Presidente chama grandes empresários para compor áreas prioritárias, enquanto ministros petistas mantém política econômica de FHC e defendem reformas.

Não é preciso fazer uma profunda análise sobre os planos do governo Lula para se chegar à conclusão de que este dará continuidade aos planos neoliberais. Basta observar a composição do ministério para verificar que o governo do PT não cogita nem em sonho romper com os planos econômicos impostos pelo FMI e os contratos com o mercado financeiro internacional.
A área fundamental do governo é a econômica: é ali que se decide, em última instância, se a prioridade é o capital ou o trabalho. Dois dos ministros escolhidos por Lula – Luiz Fernando Furlan, no Desenvolvimento, e Roberto Rodrigues, na Agricultura – representam claramente os interesses da burguesia industrial, comercial e fundiária. Será difícil entender que tipo de “desenvolvimento” será proposto ao país pelo vice-presidente da Fiesp, que representou diversas vezes o empresariado brasileiro em Davos. Ou conciliar, por exemplo, uma proposta de reforma agrária com um ministro da Agricultura que defende a propriedade dos latifundiários e declara abertamente que é preciso reprimir as ocupações de terra.
Mas mesmo os ministros petistas têm um discurso e uma prática muito diferentes do que se esperaria daqueles que se diziam contrários aos planos neoliberais. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, já deixou claro que a subserviência aos ditames do FMI vai continuar: o Brasil vai cumprir as metas estabelecidas pelos bancos internacionais, “honrar” seus compromissos com os credores externos, controlar a inflação a qualquer custo, ou seja, através da alta dos juros e do arrocho dos salários. Sendo assim, de que adiantam as supostas “boas intenções” dos ministros da área social, se a maior parte da riqueza no país será voltada ao pagamento da dívida externa e interna?
Ainda no campo dos ataques aos trabalhadores, coube a Ricardo Berzoini, ministro da Previdência Social, a tarefa de negociar uma proposta de reforma constitucional semelhante à de FHC. Também o ministro do Trabalho, Jacques Wagner, esqueceu o passado de sindicalista e disse a que veio. Através do pacto social, quer impor as reformas trabalhistas que FHC não conseguiu implementar: fim da multa por demissão sem justa causa, negociação das férias e 13º salário, desregulamentação dos sindicatos.
É preciso ir além das aparências: ao contrário do que afirma a grande imprensa, o “time” de Lula não tem contradições. As trapalhadas dos ministros na primeira semana tratam-se apenas de falta de entrosamento. Desde já, eles estão jogando de forma coesa contra os trabalhadores.
Post author Luiza Castelli,
da Redação
Publication Date