Greve de bancários

Categoria não aceita proposta rebaixada e se choca com direção governistaA despeito dos lucros astronômicos que os bancos vem tendo no governo Lula, os bancários amargam defasagem salarial e precarização cada vez maior de suas condições de trabalho, com demissões e o avanço das terceirizações.

A proposta da Federação Nacional dos Bancos, a Fenaban, foi um reajuste de apenas 8,5%, e a CNB, a Confederação Nacional dos Bancários, filiada à CUT, aceitou. A base bancária, porém, não engoliu essa migalha, passou por cima de sua direção e partiu para a greve pelo reajuste de 25%, em uma espetacular rebelião de base.

Na assembléia realizada em São Paulo, no dia 14, a diretoria do sindicato, da Articulação Bancária, foi massivamente vaiada por defender a proposta ridícula dos banqueiros. “Eu, eu, eu, o sindicato se vendeu”, entoaram milhares de trabalhadores presentes. Quando algum diretor falava, os bancários davam as costas. Através da proposta de Dirceu Travesso, militante do PSTU e da Oposição Bancária, a grande maioria dos mais de 2 mil presentes rechaçou a proposta dos banqueiros e aprovou a greve por tempo indeterminado.

No Rio de Janeiro, aconteceu outra rebelião de base. A diretoria do sindicato, também da Articulação, sabendo que não conseguiria aprovar a proposta, já entrou na assembléia defendendo a rejeição, mas propondo adiar a greve para o dia 21. A oposição, tendo a frente Cyro Garcia, também militante do PSTU, defendeu a greve por tempo indeterminado de imediato, que foi aprovada também por ampla maioria.

O movimento de greve foi se impondo no restante do país. Até o fechamento desta edição, bancários de 18 capitais estavam em greve. Durante a semana, o PSTU colocou sua campanha na TV a serviço da mobilização dos bancários, conclamando a categoria à luta. A diretoria do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo, diante da tremenda derrota imposta pela base, acusou o movimento de ser “causado pelo PSTU”. A verdade é que os bancários já estão cansados de arrocho salarial e sindicatos governistas.

Lucros exorbitantesO lucro do Bradesco aumentou quase 22% em relação ao ano passado. O lucro do Itaú cresceu 22,4% e o do Unibanco, 18,3%. E, apesar do que afirmam a imprensa e a direção dos sindicatos, a reivindicação da categoria, de 25% de reajuste, não se refere a reposição salarial e aumento real, mas tão somente reposição das perdas. Desde o período do Plano Real, os trabalhadores dos bancos privados acumulam perdas que atingem 20,5% dos salários. Os funcionários dos bancos públicos, por sua vez, sofrem com defasagens de mais de 100%. Os bancários do Banco do Brasil precisam de 130% para repor os 65% de perdas, enquanto os da Caixa Econômica precisam de 110%.

Oposição impulsiona greve em todo país

O Movimento Nacional – Oposição Bancária, empenhada na construção da Conlutas, desde o início rechaçou o acordo rebaixado firmado entre CNB/CUT e banqueiros, defendendo a necessidade da greve. Apesar da repressão dos bancos, que vem impedindo sistematicamente a realização de piquetes, o movimento toma força e cresce no país inteiro. A máscara governista da direção cai, enquanto os bancários percebem a necessidade de construir uma nova direção de luta para a categoria.

Enquanto fechávamos esta edição, a Fenaban articulava, com a direção da CNB/CUT mais uma proposta rebaixada. As direções governistas tentam, desta forma, reverter a tremenda derrota que as bases lhe impuseram. Os bancários devem estar alertas na defesa de seu movimento, contra os banqueiros e as novas direções pelegas.
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