Muitas famílias judias se orgulham por seus filhos servirem ao Exército de Israel, pois acreditam que estão defendendo a sua pátria e sua liberdade. Em Israel, a lei obriga todos a prestar serviço militar – as mulheres por dois anos, e os homens por três.

Recentemente, no entanto, três jovens viraram notícia por se recusarem a servir ao Exército sionista. Tamar Katz, Miya Tamarin e Omer Goldman, jovens mulheres de 19 anos, não concordam com a ocupação israelense em territórios palestinos. Agora, elas correm o risco de ir para a prisão por isso.

Nos últimos dois meses, elas já ficaram presas cinco semanas. Foram liberadas, convocadas de novo e, como se recusam a servir, voltam a ser presas.

“Faço isso para as pessoas ouvirem, pensarem, para o país saber que há gente que não concorda com o que o Exército está fazendo”, diz Tamar. “Não quero participar de uma organização que aponta armas contra civis de maneira indiscriminada”, conclui.

Omer se recusa pela terceira vez e deverá ser condenada a mais um período de 21 dias de prisão. Ela é filha de um ex-dirigente do Mossad, o serviço secreto israelense. Ela declarou: “Pai, perdoe-me, não vou lutar por seu Israel. Nós atacamos em nome da defesa. Usamos violência para prevenir violência, e isso só vai fazer a situação pior para todos”. “Viajei muitas vezes aos territórios ocupados e vi, com meus próprios olhos, o que o Exército israelense faz lá, são coisas com as quais eu não posso colaborar”, completa.

O mais importante é que não são somente elas. Estima-se que 28% dos rapazes e 44% das moças se recusaram a servir ao Exército em 2008. A maioria alega motivos religiosos, familiares ou de saúde, mas há aqueles que se recusam abertamente por razões políticas. Em 2005, foram 57 casos e, em 2007, 72.

Além dos jovens que se negam a prestar o serviço militar obrigatório, desde o início da segunda Intifada, mais de 500 soldados e oficiais da reserva se recusaram a servir por razões políticas.

Coragem para recusar
É preciso ter coragem para fazer o que estas três jovens estão fazendo. Elas, como outros que se recusaram a prestar serviço militar, são acusadas de traição e covardia. “Acho que nosso ato de recusar é um ato de responsabilidade social”, disse Omer, “espero que esse ato leve mais pessoas a questionarem a ocupação”.

O movimento de recusa ao serviço militar em Israel já vem de alguns anos. Surgiu no final da década de 1970, quando, por iniciativa individual, soldados se recusaram a servir nos territórios ocupados e, mais tarde, no Líbano. Em 1983, um grupo de jovens decidiu que não iria para o Líbano e criou a organização Yesh Gvul (Há Um Limite).

A organização apoiou os soldados que se recusavam a servir desde o início da repressão à Intifada, quando vários deles foram condenados à prisão. Até oficiais como o tenente pára-quedista David Zonshein, condecorado por bravura e com experiência de combate no Líbano e nas Colinas de Golã, decidiu não servir mais na Faixa de Gaza nem na Cisjordânia.

Revoltado com as humilhações impostas à população civil palestina, ele e seu grupo publicaram na imprensa um relato de prisões arbitrárias, destruição de casas e agressões contra idosos e crianças que afirmam ter presenciado. “Jurei que nunca mais vou entrar na casa de um civil palestino e humilhá-lo na frente de seus filhos”. Ele é um dos formadores do grupo Coragem para Recusar.

Conhecidos como refuseniks, numa alusão aos judeus soviéticos que lutavam pelo direito de emigrar para Israel, eles conseguiram atrair a ira da cúpula militar e dividir a sociedade israelense. Destes, pelo menos 140 já cumpriram pena de prisão por insubordinação.

A recusa ao serviço militar é realmente um golpe para o Estado de Israel, pois o serviço é necessário para sua sobrevivência. Israel é um enclave militar imperialista colocado no meio do território palestino. Um Estado militarista ocupante que tem nas forças armadas o pilar central da sua manutenção.

Mas o conflito sem fim entre Israel e os Palestinos e a descrença no futuro parecem ter destruído o mito militar entre os jovens, e há um crescente número de soldados que estão desertando.

Para o general aposentado Yaacov Amidror, “o exército está se desintegrando; num país como Israel isto é gravíssimo”.