A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em elevar a taxa básica de juros vai significar o aumento da dívida pública. No último dia 16 o comitê, formado por diretores do Banco Central, determinou a elevação de meio ponto da taxa Selic, que chega agora a 11,75%. A taxa básica de juros determinada pelo Banco é o valor de referência para os títulos da dívida emitidos pelo país, determinando os juros cobrados em financiamentos, empréstimos, etc.

Segundo o secretário do Tesouro, Arno Augustin, a decisão do governo em elevar meio ponto da taxa representa um aumento de pelo menos R$ 2,9 bilhões na dívida pública nos próximos doze meses. O anúncio surpreendeu analistas do sistema financeiro, que esperavam aumento 0,25%. Foi a primeira vez que o Banco Central aumentou os juros desde maio de 2005.

Falso argumento
Em nota divulgada após o anúncio da decisão, o Comitê afirma que “movimento da taxa básica de juros irá contribuir para a diminuição tempestiva do risco que se configura para o cenário inflacionário e, como conseqüência, para reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado”. Ou seja, para o governo a alta nos juros se justifica pelo “aquecimento da economia” e a alta na demanda, que estaria se elevando acima da oferta, o que traria mais inflação. A alta nos juros seria uma espécie de freio na economia.

Para o Banco Central, um fator que estimularia a demanda e a inflação seria a tendência de queda do desemprego, o que provocaria, segundo o banco, uma pressão por aumento de salários, que se elevaria acima da produtividade causando inflação. No entanto, estudo do Ipea divulgado dois dias antes da reunião do Copom desmente esse argumento.

O Instituto revela que a indústria de transformação vem tendo aumento da produtividade nos últimos 12 meses e que o custo do trabalho diminui cada vez mais. “A indústria de transformação vem obtendo ganhos substanciais de produtividade, com crescimento acumulado em 12 meses da ordem de 4,5%, para o mês de janeiro. Concomitantemente, observa-se queda do custo unitário do trabalho de 1,2%”, revela a nota divulgada pelo Ipea. Ou seja, enquanto a produtividade da indústria aumenta, o custo do trabalho diminui.

O que o Banco Central também não diz é que boa parte da inflação registrada no último período é produto da alta nos alimentos. Esse fenômeno mundial é causado pelo aumento de áreas cultiváveis para a produção de biocombustíveis, assim como a especulação financeira realizada pelos grandes produtores. O aumento nos juros, portanto, não vai afetar a inflação.

A decisão do governo serve apenas para aumentar os lucros já exorbitantes dos investidores internacionais, atraídos pela maior taxa de juros do mundo.

Falsa Polarização
Diante do anúncio do aumento da taxa de juros, CUT e demais centrais atacaram a política de juros altos. A UNE chegou a realizar um protesto em frente ao Banco Central contra o aumento da taxa. Tudo isso, como se houvesse uma política econômica do Banco Central, diferente da política do governo Lula.

O governo, no entanto, não é só responsável pela indicação do presidente do BC, o ex-banqueiro do Bank Boston, Henrique Meirelles, como também mantém a entidade afinada com sua política recessiva. Recentemente, o governo anunciou um corte de quase R$ 20 bilhões no Orçamento aprovado no Congresso para 2008, o maior corte realizado sob o mandato de Lula. O aumento da dívida provocado pela elevação da Selic vai provocar um ajuste ainda maior.

Mais um recado do governo ao setor financeiro internacional em tempos de crise econômica e recessão no horizonte.