para todos os que realmente lutam contra a opressão, a onda de protestos, evidentemente, é mais do que bem vinda. Contudo, exatamente porque acreditamos que homofobia é coisa séria e deve ser combatida sem tréguas, não podemos concordar com os rumos que a discussão tomou, particularmente na comunidade GLBT. Não foram poucos os que, para protestar contra Dourado, passaram a defender os homossexuais que estão no programa e enxergar na possível vitória de um dos dois que ainda estão no jogo uma vitória contra a homofobia.

Nós, do PSTU, não acreditamos nisso. Primeiro, em relação a Dourado, se houvesse a mínima seriedade dos meios de comunicação de massa e do governo, ele já teria saído do ar, algemado de preferência, para cumprir pena pelo crime de homofobia, que foi o que cometeu.

E também não vemos as figuras que se submetem ao programa e sua lógica como representantes de nossa luta. Todos são, infelizmente, exemplos da decadência que o capitalismo e a mídia podem nos levar.

…e o espetáculo da decadência
As razões para o sucesso e o impacto deste tipo de programa são várias. Nenhuma digna de ser festejada.

Se a falta de opções de lazer está no centro do “problema”, também não podemos nos esquecer que esta sociedade está transformando a exposição de outros seres humanos ao ridículo numa das principais fontes de “divertimento”.

É essa lamentável tendência – totalmente associada ao neoliberalismo e sua valorização do individualismo egoísta, da “fama e grana” a qualquer preço e ao consumismo desenfreado – que, infelizmente, explica o sucesso de “videocassetadas”, “pegadinhas” e uma infinidade brutal de cenas constrangedoras publicadas diariamente na internet.

São estes ingredientes que têm feito com que uma parcela da humanidade, infelizmente, tenha se deixado seduzir pelo hábito de se divertir com outros seres humanos exibidos num misto de zoológico-humano e show de horrores em que se transformou parte da programação da TV aberta.

Um espetáculo lamentável que, além de tudo, é uma incrível máquina de fazer dinheiro.

Basta lembrar que a atual edição do Big Brother Brasil anunciou um lucro de R$ 300 milhões, apenas em anúncios. Some-se a isso a infinidade de ligações telefônicas e se pode ter uma dimensão do quanto a exposição ao ridículo é lucrativa.
Por estas e outras, apesar de nos colocarmos incondicionalmente ao lado de toda e qualquer manifestação contra a homofobia, não acreditamos que os lutadores honestos devam cair na farsa da “guerra” entre os BBBs.

Mesmo que alguns deles sejam de setores oprimidos, escolheram um péssimo cenário e uma forma no mínimo equivocada para “dar visibilidade” a gays e lésbicas.

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