Os “partidos anticapitalistas” (como o brasileiro P-SOL), os que abandonaram o trotskismo e a estratégia revolucionária (como a Liga Comunista Revolucionária francesa) ou os stalinistas “reciclados” (como a Refundação Comunista da Itália) são expoentes do giro oportunista de grande parte da esquerda mundial (incluindo muitas organizações que se reivindicavam do marxismo revolucionário). Outros exemplos são o MAS boliviano de Evo Morales, das direções da CONAIE equatoriana ou da maioria da esquerda argentina, que não colocaram a tomada do poder pela classe operária como tarefa concreta e possível, nos processos revolucionários em seus países. Ao contrário, com distintas variantes, ajudaram as burguesias a salvar e reconstruir seus regimes e governos. No Brasil, a maioria da esquerda apoiou o governo de Lula. No Uruguai, os ex-guerrilheiros tupamaros são parte essencial do governo de Tabaré Vázquez, apesar de seu claro conteúdo pró-imperialista.
A fundamentação ideológica dessas capitulações são as definições feitas depois da restauração capitalista:

A “época aberta com a revolução bolchevique” havia terminado; o imperialismo é muito forte e não pode ser derrotado; a tomada do poder e a revolução socialista nacional (muito menos mundial) não estão colocadas na ordem do dia; por isso, a única tarefa possível para o movimento operário e a esquerda é “aprofundar a democracia” e tentar “humanizar o capitalismo”; portanto, é preciso construir partidos de esquerda que agrupem reformistas e revolucionários e conquistem “espaço político” (votos, parlamentares, sindicatos) no regime democrático burguês.
A LIT-QI foi um pólo de resistência a esse vendaval oportunista: atuamos como o “fator consciente” de uma série de setores que resistiram e lutaram contra esse vendaval.

No entanto, não ficamos imunes a esse processo oportunista. Pelo contrário, nossa principal seção, o MAS argentino, teve um curso cada vez mais eleitoralista e cometeu graves erros oportunistas em sua política diante da sublevação popular conhecida como “rosariazo” (1989) e, antes, perante a ocupação do regimento de La Tablada por parte de um grupo guerrilheiro (1988). Ao não serem corrigidos, esses desvios oportunistas provocaram a divisão do MAS em 1992 e, depois, a sua destruição. Um processo que levou, de fato, à destruição da LIT-QI.

Por isso, agora, a estamos reconstruindo. Uma parte muito importante desse processo de reconstrução foi a defesa da herança teórico-programática do marxismo, o leninismo e o trotskismo. Sem essa defesa, não poderíamos agora encarar as novas batalhas que temos pela frente.

Nesse marco, uma questão-chave é o critério com que estamos reconstruindo a LIT-QI nesta etapa da luta de classes. Queremos construir partidos revolucionários bolcheviques com influência política de massas para tomar o poder e implantar a ditadura revolucionária do proletariado. Reafirmamos as palavras de Lenin: “fora do poder, tudo é ilusão”. No mesmo sentido, dizemos que fora do partido revolucionário bolchevique tudo é ilusório. Podemos ter milhares de militantes, milhões de votos, dezenas de parlamentares e dirigir sindicatos, mas se, em vez de um partido revolucionário, temos um partido centrista, não temos nada.

O PSTU e todos os partidos da LIT-QI sofreram pressões políticas oportunistas e desvios mencheviques sobre a concepção de partido. Em um partido menchevique, cada um faz o que quer e não o que resolve o organismo partidário. Temos que construir partidos de militantes baseados no funcionamento dos organismos, nas suas resoluções. Queremos construir partidos disciplinados e aguerridos, fortemente inseridos na classe operária, para impulsionar suas lutas. Finalmente, e este é o outro critério central, queremos construir nossos partidos como parte de uma organização internacional.

Por isso, nossa tarefa é reconstruir a LIT-QI como uma ferramenta para a reconstrução da Quarta Internacional. Não nos consideramos já “a IV Internacional reconstruída” ou “refundada”, como dizem de si mesmos uma série de setores trotskistas. Cremos e batalhamos pela reconstrução da IV e vemos a LIT como uma ferramenta para esse objetivo.

Queremos ser claros: concordamos com Trotsky: quando afirmava que “é impossível a construção de um partido revolucionário por fora de uma organização internacional”. Todas as tentativas nesse sentido fracassaram. Uma Internacional, por mais debilitada que seja, será sempre superior a um partido nacional que, isolado em seu país, estará submetido às pressões da burguesia, do regime e das burocracias nacionais. De um partido nacional isolado, é impossível fazer uma análise correta da situação mundial e fixar as tarefas internacionais. Até a discussão sobre a situação de um país e a política nacional de um partido enriquece-se enormemente quando é feita por uma organização internacional, já que é analisada como parte do conjunto da realidade e da luta de classes mundial.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (www.litci.org)
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