Após o breve momento de euforia vivido pelos mercados financeiros ante o anúncio do pacote trilionário dos países europeus e a liberação da primeira parcela do plano Bush de salvação dos banqueiros, a dura realidade voltou a se abater sobre as bolsas. A divulgação dos claros sinais de recessão provocou nova onda de quedas históricas nos mercados nesse último dia 15.

O índice Dow Jones da bolsa de Nova Iorque fechou o dia com queda de 7,87%, maior baixa desde 1987. A Bovespa caiu 11% após ter sido obrigada a acionar o circuit breaker, mecanismo que paralisa o pregão sempre que o volume de ações cai 10%. A maior queda em dez anos. Foi a quinta vez esse ano que as negociações da bolsa tiveram de ser paralisadas. O Reino Unido despencou 7,16%, Alemanha 6,49% e a França, 6,82%.

Recessão
A nova onda de pânico foi deflagrada após o anúncio de sinais de recessão nos EUA, Ásia e Europa. Nos EUA, o Departamento de Comércio revelou redução de 1,2% nas vendas em setembro, cravando o terceiro mês consecutivo de queda, algo que não ocorria há 16 anos. Já nesse dia 16, quinta-feira o Fed (banco central norte-americano) revelou queda na produção industrial de 2,8% só em setembro. Analistas esperavam queda de 1,5%. No trimestre a queda é de 0,6%, acumulando baixa de 4,5% em 2008. O desemprego já é o maior desde 2003, com 159 mil postos de trabalho sendo extintos em setembro.

Já na Europa não é diferente e os dados revelam uma crise que não se limita às turbulências do mercado financeiro. No Reino Unido, o desemprego avançou aos níveis do ano 2000, ficando em 5,7% entre junho e agosto. Crescimento de 164 mil desempregados em relação aos meses anteriores. São 1,79 milhões de trabalhadores sem emprego.

Nem mesmo a China escapou da leva de más notícias, diminuindo a compra de cobre e outros minérios devido à redução de suas exportações. Para se ter uma idéia, só a China é responsável por 40% do consumo mundial de commodities, produtos primários básicos, como minérios.

Diante desse quadro de expectativa de uma grave recessão mundial, o Brasil não poderia ter ficado de fora. E não ficou. As ações da Petrobras e da Vale despencaram, respectivamente, 12% e 15%.

Brasil
Aos poucos vai se delineando os contornos da crise no Brasil. Férias coletivas na GM, Ford, Zona Franca de Manaus, encarecimento e restrição ao crédito. Sinais de que a crise não se restringe ao setor financeiro e que vai afetar a vida concreta dos trabalhadores.

Do início do ano até setembro, a inadimplência cresceu 7,6% em relação a 2007. Isso mostra que está mais difícil pagar as dívidas. O alto índice de endividamento das famílias deve agravar a inadimplência com o aprofundamento da crise.

Pesquisa realizada pela revista Exame revela que 70% das empresas brasileiras afirmam que já sentem os impactos da crise. Do total de empresas pesquisadas, 54% afirmam que irá cortar custos e diminuir suas atividades para enfrentar o período. Representa menos investimentos e empregos.

Já o governo Lula, ao mesmo tempo em que põe em prática uma ajuda bilionária aos bancos e exportadores, revê a expectativa de crescimento para 2009 e já fala em cancelar reajustes a servidores e novas contratações. “Vamos ajustar as despesas às receitas. Se necessário, podemos não implementar alguns programas, postergar despesas, como os aumentos salariais dos servidores, e até cancelar concursos”, afirmou o ministro do Planejamento Paulo Bernardo em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo desse dia 16.