Especuladores e empresários blindam Lula, e Secretário do Tesouro de George W. Bush elogia política neoliberal de LulaSão muitos os motivos pelos quais o capital financeiro e o empresariado temem que a crise política atinja mais ainda o presidente Lula. Ao contrário do que sustentam os setores atrelados ao governo, como a CUT e a UNE, as elites não poderiam estar mais satisfeitas com a gestão Lula. Exemplo claro disso é a recente divulgação do lucro do Banco Itaú neste primeiro semestre. Enquanto a economia desacelera, dando sinais de caminhar rumo à estagnação, o Itaú divulgou o maior lucro da história de um banco privado em um semestre. Foram nada menos que R$ 2,47 bilhões de lucros recordes, de janeiro a junho, representando um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Coincidência ou não, o presidente do Itaú, Olavo Setúbal, é um dos mais entusiastas defensores do governo. “O governo Lula vai muito melhor que se esperava”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo em abril deste ano, muito antes da divulgação dos lucros estratosféricos da instituição. Esse resultado dá continuidade à longa lista de recordes angariados pelos maiores bancos do país. Só para recordar, no primeiro trimestre de 2005, os quatro maiores bancos nacionais, Bradesco, Banco do Brasil, Unibanco e Itaú, lucraram R$ 3,71 bilhões.

O lucro recorde do Itaú foi o primeiro do período divulgado por um banco. No dia 8, o Bradesco também divulgou o lucro obtido pela instituição. O banco lucrou R$ 1,4 bilhão no segundo trimestre de 2005, 120% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. O resultado surpreendeu inclusive os analistas do mercado financeiro.

Os próximos resultados não devem ser mais modestos, mostrando que tais lucros nada tem a ver, como afirmam cinicamente os banqueiros, com um bom gerenciamento da empresa. É sim resultado direto da política econômica do governo Lula, que impõe as mais altas taxas de juros do mundo. Com juros de 19,5% ao ano, os bancos correm para comprar títulos do governo, aumentado ainda mais a dívida pública.
A instituição do empréstimo com desconto em folha a aposentados e pensionistas inverteu a dinâmica natural em tempos de juros altos e promoveu uma verdadeira corrida ao crédito. Inicialmente divulgado por Lula como um “programa social”, ele revelou-se recentemente outro grande esquema para turbinar os lucros dos bancos e, de quebra, alimentar a corrupção do mensalão.

Agiotagem e mensalão
O empréstimo consignado representa hoje uma das maiores fontes de lucro para os bancos, superando até mesmo o cheque especial e o cartão de crédito. O aposentado toma o empréstimo dando como garantia de pagamento até 30% do salário, que são descontados automaticamente todo mês. Essa modalidade de empréstimo tolhe completamente a liberdade do devedor, que, por exemplo, perde a autonomia de decidir não pagar uma parcela do empréstimo para comprar remédio ou comida. Além disso, constitui um verdadeiro ato de agiotagem, com juros anuais que podem chegar a 77%, com total garantia.

Um “empréstimo” do banco BMG ao PT, no valor de R$ 2 milhões, estaria na origem da instituição do empréstimo com desconto em folha. Como forma de pagamento ao repasse do banco, o governo autorizou em 2003, via Medida Provisória, que o BMG oferecesse esse empréstimo a aposentados e pensionistas do INSS. Antiga reivindicação do BMG, o governo garantiu três meses de exclusividade ao banco nesse tipo de serviço, o que permitiu que o BMG se tornasse líder do mercado detendo, atualmente, 40% dos empréstimos consignados. Entre 2002 e 2004, o BMG praticamente dobrou seu patrimônio e seu lucro cresceu 223%, mostrando que ajudar o PT e o governo era um bom negócio. Pelo menos, até estourar o caso do mensalão.

Empresários: todos por Lula
Preocupados que a onda de denúncias e corrupção chegue a Lula e afetem a economia, seus interesses e privilégios, empresários reuniram-se no último dia 4 de agosto para definir uma “agenda mínima” para ser implementada pelo governo. Tal agenda inclui a efetivação do “fundo garantidor” das PPP’s, as Parcerias Público Privadas, ou seja, um fundo público para garantir o lucro dos investidores em projetos de parcerias, além do aumento do arrocho nos gastos do governo com o aumento do superávit primário.

Um dia após a reunião, Lula fez uma pequena pausa em seu tour operário/eleitoral e se encontrou com os principais representantes do empresariado para ouvir as reivindicações da classe. Essa recente mobilização dos empresários e banqueiros pretende blindar a economia blindando Lula, impondo a tal agenda mínima para, por um lado, aumentar ainda mais os lucros do setor e, por outro, desviar a atenção do mar de lama que toma Brasília.

Muito antes desse encontro entre Lula e empresários, o governo, porém, já dava claros sinais de que planeja realmente aumentar mais ainda o superávit primário. O ex-ministro da ditadura e atual deputado do PP, Delfim Netto, reuniu-se com Palocci e, mais recentemente, com o presidente do BNDES Guido Mantega. Na pauta, o chamado “Déficit Nominal Zero”, um nome pomposo para o velho arrocho. A proposta pretende aumentar ainda mais o superávit primário, destinando mais recursos para o pagamento da dívida. Dessa forma, argumentam que os juros poderiam, paulatinamente, baixar.

A medida, na verdade, não passa de uma chantagem para cortar investimentos públicos e impor um ajuste fiscal sem precedentes. A lógica do Déficit Nominal Zero é similar ao deplorável empréstimo em folha. A garantia de que parte dos recursos destinados originalmente às necessidades básicas será desviada para pagar empréstimos aumenta a confiança dos investidores e contribui para diminuir os juros.

Bênçãos do secretário de Bush
A política ultra-ortodoxa de Lula, além de garantir lucros recordes aos banqueiros, ganha também elogios rasgados do Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, espécie de ministro da Fazenda do Tio Sam. Em visita ao país, Snow ratificou toda política neoliberal de Lula, afirmando que os mercados estão tranqüilos ante a crise política.

Além de auxiliar a blindagem de Lula, Snow veio ao país negociar a retomada da implementação da Alca. Recentemente foi criada a “Cafta”, o Acordo de Livre Comércio para a América Central, mais uma medida para pressionar e acelerar a implementação da Alca. O secretário de Bush também “exortou” o país a retomar a aprovação das reformas.

Percebe-se que, longe de desejar a derrubada do governo, como apregoam os criativos setores atrelados ao Estado, banqueiros, empresários e até mesmo o imperialismo limitam-se a desgastar eleitoralmente Lula até 2006 preservando, porém, a política econômica.

Post author
Publication Date