Nazareno Godeiro, de Natal (RN)

A Rede Globo está divulgando uma campanha intitulada Solidariedade S/A, mostrando as ações solidárias dos grandes empresários e banqueiros para combater a pandemia do coronavírus. Essas doações alcançaram a cifra de R$ 2,3 bilhões, sendo que mais da metade veio dos grandes bancos privados, principalmente do Itaú Unibanco. Ações solidárias que são baseadas em mentiras e hipocrisia.

Estes mesmos banqueiros e empresários filantropos fizeram campanha para aprovar a Emenda Constitucional (EC) 95, conhecida como Emenda do Teto dos Gastos, que retirou R$ 28 bilhões do orçamento da Saúde em 2019. O Governo Federal deveria ter investido R$ 142,8 bilhões e investiu apenas R$ 114,1 bilhões segundo o Portal da Transparência.

Principal doador: Itaú Unibanco

Não é só por isso que essa campanha é hipócrita: analisemos o principal doador (que hoje é responsável por mais da metade de todas as doações da campanha, no valor de R$ 1,25 bilhão). Nas palavras do presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher: “O porquê da nossa iniciativa se prende à compreensão nossa de que o Brasil atravessa uma crise muito grave, nós temos um problema humanitário em mãos. O Itaú Unibanco nasceu e cresceu e continuará crescendo no Brasil. O Brasil é a nossa casa. Eu acho que é o momento de cuidarmos da nossa casa.”

Na vida real é diferente: enquanto o lucro dos bancos cresce, a economia brasileira afunda.

Estamos retrocedendo sob o domínio do capitalismo e do imperialismo. Há uma queda de 8,1% na economia no decorrer dos últimos sete anos. Pode ser pior, caso o índice de queda da economia caia mais de 5% em 2020, o que é provável. Porém o lucro líquido do Itaú vai em direção contrária no mesmo período, como demonstra o gráfico abaixo.

 

 

Enquanto a economia brasileira despenca, o lucro líquido do Itaú Unibanco subiu 35% em sete anos. Esse banco cresce parasitando a economia brasileira como um verme que rouba a vitalidade do país, estagnado desde 2014 e agora entrando em depressão.

Entre 2013 e 2019, os bancos brasileiros fecharam 70 mil postos de trabalho. Enquanto você perdia o emprego, esses parasitas ganhavam bilhões cobrando juros de cartão de crédito próximos de 500% ao ano.

O valor “doado” pelo Itaú Unibanco para enfrentar a pandemia representa apenas 0,7% da soma do seu lucro líquido nos últimos sete anos, que foi de R$ 178,6 bilhões.

Aqui é onde se mostra a grande safadeza que rege o Brasil. Esses lucros bilionários do Itaú Unibanco (assim como de todas as grandes empresas) não são taxados, e não são cobrados impostos sobre lucro. Essa regalia aos grandes empresários foi aplicada por FHC e mantida por Lula e Dilma. Se aplicássemos ao Itaú a mesma regra que vale para os trabalhadores brasileiros, pela qual se deduz 27% do salário de quem ganha mais de R$ 4.463,81, o banco teria de ter pago R$ 48,2 bilhões à Receita Federal nos últimos sete anos.

Itaú Unibanco faz filantropia com o dinheiro roubado do povo

O Banco Central liberou um pacote de medidas, no dia 23 de março, para injetar dinheiro no mercado através dos grandes bancos. O valor soma R$ 1,216 trilhão, equivalente a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O Itaú Unibanco, junto com Bradesco e companhia, emprestará este dinheiro a juros de 3,5% ao ano, podendo auferir lucros no valor de aproximadamente R$ 42 bilhões. O Bradesco está emprestando R$ 20 bilhões por dia, dez vezes mais que antes da crise do coronavírus. Imaginem quanto vão ganhar em cima da desgraça alheia.

Além disso, todo ano, o governo paga cerca de R$ 1 trilhão de juros, amortização e rolagem da dívida pública. É o dinheiro do povo indo para os cofres de meia dúzia de grandes banqueiros nacionais e internacionais. A dívida pública (interna e externa) do país era R$ 300 bilhões em 1994, pagamos R$ 4,7 trilhões em duas décadas e a dívida saltou para R$ 6 trilhões em 2019. Essa dívida já foi paga cerca de 16 vezes o seu valor inicial e não para de crescer!

Enquanto Bolsonaro investiu R$ 114 bilhões na saúde em 2019, repassou dez vezes mais aos grandes bancos.

É TUDO CAMBALACHO

Veja mais sobre a hipocrisia da suposta doação do Itaú Unibanco

– A “doação” foi realizada para a Fundação Itaú Unibanco, gerida por ex-gestores do próprio banco.

– O dinheiro será manejado por grandes empresários da rede privada da saúde, que faturou R$ 147 bilhões em 2018, mais que toda a indústria metalúrgica e siderúrgica do Brasil segundo a revista Exame.

– Só os rendimentos desse R$ 1 bilhão serão usados, pois essa doação será manejada por um fundo filantrópico.

– No final, boa parte dessa grana vai para campanhas publicitárias.

LUCRO ACIMA DA VIDA

A exploração dos bancários

Esse dinheiro também saiu da superexploração dos funcionários do Itaú Unibanco. Em 2019, o banco tinha 100 mil funcionários. Cada funcionário rendeu ao Itaú a quantia de R$ 918.293,72 e custou ao banco R$ 249.139,48. Assim, o Itaú lucrou R$ 669.154,24 com cada funcionário segundo dados do Anuário Estatístico do ILAESE 2019.

Mesmo com todo esse lucro, o Itaú Unibanco demitiu 5.454 funcionários em 2019 e fechou 436 agências no mesmo ano.

O Itaú foi obrigado pela Justiça a fechar as agências no Maranhão, uma vez que não estava oferecendo nem álcool gel aos clientes e funcionários. “É inadmissível que o maior banco privado do Brasil, por pura ganância, se recuse a fornecer materiais básicos para a proteção dos seus funcionários e clientes, ignorando, inclusive, decisões judiciais”, diz Gerlane Pimenta, do Sindicato dos Bancários do Maranhão.

VOCÊ É EXPLORADO

Quem produz a riqueza é o trabalhador

Observe o gráfico. Ele representa toda a riqueza produzida pela classe trabalhadora brasileira em 2018. A maior parte da pizza foi distribuída para banqueiros (22,59% da riqueza), empresários (21,67%) e governo (34,37%). Os trabalhadores, que produziram tudo, ficaram com apenas 21,35%.

Os banqueiros são meia dúzia de magnatas, mas ficam com um quarto da pizza mesmo sem ter feito nada, só parasitando a economia.

Os grandes bancos internacionais dominam 57% do sistema financeiro brasileiro. Mais da metade das ações do Itaú estão nas mãos de acionistas estrangeiros. O Bradesco tem 23% de acionistas estrangeiros e o Banco do Brasil vendeu 30% das suas ações em bolsas de valores (autorizado por Lula).

Por isso, o Black Rock, maior fundo de investimentos do mundo (ligado aos bancos Barclays e Merrill Lynch), é grande acionista da Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Light, CEMIG, AES, PDG, Cyrela, MRV, Duratex, Telefonica, Vivo, Contax, Telemar, BR Foods, Embraer, Souza Cruz etc.

Causa mais indignação o fato de os banqueiros estarem à frente de uma campanha de solidariedade dando uma de “bonzinhos” enquanto cobram os juros mais altos do planeta.

 

NÃO QUEREMOS ESMOLAS

A burguesia está com medo de uma revolução do povo

Essa campanha não quer só mostrar como os burgueses são supostamente solidários com os pobres. Também quer fazer um colchão social para evitar que uma revolução possa explodir nas periferias.

A burguesia teme também que seja instituído um imposto sobre as grandes fortunas. Os 20 maiores bilionários brasileiros detêm uma fortuna avaliada em R$ 600 bilhões. Portanto, esses R$ 2,3 bilhões “doados” representam apenas 0,3% da sua riqueza acumulada. Mas essa taxação não é suficiente, como dizem o PT e o PSOL, enganando o povo. Aliás, o PT ficou anos no poder e não taxou em nem um centavo as grandes fortunas. Para acabar com a farra dos banqueiros é preciso defender a estatização dos bancos e do sistema financeiro.

Para não dizer que falamos apenas do Itaú Unibanco, na lista de “doadores” está a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), produtora de nióbio, campeã em exploração dos seus trabalhadores. A Vale também é uma “doadora”, empresa criminosa responsável pela morte de mais de 300 trabalhadores em Brumadinho. Na pandemia, a Vale mantém seus 55 mil funcionários trabalhando nas minas, apesar de já haver infectados e um operário morto por coronavírus em Carajás (PA). A mineração não é um serviço essencial que justifique que siga funcionando.

Por tudo isso, é indignante ver essas empresas e bancos que têm lucros bilionários a cada ano, arrancados da superexploração do trabalhador e da destruição da natureza, passarem-se por empresas preocupadas com o Brasil e o seu povo.

Se inimigos de classe estão com medo das explosões sociais, ou seja, da revolução violenta, nossa tarefa central é discutir com os trabalhadores a necessidade dessa revolução e não deixar enganar-se por uns trocados que os magnatas jogam aos pobres de cima da sua quarentena bilionária.