Cena do filme
Reprodução

O cenário é a Zona da Mata Pernambucana,onde impera o latifúndio da monocultura canavieira,dominada pelo usineiros (os novos “Santos” de Lula) e seus descendentes. Os personagens de Cláudio Assis transitam por esta estrutura de classes pervertida, em que, para uns, tudo se permite e, para a maioria, nada resta. Aí temos os trabalhadores rurais da cana-de-açúcar, semi-escravizados; as “raparigas” de beira de estrada e uma jovem de treze anos explorada e prostituída pelo próprio pai, um pequeno agricultor que vê a cana da Usina à beira de sua pequena propriedade engolida pelo latifúndio canavieiro.

Por outro lado, os que tentam preservar a cultura do Maracatu
rural, que o autor deixa claro que já não é tão apreciado pela população do “Baixio”, são obrigados a ir para Recife,onde turistas poderão vê-los e admirá-los como uma espécie de folclore em extinção. Aliás o grupo é interpretado pelos verdadeiros artistas de Nazaré da Mata,berço desse gênero cultural em Pernambuco.

Os que tudo podem
No “Baixio”, a bestialidade atinge a todos. Sem rodeios, o diretor nos mostra a causa e a conseqüência para exploradores e explorados que, como sabemos, são bem diferentes.

Os personagens interpretados por Caio Blatt e Mateus Natchergale, dentro dum cinema em ruínas, enquanto assistem a filmes pornográficos, planejam suas “aventuras”. Neste momento, aparecem as cenas mais fortes: a Besta está solta. Como eles são “os que tudo podem”, tudo fazem. Violentam, atropelam, espancam e matam.

“Baixio” não deixa de ser um microcosmo do mundo capitalista onde a decadência do sistema transforma (ou deforma) as pessoas. Como em seu primeiro filme de projeção
nacional, Amarelo Manga, em que o mesmo diretor trata da realidade urbana do Recife, de seu centro decadente e das conseqüências que seus personagens sofrem do meio em que vivem, em “Baixio”, o cenário é outro, mas a idéia nos parece a mesma. Se você não muda o meio, é ele que muda você.

Em recente entrevista, Assis disse que quis descrever um lugar onde “as pessoas começam sendo nada e terminam sendo ninguém”. Para os que tudo podem, essa realidade da “Besta” parece necessária. Já para os trabalhadores explorados, o que é necessário é não ser engolido pela Besta, criada decadência capitalista, que, na cidade ou no meio rural, transforma tudo num “Baixio de Bestas”.

FICHA TÉCNICA:
Título Original: Baixio das Bestas
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 80 minutos
Ano de Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção: Cláudio Assis
Montagem: Karen Harley
Produção: Júlia Moraes e Cláudio Assis
Música: Pupillo
Fotografia: Walter Carvalho
Direção de Arte: Renata Pinheiro
Figurino: Joana Gatis
Elenco: Mariah Teixeira (Auxiliadora); Fernando Teixeira (Seu Heitor); Caio Blat (Cícero); Matheus Nachtergaele (Everardo); Dira Paes (Bela); Marcélia Cartaxo (Ceiça); Hermila Guedes (Dora); Conceição Camarotti (Dona Margarida); João Ferreira (Mestre Mário); Irandhir Santos (Maninho); China (Cilinho); Samuel Vieira (Esdras).

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