A região da Avenida Paulista foi palco de mais uma agressão homofóbica. O analista fiscal Marcos Paulo Villa, 32 anos, e seu companheiro, um coordenador financeiro da mesma idade, que preferiu não se identificar, foram atacados com socos e pontapés por dois covardes agressores em frente a um restaurante na Rua Fernando de Albuquerque, na região da Av. Paulista.

Este mais novo capítulo na lamentável sequência de “crimes de ódio” numa região até pouco considerada como “zona liberada” para a diversidade cultural e sexual, teve início quando o casal saiu em defesa de uma amiga que estava sendo assediada pelos agressores dentro de um bar.

Depois de saírem do local, o casal foi seguido e surpreendido por um violentíssimo ataque acompanhado por todo tipo de agressão verbal, como foi relatado por um deles: “Começaram a falar que a gente era viado, que a gente ia morrer, que não merecia viver”.

Enquanto Marcos Villa conseguiu se proteger, apesar de ter sido esmurrado na nuca, seu namorado foi derrubado no chão, desmaiou em função dos golpes e teve a perna fraturada em dois pontos: “Eu comecei a gritar. Levei um soco na boca e caí. Ele começou a me chutar, falando que eu tinha que morrer. Chutou minha cabeça. Eu desmaiei e não lembro de mais nada”.

Assim como muitos outros gays, lésbicas, travestis e transexuais (LGBT) que frenquentam a região, Marcos contou que ficou completamente perplexo com a situação, porque nunca achava que uma situação como esta poderia acontecer com ele e seu companheiro, principalmente, porque eles não “se encaixam no estereótipo”. Uma ilusão que, assim como a pretensa liberalidade da Augusta e região, há muito caiu por terrra, basta lembrar que, há menos de um mês, um pai teve sua orelha arrancada simplesmente porque foi “confundido” com um gay, por estar abraçado a seu filho.

Machismo
Trata-se também de um caso de machismo, no qual os dois agressores se sentem no direito de assediar uma mulher agressivamente, como se isso fosse natural. Acham que os seus interesses pessoais se sobrepõem à vontade daquela mulher (e de todas as mulheres), como se seu corpo fosse de sua propriedade.

São recorrentes os tristes casos de assédio às mulheres, o privilégio de se utilizar da posição de homem para humilhar uma mulher, quando essa não corresponde ao seu interesse. As mulheres passam por isso todos os dias e não apenas em ambientes de lazer, como clubes, festas e shows, mas também no transporte público, nos ônibus, trens e metrô.

Na hipocrisia descarada do machismo parece estranho e inadmissível que um homem defenda uma mulher nos seus direitos.

Chega de silêncio! Basta de homofobia!
A reação do casal deve ser saudada e utilizada como exemplo na luta contra esta nefasta onda de homofobia. Mesmo tendo que ocultar sua identidade (exatamente em função da homofobia que, certamente, poderia lhe custar o emprego e uma série de outros problemas), o companheiro de Marcos o tem acompanhado em todas as entrevistas e na exigência da punição de seus agressores.
Mesmo perplexo, o analista fiscal não só decidiu se “expor” publicamente como desafiou os homofóbicos que o agrediram a ter a mesma coragem e mostrarem seu rosto à sociedade. Coisa que, evidentemente, ninguém acredita que se concretize.

Mesmo assim, a postura adotada pelo casal é fundamental, primeiro, para alertar a sociedade para a gravíssima situação a que todos nós, que não nos enquadramos no padrão heterossexual, estamos expostos.

Segundo, porque é preciso mandar um claro recado para os grupos fascistas e suas “crias” na classe média: não nos calaremos! Mesmo com a omissão e descaso do governo, nos recusamos a nos esconder em “armários” e “guetos”. Sabemos que a impunidade é o que tem predominado nos quase dez casos denunciados neste ano na região e que nada garante que eles serão julgados ou condenados por seus crimes. Mas, ao contrário do que pretendem estes agressores, não recuaremos um centímetro no pouco espaço que conquistamos depois de tantos anos de luta.

E o governo com isso?
Assim como não devemos nos calar, também temos que ter a coragem de apontar todos os responsáveis por esta verdadeira barbárie. E no topo da lista está o governo Dilma.

Enquanto jovens apanham nas ruas, o governo rejeitou o projeto “Escola sem Homofobia” para salvar o corrupto Palocci. Já a “suposta” aliada do movimento LGBT, a senadora Marta Suplicy (PT) continua com suas negociatas com os fundamentalistas, que podem levar a que o PLC 122/06, que criminalizaria a homofobia, seja descaracterizado. Com isso, o ódio e o preconceito que os fundamentalistas disseminam em seus cultos, rádios e até em redes de televisão não serão criminalizados, assim como a violência decorrente deles.

O fato é que os obstáculos criados pelo governo e seus aliados têm impedido qualquer tipo de legislação que proteja os homossexuais, como existe no caso da proteção à mulher e contra o racismo. Isso no país que, há tempos, ocupa o lamentável posto de nação onde mais se mata LGBT: nada menos do que um a cada 36 horas.

É lamentável que temos que recordar que, hoje, são estas mulheres, Dilma e Marta, que exatamente em função de seu gênero deveriam ser mais “sensíveis” com a situação dos oprimidos, que estão negociando nossos direitos em troca de acordos espúrios com os setores mais reacionários da sociedade.

Punição imediata e exemplar para os agressores
É revoltante pensar que os agressores sintam-se à vontade para espancar quem bem entendam exatamente numa região na qual a “ilusão” de liberdade criou a sensação de segurança. Mas é ainda mais absurdo que o governo, mais do que não fazer nada, bloqueie as propostas que poderiam atenuar as situações de violência e opressão e, consequentemente, contribuam para que os agressores sigam impunes.

Nós, do PSTU, levamos nossa solidariedade aos agredidos e nos colocamos a disposição para ajudá-los no que for necessário. Exigimos a apuração de mais esta agressão e de todas as outras, e que os responsáveis sejam punidos. Algo que, no nosso entender, só será possível com a intensificação da organização e das ações de luta do movimento LGBT em estreita aliança com demais setores oprimidos, como negros e mulheres, e todos os que lutam por uma sociedade igualitária e realmente livre.