Os mais velhos devem se lembrar que o título acima é uma referência a um famoso programa humorístico exibido na TV brasileira entre os anos 70 e 80. Recheado de personagens impagáveis – como “primo rico” e o “primo pobre” e o casal Fernandinho e Ofélia – e situações absurdas, o humorístico e as suas muitas trapalhadas, hoje, é quase que uma metáfora involuntária para a situação de muita gente ancorada no governo Lula.

Dentre os candidatos mais cotados para ter um quadro fixo numa nova versão do programa, um certamente teria vaga cativa: o, até o momento, ainda muito poderoso ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Um papel que lhe cai ainda melhor depois de uma semana em que sua “disputa” com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhou novos capítulos; em que o presidente o comparou ao jogador Ronaldinho Gaúcho e em que o velho bastião do conservadorismo nacional, Delfim Neto, o comparou a um mastro de circo (vide ao lado).

Uma situação que, contudo, ao contrário do programa lembrado, não tem nada de engraçado. Por trás do circo armado pelo governo, o que se esconde é uma disputa de poder e projetos econômicos com os quais os trabalhadores só têm a perder. Só mesmo Palocci, Lula, os banqueiros e a corja de sempre devem estar rindo à toa.

Dize-me com quem andas…
Contando com o apoio explícito e descarado dos setores mais significativos do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e de amplas camadas da oposição burguesa no Congresso, Palocci procurou se utilizar da “crise” para se fortalecer ainda mais no cargo.

Jogando nos bastidores e atuando nas sombras, como é de seu feitio, o ministro incentivou a divulgação de notícias constantes sobre a sua própria saída, unicamente com o objetivo de ganhar manifestações públicas de apoio. E elas não faltaram. De todos os lados as vozes “fica Palocci” ecoaram. Além do próprio Lula, socorreram o ministro velhas raposas como ACM, Tasso Jereissati e Fernando Henrique Cardoso. Este último conclamou o PSDB a assumir a “responsabilidade com política econômica”.

Acordo
Para tentar por fim à discórdia entre Dilma e Palocci, Lula balançou no acordo no qual estabelecia que o superávit primário deste ano – aquele dinheiro que é retirado da saúde, educação, reforma agrária, salários dos servidores etc – seria de 5% do PIB. Depois falou em 4,25%, mas o fato é que o superávit acumulado já é de 5,9% do PIB. Não se trata de questionar as bases da atual política econômica. Entre eles há mais acordos do que diferenças. Todos querem pagar os juros da dívida religiosamente em dia e dão de ombros para a crescente miséria da população.

Todavia, o acordão entre os ministros segue balançando. Palocci continua recebendo golpes duros com divulgações de mais escândalos de corrupção, envolvendo seus antigos assessores, e com a divulgação de que o governo poderá atingir a meta de 3% de crescimento econômico. A tendência é que o resultado do PIB no terceiro semestre seja negativo. Enquanto isso, na semana passada, a pesquisa CNT/Sensus mostrou que a aprovação de Lula atingiu patamar preocupante para o Planalto: está em 46,7%. Tecnicamente empatado com o índice de desaprovação, que é de 44,2%. De olho nas eleições, o ministro vai ter que agüentar ainda as pressões de Lula para liberar algumas migalhas do orçamento. Assim o presidente petista pretende comprar aliados (dos corruptos PMDB, PP e PTB) para a formar futuras alianças eleitorais.

O cai não cai de Zé Dirceu
A novela sobre a cassação do mandato de José Dirceu parece estar longe do fim. Mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal entrou em ação impedindo o avanço do processo contra o deputado no Congresso Nacional. A votação entre os ministros do STF sobre o processo de cassação de Dirceu empatou (5 votos contra e 5 votos a favor). A decisão final deverá ser tomada no dia 30 de novembro. O deputado petista, coordenador dos esquemas de corrupção do governo do PT, utilizou-se de toda sua influência no Supremo para provocar esse resultado. E essa influência não é pouca. No período em que esteve à frente da Casa Civil, passaram pelo gabinete de Dirceu várias nomeações de ministros do STF. Enquanto várias pessoas pobres, e na sua maioria negras, apodrecem na cadeia por terem praticado pequenos furtos, realizados muitas vezes para matar a fome, a “Justiça” dos ricos dá uma mãozinha para livrar a cara do deputado corrupto.

Com toda essa enrolação, Zé Dirceu ganha tempo para fazer mais articulações políticas, organizar atos em sua defesa e, hipótese que de forma alguma pode ser descartada, poderá se livrar da cassação neste ano. Assim, ele aposta suas fichas nas negociações eleitorais do ano que vem.

A decisão do STF provocou hipócritas declarações de indignação de parlamentares do Congresso do mensalão. Fala-se até de “conflito entre poderes”. Pura bobagem. Congresso, Justiça e a Presidência da República têm tudo a ver com a corrupção. São podres instituições a serviço da democracia dos ricos e ladrões desse país.
Contra as instituições corruptas da democracia e os partidos do Congresso do mensalão, o PSTU chama o Fora Todos.

Um por todos, todos por um

A vontade com a qual a elite brasileira, inclusive a mais conservadora, sustenta o ministro Palocci é digna de um épico. Basta insinuar a saída do ministro, que gente com ficha corrida extensíssima de serviços prestados ao Capital e ao Fundo Monetário Internacional saem furiosos de suas tocas, dispostos a proteger o filhote Palocci com unhas e dentes:

“Já se sair; decerto sairá a sua equipe, nela incluído o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Acabará então o que resta do governo do presidente que a rigor só foi responsável por uma única política – a de promover, irresponsavelmente, dissensões públicas entre os seus, para, diante delas, posar de líder” (Editorial do jornal O Estado de S. Paulo)

“Ainda bem que, diante da reação do Congresso, o presidente recuou da fritura de Palocci. Lula não poupa ninguém. Todos os que o ajudam acabam humilhados e/ou demitidos” (Antonio Carlos Magalhães)

“O ministro Palocci é o pau do circo. Se tirar o pau do circo, a lona
vai cair mesmo”(Delfim Netto, PP-SP)

Post author Wilson H. da Silva e Jeferson Choma, da redação
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