Charge do jornal El Imparcial, do México, mostra o fantasma da guerra do Vietnã
Dario Castillejos

Logo após de anunciada a derrota eleitoral dos republicanos nas eleições para a Câmara de Deputados, o “todo poderoso” secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, anunciou sua renúncia. Rumsfeld foi um dos principais símbolos da estratégia da invasão do Iraque. Nos últimos dias ele sofreu pressões para deixar o cargo, inclusive de autoridades e especialistas militares. Para substituí-lo, Bush nomeou Robert Gates, ex-agente e diretor da CIA.

Essa é a principal baixa no governo George W. Bush depois das eleições legislativas que deram ao Partido Democrata a maioria na Câmara. Segundo os últimos números, os democratas conquistaram 228 das 435 cadeiras da Câmara, suficiente para obter a liderança. A tendência é que ainda obtenham mais quatro vagas, o que lhes daria um total de 232 assentos. Já os republicanos, que possuíam 229 cadeiras, obtiveram apenas 191.

A disputa pelo controle do Senado continua acirrada. Para obter a maioria e infligir uma derrota ainda maior aos republicanos, os democratas precisam ganhar apenas a vaga ao Senado do estado da Virginia. Com mais de 99% das urnas do estado apuradas até o momento, o democrata Jim Webb mantém uma margem mínima de 6.700 votos sobre seu opositor, o republicano George Allen.

Areia movediça iraquiana
As eleições norte-americanas assumiram um caráter plebiscitário sobre o governo Bush e sua guerra suja no Iraque. Dia após dia a guerra torna-se cada vez mais impopular nos EUA. Até agora cerca de 2.800 soldados ianques foram mortos. Apenas em outubro, mais de 100 soldados morreram, vítimas do aumento da resistência iraquiana contra a ocupação.

A derrota republicana se assemelha a outra obtida por eles no passado. Nos anos 80, na metade de seu segundo mandato, o presidente republicano Ronald Reagan amargou uma profunda derrota nas urnas e perdeu a maioria do Congresso norte-americano, depois que realizou uma intensa campanha a direita que comparava a luta ao Amargedon (a luta final do “bem contra o mal”, numa clara referência a disputa com a então União Soviética). Derrotado, Reagan foi obrigado a fazer acordos e concessões à oposição democrata para seguir até o fim de seu mandato.

Mas o caso de Bush é muito mais grave. A derrota não é apenas uma um duro golpe aos planos republicanos sobre a sucessão presidencial em 2009, mas também é um acontecimento extraordinário que aumenta as possibilidades da principal potência capitalista do planeta ser derrotada militarmente no Iraque. Uma derrota dos EUA no Iraque acalentaria a luta dos povos contra o imperialismo em todo mundo.

Por outro lado, a oposição burguesa dos democratas, fortalecida com as eleições, já demonstrou que não tem nenhuma política de retiradas das tropas do Iraque. Pelo contrário. Além de muitos de seus parlamentares terem votado a favor da guerra, criticam agora Bush por ele “não saber conduzir os EUA à vitória”.

Decadência
Sem ter uma maioria parlamentar no Congresso, o governo Bush veria definhar o seu poder real – a despeito da força institucional da posição que ocupa. Restaria a Bush apenas fazer um acordo com os democratas, como fez Reagan no passado, para que possa cumprir seu mandato até 20 de janeiro de 2009, com uma base parlamentar minoritária.

O senhor da guerra deixa uma “herança maldita” para qualquer um que ocupe a cadeira na Casa Branca, que vai conviver com uma série de crises, e estará numa posição muito mais frágil para resolvê-las. Com os olhos voltados para a cadeira presidencial, os democratas certamente não pretendem piorar a situação.

Vai ser difícil para os republicanos esquecerem o mês de novembro de 2006. As baixas infligidas pela resistência e a derrota eleitoral mostram a que ponto chegou a areia movediça em que os EUA se meteram.