Policiais no oitavo dia de greve
ABr

O oitavo dia de greve da PM na Bahia começou tenso. O governo Dilma e o de Jaques Wagner, numa clara tentativa de intimidação. cercou a Assembléia Legislativa da Bahia (AL), onde se encontram acampados cerca de 350 grevistas e familiares. Com o fortalecimento do movimento, diante da intransigência e truculência do governo, cada vez mais se aponta uma saída violenta para o impasse.

A greve começou no dia 31 de janeiro com a paralisação parcial da PM. Os grevistas reivindicavam entre outras coisas incorporação de gratificações, o pagamento de um adicional de periculosidade e a anistia dos demitidos da greve de 2001. Desde então, o governo petista tem respondido da pior maneira possível.

Com medidas autoritárias e anti-sindicais o governador Wagner aumenta a cada dia a repressão ao movimento. A sede da Associação ASPRA foi fechada pela Justiça e foram expedidos mandados de prisão para 12 lideranças do movimento. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já fez um pedido público de reserva de vagas em presídios de segurança máxima para encaminhar os policiais rebelados na Bahia.

Através do Governo Federal foram enviados quase 3 mil soldados do Exército e da Força Nacional para cumprir função de policiamento nos bairros nobres e pontos turísticos da cidade e sufocar o movimento, como acontece hoje na AL. Na manhã dessa segunda-feira, familiares e policiais que se dirigiram à AL para prestar solidariedade e levar mantimentos aos ocupantes foram reprimidos pelas tropas presentes com balas de borracha. A apreensão é grande diante da intenção do governo de desocupar violentamente o local. Anteriormente a ordem de desocupação já havia sido dada ao Batalhão de Choque da PM-BA, que se recusou a cumprir a ordem.

Preocupa ao governo o exemplo de uma mobilização vitoriosa. O exemplo vitorioso dos policiais em greve pode ser seguido por outras categorias, como professores e servidores do estado. A intransigência e a truculência de Wagner busca infligir uma derrota ao movimento e garantir a tranqüilidade para os negócios da grande burguesia baiana. A presença da Força Nacional e do Exército na Bahia não é para proteger a população, mas os negócios da burguesia.

O movimento teve ampla repercussão internacional e jornais como Clarín (Argentina), El País (Espanha), Wall Street Journal e CNN (EUA) destacaram o movimento. A embaixada americana aconselhou os cidadãos americanos a “adiar viagens não essenciais a essas áreas até que as condições de segurança estejam estabilizadas”, isto em pleno verão e na véspera do carnaval. Para garantir a segurança da maior festa do mundo, será necessário todo o efetivo de 32 mil homens da polícia baiana num investimento de R$ 30 milhões. Dezenas de shows e eventos da milionária indústria do entretenimento já foram cancelados e os empresários vinculados ao carnaval pressionam por uma saída enérgica para a greve. Para o governador diante do carnaval e, a longo prazo, da realização da Copa e das Olimpíadas na Bahia, é mais do que preciso sufocar a greve da PM baiana de maneira exemplar.

Wagner: Não queremos um banho de sangue
Diante de tais fatos, no entanto, a greve ganhou força e adesão. Líderes das outras associações que representam os policiais militares disseram nesta segunda que se retiraram da negociação por conta da “intransigência do governo”. Eles alegam que foram traídos pelo governo e que perderam o controle da tropa. Policiais e bombeiros do RJ ameaçam antecipar a deflagração da sua greve caso “qualquer covardia” seja cometida contra os policiais baianos. Sites do governo da Bahia foram atacados e retirados de funcionamento em solidariedade ao movimento. Enquetes realizadas nos principais jornais apontam o apoio da população ao movimento.

A atual situação aponta para uma crise política no governo Wagner. PCdoB, CUT e PT vergonhosamente se apressaram a apoiar o governo e suas medidas. A CSP-Conlutas e a CTB, contraditoriamente dirigida pelo PCdoB, divulgaram notas de apoio à greve. O governo Dilma tem exercido o lamentável papel de suporte para a repressão e até agora não quis intermediar uma solução para o impasse causado por Wagner. É preciso ampliar a solidariedade aos ocupantes e grevistas. As centrais sindicais e movimentos sociais precisam apoiar o movimento convocando atos e mobilizações, sobretudo nas categorias que sofrem da falta de segurança nos locais de trabalho, como bancários, rodoviários e comerciários.

É determinante a luta contra a repressão neste momento. Não podemos admitir a prisão de nenhuma liderança do movimento policial. As demais associações de policiais precisam se somar decididamente à greve e forçar o recuo do governo estadual e federal em sua operação de repressão. Qualquer recuo neste momento pode significar uma luz verde para a invasão da Assembleia Legislativa pelo Exército causando um banho de sangue. Temos que exigir de Dilma que ela retire imediatamente as tropas do Exército e da Força Nacional. Os trabalhadores precisam derrotar o governo ou ele derrotará a greve da PM, causando um retrocesso para todos os movimentos sociais.

O PSTU tem declarado seu apoio a esta greve desde seu princípio, como fizemos em 2001. Naquele ano, tanto o PT como o PC do B apoiaram a greve dos policiais contra o governo carlista. Hoje eles mudaram de lado e são parte do governo de Wagner, ou seja, são cúmplices da repressão. Nós do PSTU estaremos ao lado dos policiais na luta contra a intransigência, o autoritarismo e a truculência do governo. Qualquer violência causada contra civis ou militares grevistas na operação de desocupação da AL é de inteira responsabilidade do governo Wagner.