Muitas expectativas cercavam o movimento estudantil em 2008. Após a poderosa onda de lutas e ocupações de reitoria em 2007, não eram poucos os que se perguntavam qual seria o cenário e o ânimo de mobilizações dos estudantes. Mal o ano começava e os alunos da UnB já respodiam a esta pergunta, calando os céticos que diziam que as ocupações de reitoria em 2007 haviam sido uma exceção à regra.

Após os escândalos de corrupção envolvendo o reitor Timothy Mulholand virem à tona, os estudantes da UnB protagonizaram uma das mais poderosas ocupações de reitoria do último período e conseguiram importantes vitórias: a queda do reitor e de toda a sua corja, novas eleições para reitor e paridade nas eleições. Como se não bastasse, o novo movimento estudantil surgido em 2007 seguiu dando demonstrações de que estava vivo e atuante. Após a ocupação da reitoria da UnB, novas reitorias foram ocupadas. UFMG, UEPA, UFAM, entre outras, demonstraram que a mobilização iniciada com a ocupação da USP estava apenas começando.

No calor destas mobilizações, novas iniciativas eram preparadas para avançar na luta contra a reforma universitária do governo Lula e do FMI. Assim, dezenas de DCEs, Executivas e Centros Acadêmicos por todo o Brasil participaram da organização do Plebiscito Nacional sobre o Reuni. O plebiscito conseguiu recolher mais de 30 mil votos contra o Reuni, além de levantar o debate sobre a democracia nas universidades e as Fundações Estatais de Direito Privado.

Infelizmente, nem todos os setores da Frente de Luta se engajaram na construção do Plebiscito. A negativa em organizar o Plebiscito foi a primeira de uma série de posturas do PSOL que começaram a dinamitar e imobilizar a Frente de Luta diante das batalhas que estavam colocadas. Essa política de desmonte da Frente de Luta se generalizaria rapidamente através do boicote de setores do PSOL à reunião nacional na USP, pelo desmonte de comitês de base e chapas da Frente de Luta e com a negativa em construir um Encontro Nacional de Estudantes através da Frente.
Apesar disso, o novo movimento estudantil seguiu adiante, protagonizando novas mobilizações e atividades. Em julho, se realizou o Encontro Nacional de Estudantes (ENE) com a presença de mais de 800 estudantes de dezenas de universidades. O encontro definiu um plano de lutas para o segundo semestre e lançou o debate sobre a necessidade de construir um Congresso Nacional de Estudantes.

O segundo semestre já começou quente com a ocupação da reitoria da UFMS e pouco depois a greve com ocupação de reitoria da UERJ. Novos processos de luta se desenvolveram como a ocupação da pró-reitoria de assistência estudantil da UFOP, ocupação da reitoria da UFSJ, greve dos estudantes do campus de Divinópolis (MG) da UFSJ, acampamento da reitoria dos estudantes da Unifesp, greve dos estudantes da UNIR, entre outras mobilizações.

O novo movimento estudantil ocupa o seu espaço
Estas mobilizações demonstram que há uma nova correlação de forças entre o movimento estudantil e os governos neoliberais. Se antes os governos implementavam seus ataques e sua reforma universitária encontrando a resistência de algumas centenas, hoje se deparam com milhares de estudantes envolvidos nos debates e embates que estão determinando o rumo do ensino superior. Os estudantes compreendem a necessidade de lutar contra a reforma Universitária e apóiam as iniciativas que preparam e se constituem nessa resistência.

O novo movimento estudantil se expressa também nas vitórias categóricas nas eleições de DCE´s pelo país, no avanço da construção do Congresso Nacional dos Estudantes e na drástica diminuição de influência das correntes governistas dentro da universidade. Na USP, UFRJ, UFMG, UERJ, UFG, UFAL, UEPA e tantas outras, os estudantes elegeram para a diretoria de seus DCE´s os lutadores comprometidos com a construção de um novo movimento estudantil. Por outro lado, por todo o país as forças governistas viram sua influência diminuir, sendo varridos das principais universidades públicas do país.

A crise econômica e as novas mobilizações
O final do ano já começa a desenhar o cenário para 2009. As universidades pagas começam a entrar em ebulição diante do aumento das mensalidades. Esp, Unisantos, Cásper Líbero, UniTau e Ulbra vivem importantes processos de mobilização contra o aumento das mensalidades. Com a crise econômica, as mensalidades subirão ainda mais e encontrarão estudantes com menos condições de pagá-las em dia. Certamente, o próximo período será de luta em muitas universidades.
Nas universidades públicas, por outro lado, o cenário será marcado pelo corte de verbas, para poder financiar grandes bancos e empresas transnacionais em crise. Aos planos de “expansão” em detrimento da qualidade, operados através do Reuni e do ensino à distância, se somará o corte ainda maior de verbas. Ou seja, nas públicas também sofreremos duros ataques.

O avanço na consciência dos estudantes a partir da experiência das mobilizações de 2007 e 2008, entretanto, será terreno fértil para o crescimento de poderosas mobilizações que irão se opor a estes ataques. As batalhas que travamos hoje anunciam a tempestade que está por vir. Certamente, 2009 será um ano de batalhas ainda mais intensas.

Desde já estaremos nos preparando, através da construção do Congresso Nacional dos Estudantes e da criação de um instrumento de luta alternativo a UNE. Esses são os passos necessários para preparar e temperar os lutadores do movimento para o embate que está por vir. E a partir daí envolver milhares de estudantes nesta batalha de norte a sul do país. Que venha 2009!

Post author Leandro Soto, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU
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