No dia 6 de fevereiro, dias antes do carnaval, a periferia da capital baiana foi palco de uma ação do Batalhão Especial da PM (Rondesp) que resultou na morte de 12 jovens. O comando da PM buscou enquadrar a ação no estatuto do “auto de resistência”, uma herança macabra da ditadura militar que, na prática, legitima o extermínio protagonizado pelas forças policiais como resultado de uma “resistência à prisão”. Contudo, os parentes das vítimas constataram que os seus corpos tinham perfurações de bala nas costas e atrás da cabeça, características típicas de uma execução e que desmentem a versão policial.

A versão da PM logo recebeu o apoio do governador do Estado, Rui Costa (PT), que deu uma sádica declaração na qual comparou os policiais com jogadores de futebol: “É como um artilheiro em frente a um gol, que tem que decidir em alguns segundos como é para colocar a bola para fazer um gol”. A declaração do governador petista, por mais absurda que pareça, está em consonância com o que tem sido a política de segurança pública implementada pelo PT na Bahia.

Segundo o Mapa da Violência, no período de 2002 a 2012, o número de homicídios na Bahia saltou de 1.734 para 5.936, uma variação de 221,6% que resulta numa taxa de 41,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Sob os dois mandatos do ex-governador Jaques Wagner (PT), a polícia baiana se tornou uma das que mais mata no Brasil, e os jovens negros são as maiores vítimas tendo até 3,5 vezes mais chances de ser assassinados que um branco.

Na prática, o PT assumiu o programa da direita e, ao invés de combater as injustiças sociais e a desigualdade econômica, raízes mais profundas da violência, opta por se apoiar na força repressora da polícia. Criminaliza a pobreza e trata o povo preto da periferia como inimigo de uma guerra na qual o número de vítimas só cresce a cada dia. A despeito da inexistência da pena de morte no Código Penal brasileiro, os policiais da Rondesp agiram no bairro Cabula como promotores, juízes e carrascos de um tribunal de rua que só existe porque tem o consentimento dos governos.


Foto: Ponte Jornalismo

Nossa militância esteve presente no ato em homenagem às vítimas da chacina e também se fará presente na audiência pública convocada pela OAB para discutir o caso. O PSTU repudia mais essa ação criminosa da polícia e nos juntamos à exigência feita pela Anistia internacional de que se faça uma investigação completa, rápida e imparcial sobre os assassinatos, além da garantia de proteção às testemunhas contra violência, ameaças e qualquer forma de intimidação.

A postura do governador petista exige uma resposta dos movimentos sociais e demais organizações políticas. Para grandes organizações, como a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e a União de Negros pela Igualdade (Unegro), majoritárias no movimento negro baiano, não há outra alternativa a não ser a ruptura com o governo de Rui Costa.

É preciso fortalecer a discussão e a luta pelo fim dos autos de resistência, pela desmilitarização da PM, e pela criação de uma polícia civil unificada controlada pelos trabalhadores. O movimento negro baiano deve mostrar sua força, pois já passou da hora de se rebelar contra a política de segurança pública aplicada pelo PT.

Publicado no Opinião Socialista 492