Organização estima que cerca de 6 milhões de pessoas participaram da votaçãoO plebiscito popular mobilizou milhares de ativistas em todas as regiões do país, sendo um verdadeiro trabalho de base que fez avançar a massificação da discussão de temas como as privatizações, o pagamento da dívida pública e a reforma da Previdência. Segundo estimativas da campanha, cerca de 80 mil pessoas se envolveram na organização, e algo em torno de 35 a 40 mil urnas foram espalhadas em todos os estados.

As dificuldades na apuração e centralização dos votos refletem o tamanho da mobilização. Porém a previsão é de que o número de votos chegue a seis milhões. O resultado será entregue dia 25 de setembro em Brasília, quando haverá protestos pelo país.

Reação
Sofrendo o boicote sistemático da grande imprensa, o plebiscito conseguiu gerar grande repercussão. Nos últimos dias, jornais como a Folha e o Estado de S. Paulo publicaram artigos atacando a votação. A Vale do Rio Doce, por sua vez, acuada, partiu para uma grande ofensiva de marketing.

Reforma da Previdência
Mesmo com a apuração inconclusa, uma tendência que desponta é o grande rechaço à reforma da Previdência de Lula. As planilhas de votação mostram que o número de “não” na quarta questão, sobre a reforma, é maior do que nas demais perguntas. O fato evidencia o trabalho de conscientização contra a reforma, assim como a disposição de resistir. Mostra também o acerto de incluir a questão na cédula do plebiscito, contrariando a CUT que não queria desgastar o governo.

O comentário comum em praticamente todas as regiões é de que o resultado poderia ser bem maior caso houvesse mais pessoas envolvidas na organização, ou seja, caso a CUT estivesse realmente empenhada na realização do plebiscito e não em seu boicote, a votação seria mais expressiva.

Apuração em São Paulo
Em São Paulo, só a Conlutas já recebeu cerca de 37 mil votos. De acordo com a apuração parcial, 34.461 pessoas votaram “não” ao leilão da Vale, 34.139 disseram “não” ao pagamento da dívida, 35.344 foram contra o controle da energia elétrica pelo capital privado e 35.639 demonstraram seu repúdio à reforma da Previdência de Lula.

A CUT praticamente sumiu e não compareceu nem ao Grito dos Excluídos. Nos locais em que realizaram a votação, utilizaram métodos lamentáveis. Na cidade de Registro, a CUT apenas passava uma lista na rua, sem cédulas e muito menos urna. Em São José do Rio Preto, a central nem ao menos teve o trabalho de confeccionar uma cédula própria. Utilizaram a cédula com as quatro perguntas, mas orientavam os votantes a marcarem apenas a primeira questão.

Votação expressiva na Bahia
O Comitê baiano estima que até agora tenham chegado cerca de 50 mil votos. “O processo de votação foi bastante positivo, houve grande participação da população, e as pessoas participavam sabendo do que se tratava e mostravam bastante indignação”, conta Cecília Amaral, diretora da Associação dos Trabalhadores do IBGE (Assibge) e da organização do plebiscito. Na região, o plebiscito incorporou também a questão sobre a transposição do Rio São Francisco.

“As perguntas que tiveram uma maior resposta da população foram a questão sobre a transposição, o problema da energia elétrica e, principalmente, a reforma da Previdência”, afirma Cecília. “São problemas que afetam mais diretamente o povo”, opina.

A CUT, também na Bahia, teve uma participação medíocre. Os trabalhadores da Federação Única dos Petroleiros (FUP) de Alagoinha, base da central, chegaram a contribuir financeiramente para a impressão da cédula com as quatro perguntas. No entanto, a CUT recortou a cédula, deixando apenas a primeira questão.

Apesar do boicote, a votação foi um sucesso no estado. “Nosso e-mail ficava lotado e o telefone não parava de tocar, era gente de todos os lugares da Bahia ligando querendo ajudar na organização do plebiscito”, conta Cecília. “Tivéssemos mais pernas, teríamos conseguido muito mais votos”, lamenta.

Plebiscito mobiliza o Ceará
No estado, os votos devem chegar a 110 mil. Na capital votaram cerca de 30 mil pessoas. Já na reta final de votação, o plebiscito gerou uma forte mobilização. Em Fortaleza, a votação enfrentou a repressão da prefeitura petista. “A prefeitura do PT proibiu a votação nos terminais de ônibus, mas mesmo assim fomos lá e coletamos votos da população”, afirma Valdir Alves, militante do PSTU e da Conlutas.

“Se tivéssemos mais militantes teríamos recolhido ainda mais votos”, completa Valdir. Além da Conlutas, setores da igreja e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tiveram destaque. Já a CUT teve uma tímida aparição e, quando fez a votação com apenas uma pergunta, foi rechaçada pela população. “As pessoas viam nossa cédula com as quatro perguntas e, quando viam a urna da CUT, questionavam o por que deles fazerem a votação com apenas uma pergunta”, informa Valdir.
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